O desejo de um serviço mais exclusivo e privativo surge em meio à pandemia, que traz hóspedes mais desconfiados e que buscam uma experiência segura. Mas, mesmo antes da chegada do vírus, já se estabelecia um movimento no setor para garantir uma hospedagem mais reservada. E foi dessa necessidade que surgiu o modelo Casa Hotel.

O serviço traz como pilares a ideia de conforto e exclusividade. “A diferença do hotel comum é que ele é asséptico no sentido de não ter personalidade, customização. Por um lado, é positivo, pois o consumidor sabe exatamente o que vai encontrar. Mas é algo mais frio”, explica Arthur Igreja, especialista em inovação e tendências.

Apesar de algumas semelhanças, o modelo também não é o mesmo do utilizado pelo Airbnb, que consiste no aluguel de acomodações por meio de plataformas, e que com a pandemia, vem sofrendo queda nas locações. “O Airbnb, no outro extremo, tem uma personalidade, mas que não é a do usuário, o que é muito interessante, pois dá a oportunidade de viver a cena da cidade, do bairro e da família. Por outro lado, tem uma certa dose de surpresa envolvida. É ter as comodidades de um hotel com um toque muito mais pessoal”, complementa o especialista.

Ainda segundo Igreja, a garantia da qualidade extrema é o coração do negócio, mas, ao mesmo tempo, conseguir mostrar para quem está comprando essa proposta que o custo-benefício faz sentido ao invés da pessoa fazer isso por conta. “A oportunidade também está muito ligada ao conceito de consumir por um período de tempo, de compra compartilhada e entender quais espaços são mais desejados de frequentar. O conforto oferecido pelos resorts e hotéis podem ser incorporados nesse modelo”, adiciona.

Localizado em Trancoso, o Casa de Perainda adota o modelo desde 2016. E a proposta surgiu de forma inusitada, segundo o proprietário. “No princípio, a ideia era apenas comprar uma casa para morarmos. Mas compramos um imóvel cujos antigos proprietários alugavam quartos para amigos. A partir do momento em que assumimos a casa, existiam duas reservas agendadas para os próximos meses, que precisamos respeitar. Assim, recebemos os hóspedes e simplesmente adoramos aquela experiência de pessoas como se fossem convidados, conta Alexandre Gobbo, sócio proprietário do empreendimento.

A experiência foi tão positiva que então surgiu a ideia de construir um modelo de negócio baseado nesta proposta: um hotel pequeno, intimista, onde cada hóspede se sentisse único e especial. “Desta forma surgiu o embrião do hotel Casa de Perainda. Hoje, o empreendimento possui uma estrutura de cinco suítes, duas casas e um galpão de eventos”, explica o proprietário.

Também em território baiano, Silvia Casas Argila decidiu abrir o Vila dos Orixás Boutique Hotel e o Orixás Residences. “Identificamos a nova tendência no mercado, do público que quer se hospedar em casa, porém com todos os serviços e facilidades de um hotel”, explica a proprietária.

casa hotel - Arthur igreja

            Igreja: oportunidade também está muito ligada ao conceito de consumir por um período

Casa Hotel e as vantagens do modelo

Como principais vantagens do modelo, Silvia acredita que é a privacidade que a residência oferece. “Cozinha, churrasqueira, piscina privativa, estrutura maior do que a de um quarto de hotel e sem perder os serviços”, comenta. “Já para o proprietário, a possibilidade de ter uma casa de férias na Bahia com segurança, manutenção e cuidados oferecidos do hotel, além do retorno no investimento da propriedade”, pontua.

Gobbo defende ainda que este perfil de hotelaria vai em direção à tendência que se acentuou com a pandemia: a busca por locais pequenos e seguros, em oposição às grandes estruturas, sem individualidade e que propiciam maiores aglomerações. “Mas grande vantagem, sem dúvida, é a possibilidade de entendermos exatamente quem é o hóspede, quais suas necessidades e restrições, seus gostos e desta forma, podermos atendê-lo de uma forma única e exclusiva”, avalia.

casa hotel - Alexandre Gobbo

                     Gobbo: é necessário que no DNA do negócio tenha real prazer em receber

O nicho de mercado

Segundo Igreja, quem busca o modelo é um público mais caseiro, que procura por sossego com personalidade e em um ambiente familiar. “Ao mesmo tempo, a tendência é de que seja um público com uma renda maior e que anseie por exclusividade”, adiciona.

Na Casa de Perainda, os hóspedes, em sua maioria, consistem em casais, entre 30 a 50 anos e de alto poder aquisitivo. “Geralmente em busca de momentos inesquecíveis, para poderem celebrar uma data especial ou simplesmente descansar. Aniversários, bodas, datas importantes, noivados, lua-de-mel”, explica o proprietário.

Trabalhando com um mercado bastante restrito, e por isso extremamente competitivo, Gobbo comenta que os consumidores deste tipo de hotelaria são extremamente detalhistas e exigentes, pois viajam pelo mundo e conhecem o que há de melhor em diferentes países. “Por isso, é um negócio bastante absorvente e que exige um grande esforço de atenção, carinho e amorosidade. É necessário que no DNA do negócio tenha real prazer em receber e disponibilidade de atender solicitações”, salienta.

Já na Vila dos Orixás Boutique Hotel e Orixás Residences, o público consiste em famílias e grupos de amigos. “O mercado vem crescendo muito, inclusive mais durante a pandemia. Os hóspedes procuram mais privacidade e menos contato com pessoas fora da família”, argumenta Silvia.

A alta do lazer

As escapadas de fim de semana também potencializaram o turismo de lazer, gerando um movimento contrário ao que o executivo vive hoje. “Pensávamos que enfrentaríamos tempos difíceis, onde seriam necessários vários movimentos para trazermos os hóspedes até nós. Porém, quando reabrimos as portas, no dia 1º de agosto, sob a chancela do Selo Safe & Clean da Rede Circuito Elegante/Unilever, com os mais completos protocolos de segurança, higiene, distanciamento e segurança, foi uma grande surpresa. A reabertura veio acompanhada de uma intensa busca por nossa hospedagem. Um movimento que se acentuou enormemente no verão e continua”, diz Gobbo.

O proprietário também acredita que o projeto caminha em direção às novas tendências da hotelaria mundial. “A busca por refúgios de segurança e a necessidade das pessoas, após tanto isolamento, se sentirem especiais, reconhecidas, valorizadas e porque não dizer, abraçadas”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Ana Negro/Casa de Perainda

(**) Crédito da foto Arthur/Victor Hoffmann

(***) Crédito da foto Alexandre: Arquivo pessoal