A Accor fechou 2022 com receita superior a 2019 e bom desempenho no quarto trimestre, o que abre perspectivas positivas para 2023. Agora, como foi o desempenho nas Américas? Já tradicional no calendário do trade no mês de fevereiro, a coletiva de imprensa organizada pela rede francesa ajudou a responder à questão, mas, no geral, a região teve uma das melhores performances a nível global dentro da nova estrutura organizacional da empresa. E, para 2023, a expectativa é de manter o ritmo.

Em relação ao Brasil, visto que o país concentra boa parte dos hotéis econômicos e midscale da Accor nas Américas, a análise dos resultados desse perfil de empreendimento fornece uma visão precisa do desempenho da operadora francesa por aqui. E, frente a 2019, o RevPar dessas propriedades avançou 21,7% (para € 23) e 13,9% (para € 47), respectivamente, puxada sobretudo por uma alta expressiva de 21,5% (para € 41) e 19,3% (para € 81) da diária média, visto que a ocupação se manteve praticamente estável em relação ao período pré-pandemia.

“Tivemos um dos melhores resultados da história nestes 40 anos de América do Sul. Isso porque a recuperação da indústria veio antes do que se projetava”, disse Thomas Dubaere, CEO da Accor para as Américas. “Foram números espetaculares que não pensávamos que seriam possíveis há seis meses, porque toda a indústria projetava a retomada do mercado apenas para 2024”, completa. “Começamos o ano muito bem, com janeiro registrando crescimentos expressivos em relação a 2022”, continua.

     América do Sul

          • Volume de negócios: € 911 milhões (+28% frente a 2019)
          • RevPar: + 26% frente a 2019
          • Q4 de 2022: + 42% frente a 2019
          • Total de hotéis: 448 (71 mil quartos)
          • Crescimento da base de hotéis: + 3,1% frente a 2021

Segundo Dubaere, esse bom desempenho tem explicação em vários fatores. Um deles é a característica do mercado brasileiro, que é majoritariamente doméstico, o que difere de outras regiões do globo, caso da Europa. “Cerca de 85% do nosso negócio são domésticos, 10% intraregional e só 5% são intercontinental. Então, tivemos uma vantagem por ter um fluxo doméstico muito forte. E, no turismo interno, o segmento de lazer ficou bastante aquecido, mas o bleisure veio para ficar”, comentou.

“Nossos hotéis com contratos de gestão estão com seus melhores resultados em toda história”, acrescentou Mauro Rial, que acaba de assumir como COO da Accor para países hispânicos e América do Norte. Questionado sobre o papel do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) para a performance dos hotéis no país, ele disse que o programa respondeu por uma margem de contribuição de 4% a 5% no topline. “Então, somados aos ganhos de eficiência na gestão que a pandemia nos deixou de lago, alcançamos esses resultados”, completa.

Desafios

Sobre 2023, Dubaere passou uma visão otimista. Para a reportagem do Hotelier News, disse acreditar que o cenário visto em 2022 deve se repetir, com a diária média puxando o crescimento do RevPar. Se globalmente a rede francesa estima que o indicador crescerá de 5% a 8%, por aqui o executivo acredita que se pode atingir uma alta de dois dígitos. Ainda assim, o CEO da Accor nas Américas reconhece que há desafios diante de um cenário macroeconômico desafiador, o que transborda para diferentes áreas do negócio. Um deles, por exemplo, é crescer a participação do turismo internacional.

Accor - resultados 2022 - América do Sul - Thomas Dubaere

Dubaere: 2022 foi um ano histórico para Accor

“Espero que, em cinco anos, essa participação seja maior, por exemplo”, comentou. “Em relação à questão da mão de obra, em que já atingimos um patamar de 90% do período pré-pandemia, não entendemos ser um grande desafio. Nossas pesquisas internas mostram 90% de satisfação e continuamos investindo no treinamento e qualificação. Muitos dos nossos gerentes gerais, por exemplo, começaram em áreas operacionais dos nossos hotéis e foram crescendo”, completou.

“Historicamente, a margem de turnover na hotelaria varia de 30% a 50%. Estamos já bem próximos do número de colaboradores que detínhamos antes da pandemia e seguimos investindo nas pessoas. Com a expansão do número de hotéis, vamos contratar mais profissionais ao longo de 2023. Então, acho que é um desafio bom, porque estamos falando de crescimento”, corroborou Fernando Viriato de Medeiros, vice-presidente senior de Talento & Cultura da Accor Américas.

Pipeline

Também presente ao encontro, Abel Castro passou alguns números e perspectivas em relação à área de Desenvolvimento. Em 2022, a rede francesa colocou em operação nas Américas 22 hotéis (2,8 mil quartos) de oito marcas diferentes, das quais 80% são oriundas de contratos de franquia e 20% de gestão. “Para 2023, a expectativa é abrir de 22 a 25 unidades (2,5 mil quartos) em cinco países, 50% desse total por meio de conversões. Hoje, temos 18 com abertura já confirmada”, revela o CDO da Accor para Américas – Premium, Midscale & Economy Brands.

“No que diz respeito às assinaturas previstas para 2023, o objetivo é fechar de 22 a 25 hotéis contratos, somando 2,5 mil quartos. Destes, 60% são projetos greenfield e 40% conversões”, acrescentou.

Recém-lançada pela operadora francesa, a Handwritten Collection deve ser um vetor dessas novas assinaturas na região e que alguns leads já estão sendo captados. “Temos negociações com uma propriedade na Serra Gaúcha, por exemplo”, revelou. Segmentos com bom crescimento nos últimos anos, a multipropriedade e o short-term rentals não estão entre as prioridades de crescimento da Accor, pelo menos por enquanto.

“A multipropriedade vem sendo importante no desenvolvimento hoteleiro brasileiro, mas, com os juros no patamar atual, a captação no mercado de capitais para financiar esses projetos está mais difícil, o que deve limitar a expansão do segmento. Além disso, trata-se de um mercado regional, que tem parceiros com baixo nível de governança em muitos casos. Então, quando elevar o nível de profissionalização, podemos entrar”, comentou Castro. “Já o STR é um negócio com operação muito complexa. Alguns concorrentes estão entrando no segmento, mas, no momento, não nos interessa”, continua.

“Somos melhores e bons na gestão hoteleira, entregando experiência ao nossos clientes. Multipropriedade e short-term rentals são negócios completamente diferentes. Mas, sim, é uma escolha e, hoje, preferimos seguir focados em nossa expertise, porque o hóspede sempre vai querer experiência, e a da hotelaria é muito diferente da entregue nesses dois segmentos”, finaliza Dubaere.

(*) Crédito das fotos: Vinicius Medeiros/Hotelier News