O Boletim Macro do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), em sua edição de dezembro, destaca que a economia brasileira deve enfrentar desafios em 2024, com a desaceleração da agropecuária e crescimento mais lento dos serviços, o oposto do observado em 2022. O relatório aponta para um ritmo fraco, influenciado pela política monetária ainda apertada no cenário doméstico e pela desaceleração global em curso, informa o Valor.

O relatório alterou suas projeções para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), elevando as estimativas para 2023 e 2024 após a revisão da série histórica pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para este ano, a projeção passou de 2,7% para 2,9%, enquanto para 2024, foi revisada de 1,2% para 1,4%. O relatório destaca que o crescimento econômico foi impulsionado pelo desempenho extraordinário da agropecuária e pela produção de petróleo bruto, derivados de petróleo, gás e biodiesel.

No entanto, o boletim alerta para uma mudança no cenário, prevendo uma contração na agropecuária em 2024, especialmente devido a um recuo na produção de soja e milho. Isso impactará não apenas a atividade econômica, mas também a inflação de alimentos, reduzindo o poder de compra. O consumo das famílias, que foi impulsionado por aumentos de transferências de renda e melhor desempenho do mercado de trabalho, pode ser afetado.

A inflação e os juros também são abordados no relatório, com a economista Silvia Matos destacando que a inflação de alimentos está retornando – o que liga um alerta para o setor hoteleiro, e produção agropecuária menos favorável no próximo ano. O Boletim destaca o papel positivo do setor de commodities agrícolas e energéticas na arrecadação e na redução dos juros.

Cenário global

Ao analisar o cenário internacional e a política fiscal, o FGV Ibre aponta desafios significativos para 2024, considerando a incerteza global crescente e os desafios fiscais. O relatório destaca o papel produtivo de aprovar medidas fiscais. “O Congresso Nacional aprovou todo o pacote de medidas encaminhadas pelo governo por ocasião da elaboração do orçamento. Na reta final, foram aprovadas a MP 1.185, que tributava os incentivos fiscais de ICMS, e a reforma tributária. Anteriormente, o Congresso aprovara a tributação offshore e de fundos fechados”, lembra o economista Manoel Pires, ao afirmar que “é difícil lembrar de um primeiro ano de governo tão produtivo em matéria de política fiscal”.

Entre os riscos para o próximo ano, destaca-se o impacto das eleições municipais na condução das políticas econômicas e a possibilidade de leniência do mercado. “Em um contexto de cenário externo favorável, corremos o risco de ter o mercado mais leniente com a parte fiscal. O problema é caminharmos para um cenário fiscal pior do que poderíamos ter caso houvesse uma preocupação maior com as contas públicas”, alerta Matos. “Então, haverá várias rodadas de incerteza fiscal, o que atrapalhará a queda das taxas de juros”.

(*) Crédito da foto: joaogbjunior/Pixabay