O Governo Federal prorrogou para 10 de janeiro de 2024 o prazo para restabelecimento da exigência de vistos de entrada no Brasil para portadores de passaporte comum de países como Estados Unidos, Austrália e Canadá. O decreto sobre o tema foi publicado na última semana no Diário Oficial da União.

A medida, que impactará diretamente no turismo brasileiro, visto que a demanda estrangeira vinha se recuperando após quase três anos de pandemia, altera a entrada em vigor do decreto que previa o início da cobrança de vistos para 1º de outubro deste ano.

A prorrogação tem o objetivo de permitir a conclusão do processo de implementação do sistema e evitar o início da exigência de vistos em período próximo à alta temporada de viagens de fim de ano, garantindo assim sua introdução segura, não afetando o turismo, aponta a Carta Capital.

“No governo anterior, foi suspensa a obrigatoriedade de americanos, canadenses, australianos e japoneses, que não precisavam de vistos para vir ao Brasil. Foi dado de graça. Sem reciprocidade. Brasileiros continuaram a precisar de visto”, diz Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores.

Ainda segundo ele, no início do governo Lula, os países foram chamados para tentar uma negociação. “O Japão aceitou e negociamos. Outros alegaram que não era possível pela legislação de cada um deles”, completa, ressaltando que o Governo Federal está disposto a negociar a isenção de visto na base da reciprocidade.

Reação do trade

Ouvidas pelo Hotelier News, diversas fontes ligadas ao trade turístico e à hotelaria declararam sua posição contrária à medida. Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro), destacou que durante mais de três décadas, o trade turístico brasileiro buscou a flexibilização do visto para os norte-americanos, além de outros destinos emissores, em razão da relevância dos EUA como emissor de turistas e fonte de receita para o Brasil.

“Com a atração de turistas estrangeiros bem abaixo de outras importantes metrópoles mundiais, lembrando que o Brasil há décadas não ultrapassa a barreira dos seis milhões de visitantes estrangeiros por ano, considero a exigência de visto uma visão unilateral desalinhada com a atual demanda do turismo nacional e fluminense. Esperávamos que o Governo Federal buscasse caminhos para ampliar investimentos em promoção e captação, que neutralizasse um histórico desastroso de relacionamento com estes mercados com enorme potencial de resposta. Mais do que nunca, voltar a exigir esses vistos é um retrocesso e certamente trará impactos negativos em toda a cadeia do turismo”, pontua.

Paulo Michel, presidente da ABIH-RJ e CEO do Louvre Hotels Group-Brazil, também manifestou sua posição contrária à decisão. “EUA e Canadá, por exemplo, são mercados fortíssimos de viagens e que aproveitamos muito pouco. Voltar com a exigência dos vistos por mera reciprocidade é um atraso. Não deveríamos fazer, sou totalmente contrário. Claro, não precisa liberar totalmente, mas é necessário facilitar a entrada desses turistas no Brasil. É um mercado que muito nos interessa”, ressalta.

Por fim, Ricardo Roman Jr., presidente da ABIH-SP, reforçou a postura de Lopes e Michel. “A vinda dos estrangeiros para o Brasil estava crescendo nos últimos anos, e a isenção do visto contribuiu muito para isso. A volta da exigência dos vistos afeta muito nessa demanda. Quanto mais dificuldade o país coloca para atrair estrangeiros, mais dificulta a recuperação, não só aqui em São Paulo, um dos destinos que mais recebem turistas de outros países, mas em todo o país. É bem triste, realmente, e compromete a recuperação da demanda internacional”, finaliza.

(*) Crédito da foto: PublicDomainPictures/Pixabay