Recuperar o interesse dos turistas estrangeiros pelo Brasil é o principal desafio do setor de turismo no país. Em 2019, antes da pandemia, 6,5 milhões de pessoas vindas de outros países passaram por aqui. Em 2023, esse número foi de 6 milhões. Diversos fatores dificultam a recuperação total, incluindo uma sequência de altas de juros ao redor do mundo, que atrasou uma recuperação econômica mais robusta, aponta a Veja.

Além disso, incertezas ligadas a grandes conflitos geopolíticos, como na Ucrânia e em Gaza, afetam diretamente os negócios internacionais, complicados por retaliações econômicas. Mesmo com esse cenário desafiador, o turismo brasileiro tem potencial para performar positivamente neste ano. O país registrou alta de 7,4% no número de turistas estrangeiros no primeiro quadrimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Este é o terceiro melhor quadrimestre da história, superado apenas por 2018 e 2019.

Até abril, o Brasil recebeu 2,9 milhões de visitantes, segundo o MTur (Ministério do Turismo). O mais surpreendente, contudo, foi o aumento de 22% nos gastos desses turistas no primeiro trimestre deste ano frente ao ano passado. Se essa tendência continuar, 2024 pode marcar um ponto de virada para o setor. Essa recuperação é atribuída a uma nova política, que promove uma imagem diversificada do país. “O Brasil não é apenas sol e praia”, afirma Marcelo Freixo, presidente da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo). “Temos cultura, gastronomia e diversidade.”

Investimentos em grandes eventos e sustentabilidade

Para atingir novas metas, investimentos estão sendo feitos para promover uma nova imagem do Brasil no exterior. Entre as iniciativas, estão grandes eventos culturais, como o show de Madonna no Rio de Janeiro, em maio, que custou R$ 10 milhões, mas atraiu 14,3 mil turistas estrangeiros, gerando R$ 42 milhões em gastos. A apresentação movimentou R$ 293 milhões na cidade, considerando despesas com alimentação, passagem aérea e transporte.

A sustentabilidade ambiental também é uma prioridade nesta nova política. “A imagem do Brasil melhorou muito com a redução da devastação da Amazônia”, ressalta Freixo. Destinos como Pantanal e Jalapão estão entre os que recebem mais atenção e investimentos em infraestrutura, destacando-se como opções de turismo de aventura.

Conectividade aérea e novos projetos culturais

Além de serem os que mais gastam, turistas de longa distância geram empregos diretos e indiretos e ajudam a preservar espaços e culturas locais. No Rio de Janeiro, o lançamento do aplicativo Rota Literária é um exemplo dessa abordagem. A ferramenta gratuita oferece um roteiro ligado à história de importantes escritores brasileiros, como o tour Machado de Assis, que leva o turista pelo centro antigo da cidade, incluindo a Academia Brasileira de Letras.

Outro passo importante é o aumento da conectividade aérea com outros países, como parte do Programa de Aceleração do Turismo Internacional, lançado este ano. Essa iniciativa, parceria entre os Ministérios do Turismo, Portos e Aeroportos, e a Embratur, visa aumentar a oferta de assentos em voos internacionais e melhorar a experiência dos passageiros nos aeroportos. Um exemplo desse esforço foi o anúncio da Air France, ontem (16), de voos diretos entre Salvador e Paris, a partir de 28 de outubro, três vezes por semana. Embora não cubra o período das Olimpíadas na França, essa nova rota é um grande incentivo para o turismo no Nordeste.

(*) Crédito da foto: Unsplash