Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil ficará sem a sua mais tradicional e democrática festa. Em todos os cantos do país, o Carnaval é celebrado de maneiras diferentes, mas sempre representando faturamento relevante para o turismo. Em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, o cancelamento da folia é ainda mais doloroso, visto que são destinos altamente procurados por seus desfiles e blocos de rua. Com as celebrações adiadas para abril em alguns municípios, as demandas do feriado de fevereiro serão absorvidas por parte da hotelaria como alternativa para aqueles que terão que deixar as fantasias no armário mais uma vez.

Pesquisa desenvolvida pela ViajaNet aponta que 80% dos destinos procurados para o feriado são nacionais. Mesmo com as limitações persistentes por conta da pandemia, grande parte da população não deve deixar de aproveitar os dias de folga. A agência virtual de turismo apurou o volume de passagens aéreas vendidas até 24 de janeiro para o período entre 25 de fevereiro e 2 de março.

Os destinos nacionais mais comprados são São Paulo, em primeiro lugar, que detém quase 13% de interesse, seguido por Rio de Janeiro, com 12%, e Salvador com mais de 7%. Na sequência, surgem Fortaleza (6,5%), Recife (6%), Brasília (4,6%), Florianópolis (3,8%) e Porto Alegre (3,2%). Juntas, as regiões mencionadas correspondem por mais da metade (56,4%) dos bilhetes vendidos na plataforma.

Apesar de prejudicial para parte do setor, empreendimentos, como resorts próximos a grandes cidades, o cancelamento da festa pode representar uma boa oportunidade para elevar as ocupações. “Gostaríamos que o Carnaval fosse bom para todos, pois quando o turismo é afetado, as demandas são redirecionadas de um player ou outro. No geral, não há motivos para comemorar. Entretanto, veremos um volume crescente em destinos sem tanta aglomeração”, comenta Sérgio Souza, vice-presidente institucional da Resorts Brasil.

Em linhas gerais, o público que procura por hospedagens em resorts no Carnaval prefere descansar a vestir fantasias e sair em blocos de rua. Mas esse ano a história deve ser diferente. “Acredito que haverá uma demanda maior por esses empreendimentos. Viemos de um verão muito ruim em 2021 e agora saímos de uma alta temporada melhor, dependendo da localidade. Este ano, as chuvas na Bahia prejudicaram o fim de ano, então essa demanda reprimida deve vir para o Carnaval”, acrescenta Souza.

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Campos do Jordão espera lotação no feriado, diz Bicudo

Movimentação dos destinos

No interior paulista, Campos do Jordão não é conhecido como um destino de grandes folias e aglomerações. Com foco em turistas que procuram contato com a natureza e tranquilidade, a Associação Comercial de Campos desenvolveu a campanha “Carnaval no Ritmo das Montanhas”, enaltecendo as belezas da Serra da Mantiqueira.

De acordo com o diretor executivo da entidade, Renato Bicudo, a cidade está em ritmo de retomada do turismo. “Desde o Natal, Campos voltou a receber um número expressivo de visitantes, o que nos deixa bastante satisfeitos, já que o turismo é fundamental para a sobrevivência da economia local”.

Com 240 meios de hospedagens (14.886 leitos), Campos do Jordão espera ocupações elevadas no feriado. “Estamos trabalhando com 85% de ocupação na cidade. Já temos um público fiel que não gosta de aglomerações e procura o destino para fugir das lotações das praias e blocos. Também estamos divulgando nossos pontos turísticos, pois Campos vai muito além de Capivari, o que tem dado uma boa resposta. Esperamos receber cerca de 40 mil pessoas”, complementa Bicudo.

Mesmo com o cancelamento dos desfiles e blocos em São Paulo, principal emissor de hóspedes para a cidade, o diretor explica que a hotelaria não sentiu grandes movimentações. Ele ressalta que as fortes chuvas ajudaram a atrasar as reservas para o período. “A condição climática não estava colaborando, mas acreditamos que o volume de pessoas deve aumentar nos próximos dias. Temos uma oferta hoteleira variada, para todos os gostos e orçamentos”.

Com perfil semelhante ao de Campos do Jordão, Monte Verde observou maior procura para o Carnaval este ano. Sem nenhum tipo de festa, o destino mineiro é opção válida para quem busca sossego. “Não temos bloco nem desfile. É um destino para quem quer relaxar e fazer passeios ao ar livre, o que torna Monte Verde um local seguro. Para o Carnaval, as reservas começaram no final de janeiro”, revela Paula Bars, presidente da Associação Comercial.

O município registrou alguns cancelamentos no feriado de 25 de janeiro, consequência do aumento dos casos da nova cepa, mas a expectativa é de 100% de ocupação para o Carnaval. “A Ômicron aumentou as reservas last minute e Monte Verde está sob decreto que proíbe a realização de festas em casas de aluguel também, por prazo indeterminado”, conta a presidente.

