Com a proximidade de duas das maiores datas de compras do ano, a ICF (Intenção de Consumo das Famílias) teve um tímido avanço. De acordo com dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o indicador de outubro subiu apenas 0,3%, após apresentar estabilidade em setembro.

Ainda que a ICF se mantenha em um nível de satisfação (104,2 pontos), a intenção de compra mostra cautela por parte dos consumidores, com crescimento mensal perdendo força desde abril deste ano. Na comparação anual, o indicador cresceu 19,7%, mas a taxa é a mais baixa desde outubro do ano passado.

“A desaceleração da inflação, que inicialmente impulsionou de maneira positiva a renda e o consumo, parece ter perdido vigor a partir de agosto, levando os consumidores a adotar uma postura mais cautelosa no segundo semestre”, destaca José Roberto Tadros, presidente da CNC.

Por outro lado, há um impacto positivo notável na intenção de compra de bens duráveis, com um crescimento de 2,4% no último mês e de 56,7% na comparação anual. Embora o índice permaneça abaixo da marca dos 100 pontos, Tadros ressalta que a tendência de queda das taxas de juros de mercado tem incentivado os consumidores a planejar a aquisição de produtos de maior valor, especialmente a prazo.

Todos os indicadores (satisfação com o emprego e com a renda atual, com o nível de consumo atual, bem como a perspectiva de consumo, o acesso ao crédito e o momento para compra de duráveis) tiveram alta no ano. No mês, a exceção foi o índice que mede a perspectiva profissional, estando, no entanto, 12,3% acima do registrado em outubro do ano passado.

Facilidade de acesso ao crédito

Conforme a economista da CNC responsável pela ICF, Izis Ferreira, o movimento de queda das taxas de juros e as campanhas de renegociação de dívidas estão gradualmente facilitando o acesso ao crédito, embora as instituições financeiras ainda estejam seletivas por conta da inadimplência persistente. A pesquisa apontou que, neste mês, 29,8% dos consumidores consideram que está mais fácil comprar a crédito, a maior proporção desde maio de 2020. Ainda assim, a maioria (35,3%) acha que está mais difícil.

“O alto endividamento e a inadimplência continuam limitando a capacidade de consumo das famílias, o que diminui os efeitos positivos da desaceleração da inflação na renda disponível”, explica Izis. Segundo a economista, a desaceleração do ritmo de contratações formais no mercado de trabalho está levando os consumidores a olhar com cautela para o emprego nos próximos meses, com o indicador que mede a perspectiva profissional registrando queda de 0,7%. Além disso, esse indicador apresenta quedas consecutivas nos últimos três meses, indicando que os consumidores estão olhando com ceticismo para o emprego nos próximos meses.

Moderação em todas as faixas de renda

A cautela nas compras é um fenômeno que atinge consumidores de todas as faixas de renda. Tanto as famílias que recebem até 10 salários mínimos como aquelas com renda superior a esse valor têm apresentado desaceleração em suas perspectivas de consumo desde setembro, mostrando sinais de moderação do otimismo.

Entre as famílias de menor renda, a perspectiva de consumo para os próximos três meses cresceu 0,2% em outubro, enquanto entre os consumidores de alta renda houve um avanço de 0,5%. No entanto, a economista destaca que é maior a proporção de consumidores da faixa mais alta de renda que pretende aumentar seus gastos neste último trimestre do ano (43,9%), em comparação com o grupo de menor poder aquisitivo (39,6%).

(*) Crédito da foto: stevepb/Pixabay