De uma família da indústria metalúrgica — que tem a hotelaria como principal cliente — Paulo Pan descobriu sua paixão pelo setor. Ex- atleta de vôlei, o empresário faz questão de enaltecer a importância do esporte em todas as áreas de formação de um indivíduo. E foi por meio dele que o executivo iniciou sua trajetória com viés social.

Em 2004, o paulistano de 48 anos fundou a Paulo Pan International Business Intelligence, com foco em planejamento estratégico. Segundo o executivo, a proposta era reunir e conectar experiências adquiridas em diferentes setores, como esporte, saúde e educação.

Com projetos sociais na África, Pan promoveu programas como o Sports & Education, for everybody and anywhere, em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), por meio do movimento iniciado em 2020, o Beyond Africa Group.

Com a chegada da pandemia, fundou a HCA (Health Control Assistant), que oferece serviços de testagem para Covid-19. Em 2021, a empresa firmou parceria com o Sheraton São Paulo WTC para realizar testes em hóspedes, colaboradores e público externo. Agora, ele busca aproximar ainda mais os segmentos de saúde e hospitalidade.

Três perguntas para: Paulo Pan

Hotelier News: Um dos pilares da HCA é conectar saúde e hospitalidade. No setor hoteleiro, por enquanto, essa relação ainda é superficial. Na sua visão, por que os hotéis precisaram de uma pandemia para unir os dois segmentos?

Paulo Pan: Eu acredito que a pandemia teve uma ação potencial e quase que de sobrevivência para diversos setores, alguns deles tendo que antecipar suas estratégias e ações futuras, como por exemplo, a área de tecnologia, logística e a própria área da saúde em geral. O delivery passou a ser uma necessidade, a comunicação tendo a tecnologia como grande aliada, porém alguns segmentos tiveram que por lei de força maior serem estagnados, a exemplo da hotelaria e o turismo.

Nossa primeira iniciativa, assim que iniciamos as operações, foi de proporcionar comodidade, segurança e rapidez aos hóspedes — tendo em vista que todos estavam sujeitos aos novos protocolos. Pude trazer e aproveitar minha própria experiência como viajante internacional em 2020, ao percorrer três países africanos que desenvolvemos projetos: Camarões, Etiópia e Tanzânia. Para todos existiam protocolos em alguma especificidade, porém o exame fundamental era o RT-PCR como documento oficial para embarque, o que sempre complicava as agendas, levando em consideração local, data, língua e logística.

Logo após meu retorno, em uma reunião super objetiva com o gerente geral do Sheraton São Paulo WTC, Fernando Guinato, iniciamos a primeira iniciativa com total aceitação dos hóspedes. Essa aproximação entre saúde e hotelaria já acontece de maneira muito intensa, porém ainda quase que como uma via de mão única. Dentro do segmento da saúde temos uma área específica de hospitalidade, que não difere dos atributos essenciais da hotelaria tradicional que conhecemos. Essa relação parecia até óbvia pelos atributos, entretanto, como diversos outros setores esse diálogo ainda é incipiente.

Eu acredito que nossa relação tem sido mais assertiva pelo fato de termos um bom conhecimento dentro dos dois ambientes, hotelaria e saúde.

HN: Por enquanto, as demandas por testes de Covid-19 são bons gatilhos para implementar espaços clínicos nas estruturas dos hotéis. Entretanto, um dia, a pandemia vai acabar. Será que investidores e empreendedores do setor ainda verão sentido nesses contratos? 

PP: Como coloquei na pergunta anterior, essa relação ainda é muito incipiente e os setores têm um enorme espaço para integrar produtos e serviços por meio da associação de suas competências e responsabilidades. Os temas como: saúde, bem estar, qualidade de vida, estão cada vez mais presentes no cotidiano de qualquer indivíduo, e no ambiente de negócios não é diferente, levando em consideração a grande mobilização de investimentos em saúde em seus diversos setores. Dentro de 60 dias iniciaremos uma grande operação em São Paulo – integrando esses dois setores – o que permitirá entender de uma maneira muito mais prática a sinergia operacional e também econômica, podendo construir uma ponte para esses dois grandes segmentos, até então pouco explorada.

HN: O que o setor pode aprender com a hospitalidade e saúde praticadas em outros segmentos? O que pode ser absorvido?

PP: A pandemia trouxe uma necessidade de reinvenção, até então ainda discutida apenas de maneira muito empírica. Acredito que a hospitalidade está presente em absolutamente tudo que fazemos, pois cada vez mais o diferencial competitivo está ligado a qualidade do serviço. Os setores precisam estar cada vez mais conectados e entender como suas competências podem se somar, trazendo novas soluções, que por sua vez possibilitam inúmeras oportunidades.

(*) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News