Inicialmente apresentada por Márcio França, ministro dos Portos e Aeroportos, no último final de semana, a construção por parte do governo federal de um programa para vender passagens aéreas a R$ 200 por trecho para alguns públicos específicos aparentemente interessou as empresas aéreas.

Em entrevista à Folha de São Paulo, a Azul Linhas Aéreas disse que vê a possível iniciativa com bons olhos. “É uma proposta diferente. Acho que vamos poder debater e estamos ansiosos até para começar a conversar mais sobre o programa”, disse Fabio Campos, diretor de Relações Institucionais da empresa ao jornalista Thiago Bethônico.

Aéreas - programa de passagens baratas - Fabio Campos

Campos: medida é viável, mas há outras questões

O executivo acrescentou que o governo não convidou a Azul para nenhuma reunião sobre o tema e tampouco apresentou detalhes da proposta às companhias aéreas. Pelo que França disse ao Correio Braziliense, o programa buscaria ocupar os assentos ociosos em voos de carreira, que hoje ficam na casa dos 20% no Brasil.

Pelos cálculos do ministro, com esse cenário de ociosidade será possível oferecer, anualmente, cerca de 15 milhões de passagens a R$ 200 para popularizar o acesso ao transporte aéreo. A ideia é que aposentados, estudantes e servidores públicos, que em teoria têm renda de até R$ 6,8 mil, sejam os públicos beneficiados pela iniciativa.

“Nenhum lugar do mundo roda com 100% de ocupação, acho que é impossível isso. Mas se há oportunidades para fomentar mais viagens de mais brasileiros, eu não vejo porque não sentar para discutir. É tudo muito principiante ainda, mas estamos vendo como uma oportunidade interessante”, avalia o executivo da Azul, destacando que acredita que, em breve, deve ser reunir com o Executivo.

Mais adesões

Boa vontade semelhante é vista na Gol. Em nota, a companhia disse que nasceu com o propósito de democratizar a aviação no Brasil. “[Estamos] sempre à disposição para contribuir com o governo na viabilização de um projeto que amplie ainda mais o acesso da população ao transporte aéreo”, afirma. Já a Latam preferiu não se manifestar após o contato da reportagem da Folha de São Paulo.

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), por sua vez, afirma estar acompanhando a proposta do governo federal e que tem se colocado à disposição para contribuir. “Desde o início do ano, a Abear e suas associadas mantêm diálogo constante com o Ministério de Portos e Aeroportos sobre o cenário do setor aéreo e as possíveis soluções para o crescimento do número de passageiros e destinos atendidos”, comentou a entidade, em nota.

Para Campos, da Azul, a iniciativa é interessante e viável, mas a democratização do setor aéreo também passa por outras questões. Na entrevista, por exemplo, ele citou temas que são usualmente apontadas como entraves para o desenvolvimento da aviação, como o preço do querosene de aviação, a desvalorização do real frente ao dólar e a alta judicialização do setor aéreo.

“É importante ter programas que vão trazer esse ganho rápido, mas há questões estruturais no transporte aéreo que precisam ser atacadas”, finaliza Campos.

(*) Crédito da capa: TobiasRehbein/Pixabay 

(**) Crédito da foto: reprodução LinkedIn