Quando as atividades do setor hoteleiro voltaram a rodar, uma das preocupações dos gestores era a base comparativa de dados. Considerando que 2020 e 2021 foram períodos atípicos para o mercado como um todo, hotéis olhavam para trás com 2019 como seu maior espelho. Felizmente, a pandemia está ficando no retrovisor e, em 2023, as análises e previsões precisarão ser diferentes.

Após um ano de recuperação e transição, as comparações com 2019 provavelmente deixarão de fazer sentido até o final deste ano. De acordo com um conteúdo veiculado pelo CoStar, perante um mundo sem grandes restrições de viagens — exceto a China — a demanda hoteleira voltou a sorrir. Ainda que os deslocamentos domésticos sejam responsáveis pela maior parte da retomada, 2023 será marcado pelo aquecimento do turismo internacional, de grupos e eventos.

Pautado por dados e previsões, o setor hoteleiro precisa estar atento ao retorno à sazonalidade, com períodos de alta e baixa mais bem definidos do que nos últimos anos. O ritmo de recuperação varia de região para região, contudo, a demanda global por hotéis deve ser igual ou superior aos níveis pré-pandêmicos.

Redefinição de taxas

Durante os períodos mais agudos da pandemia, o mercado brasileiro teve o privilégio de acompanhar as mudanças de cenário em outros países para, em seguida, se antecipar. Já era esperado que, mais cedo ou mais tarde, a referência de 2019 sairia de cena. Dito isto, os indicadores deverão ser redefinidos.

O desempenho minguado na era do Covid-19 levou a um crescimento na demanda — o que estimulou o aumento da diária média. As tarifas nos empreendimentos ocidentais, por exemplo, enfrentaram inflação galopante, o que resultou na rápida recuperação dos valores.

No Brasil, a reconstrução do tarifário pode não ter sido tão simples assim, uma vez que a diária média segue como a prioridade dos hotéis tupiniquins. Já em Budapeste, os empreendimentos devem terminar 2022 com tarifas 38% acima do nível pré-pandemia. Embora as taxas na capital da Hungria diminuam nos próximos 12 meses, o declínio será modesto e o indicador permanecerá em média 30% superior a 2019.

É preciso lembrar que estamos próximo a uma recessão em 2023, onde a diária média pode cair devido a uma nova oferta ou desaceleração da indústria. Entretanto, espera-se que as taxas mais elevadas de hoje sejam mais rígidas. E quanto mais à frente de 2019 elas estiverem, menos útil o índice se torna.

Considerações de calendário

Ao contrário de 2020, 2021 e até mesmo 2022, 2023 promete ser um ano movimentado no segmento de grupos e eventos. E tal fator torna a comparação com 2019 ainda mais perigosa.

Nos EUA, as mudanças de calendário influenciaram consistentemente os índices até o segundo semestre de 2022. Tanto o Dia do Trabalho quanto o Halloween avançaram uma semana entre 2019 e 2022, impactando o índice de demanda mensal de agosto, setembro e outubro. No Reino Unido, dois feriados bancários únicos – o Platinum Jubilee Bank Holiday em junho e o Queen’s Funeral Bank Holiday em setembro – afetaram os indicadores desses meses.

Para combater esse cenário, as comparações ano a ano são cada vez mais usadas na previsão da demanda. Embora o índice de 2019 ainda seja considerado, especialmente em mercados onde a ocupação não atingiu os níveis pré-pandêmicos, mudar as visões para considerar as mudanças tradicionais ano a ano permite que os analistas incorporem transformações de longo prazo nas tendências de desempenho pós-Covid-19.

Ele também fornece maior granularidade na análise e previsão de desempenho no contexto das recessões dos EUA e da Europa esperadas para 2023, pois ajustes modestos no crescimento da demanda ano a ano podem enfatizar os impactos da contração econômica.

A melhoria contínua na demanda no setor hoteleiro significa que, para muitos mercados, as comparações ano a ano se tornarão novamente padrão em 2023. É provável que o primeiro trimestre de 2022, por exemplo, altamente afetado pela variante Ômicron, não ocupe mais o centro do palco. É provável que o índice continue sendo uma das muitas ferramentas dos analistas, mas sua importância diminuirá substancialmente ao longo de 2023.

(*) Crédito da foto: Pixabay