Assim como Campos do Jordão, Monte Verde aposta em promoções e campanhas para incentivar o turismo no município. “Vamos trabalhar pacotes com preços atrativos. Os decretos beneficiam a hotelaria, pois quem opta por casas de aluguel não poderá fazer festa, com risco de multa”, destaca Paula.

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Cancelamentos não impactaram o Grupo Armação, afirma Valéria

A resposta da hotelaria

Em Porto de Galinhas, a ocupação hoteleira já chega a 70% no Carnaval. Apesar da proximidade com Recife e Olinda, dois destinos conhecidos por suas festas e blocos, Valéria Gordilho, gerente Comercial do Grupo Armação, afirma que os cancelamentos não afetaram diretamente as reservas.

“O cancelamento não tem impacto direto no nosso negócio. Somos um destino para quem quer tranquilidade. O que de fato nos afeta são as alterações e cancelamentos de voos, além das novas de contágio por Covid-19. Acredito que Recife tenha sentido com maior intensidade a decisão do governo”, avalia Valéria.

A expectativa é que o Grupo Armação receba principalmente hóspedes regionais, oriundos de Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Vale lembrar que o governo pernambucano cancelou todos os tipos de festividades, sejam elas públicas ou privadas, além de ter cancelado o ponto facultativo do feriado.

Ainda no Nordeste, o Solar do Imperador viu a busca por reservas no Carnaval subir 23%. Com uma curva de vendas de 48 dias, o empreendimento de Porto Seguro (BA) já está com 98% de suas UHs comercializadas para o período. “É bom contextualizar que o Carnaval de 2022 é diferente do que foi o ano passado. Por mais que não tenhamos os blocos, temos a vacinação em estágio avançado”, avalia Charbel Tauil, CEO do resort.

O hotel observou mudanças nas reservas para 2022. Em 2021, a média de pessoas por UH era de 2,3. Agora, o número de hóspedes por quarto é 4. “Este ano, a procura por quartos maiores cresceu, principalmente por conta de grupos de amigos. A ocupação de Porto Seguro para a semana deve ficar em torno de 95%”.

Antes da pandemia, o Solar do Imperador vendia pacotes de hospedagens com ingressos de festas. Com as mudanças, o empreendimento passou a investir em entretenimento interno, com música ao vivo, feijoada e noites temáticas. “Temos a quinta-feira italiana e estamos trazendo também artistas locais para tocar bossa nova”, complementa Tauil.

Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo são os principais emissores de hóspedes do resort, além de cidades em um raio de 600 quilômetros (km), como Vitória da Conquista. “Após o recuo das festas, sentimos um pouco a demanda, mas Porto Seguro é um destino de praia com muitas opções de ecoturismo, logo tivemos uma rápida aceitação do público”, diz o CEO.

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Procura pelo Carnaval cresceu 23%, revela Tauil

O litoral paulista tem como tradição receber grandes demandas de turistas no Carnaval, com ou sem festas. Em Caraguatatuba, o Port Louis tem 64% de seus quartos reservados para o feriado — bem acima da média da região — de 30%. “A procura deu uma estacionada total e tivemos alguns cancelamentos. Alguns hóspedes optaram por transferir as reservas para outras datas, como a Páscoa, por exemplo”, explica Luiz Tammaro, proprietário do hotel.

Assim como Campos do Jordão, as fortes chuvas em janeiro atrapalharam as vendas para o período, fazendo muitos clientes optarem por reservas de última hora. “Estávamos com 45 dias de antecedência e agora fechamos reservas 72 horas antes da data de check-in. Por outro lado, não notamos mudanças no perfil de público. Temos nossos clientes fidelizados, com foco em famílias com crianças”, revela Tammaro. O Port Louis manteve sua programação de Carnaval como um dos atrativos para o feriado, com apresentações de música ao vivo e escola de samba.

Divulgação de protocolos

Diante de uma oportunidade de ouro de fazer caixa, Souza sugere que os empreendimentos reforcem a divulgação de seus protocolos e medidas sanitárias. “As pessoas já sabem, mas é sempre bom relembrar que a hotelaria é um ambiente seguro, com protocolos que foram testados exaustivamente”.

Ele acrescenta que, mesmo sem os blocos, a hotelaria de destinos como Rio de Janeiro, Recife e Salvador pode aproveitar o período e absorver demandas. “São locais turísticos não apenas por causa do Carnaval. Existe muito potencial para conseguir bons resultados”.

(*) Crédito da capa: Paulo Lopes/LigaSP

(**) Crédito das fotos: Arquivo HN e divulgação