A tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço no setor hoteleiro, contribuindo para otimizar a operação e elevar a experiência do hóspede. Na gastronomia dos hotéis, não poderia ser diferente, principalmente se considerarmos que o segmento vem aumentando sua participação no share dos empreendimentos. Mas a pergunta que fica é: como as novas ferramentam podem contribuir com o A&B sem deixar o fator humano de lado?

Raphael Martini, gerente geral do Novotel Morumbi, aponta que a adoção da tecnologia é um diferencial para os hotéis e que aqueles que não o fazem podem ficar para trás. “Um sistema de reservas online, o uso das mídias sociais como canais de vendas, além de equipamentos que otimizem a operação da cozinha dos hotéis, são pontos muito positivos e uma grande realidade para o setor como um todo”, destaca em entrevista ao Hotelier News.

“É algo que veio para ficar, mas ao mesmo tempo os profissionais precisam estar a par e saber operar todas as novidades, principalmente no atendimento e vendas. Na cozinha, temos milhares de equipamentos que poupam tempo de cocção, fritura, organização. E isso é uma tendência que irá moldar as equipes dos hotéis, pois será exigido habilidades diferentes e, com isso, teremos canais de vendas de A&B mais estruturados”, complementa.

O executivo reforça que as mudanças já estão acontecendo nos salões dos restaurantes, com as reservas online, cardápio via QR Code, mas que o grande salto será na cozinha, com a automação otimizando os processos. “É necessário. Acho que precisamos disso. Temos uma cozinha muito tradicional e é necessário mudar. E quando isso acontecer, o céu será o limite”, aponta.

Elevando a experiência

Consultor hoteleiro, Felipe Martyn, diz que o que mais se busca atualmente é automação e, consequente, a redução da interação humana, além de erros e custos. “Na minha opinião, a próxima revolução tecnológica virá da cozinha. Já existem equipamentos que fazem todo o processo de produção em escala, com fichas técnicas e receitas precisas, o que vai reduzir o custo de produção e mão de obra”, explica.

“Além disso, a digitalização na ponta hóspede já está muito avançada, principalmente por causa de soluções adotadas na pandemia, que vieram para ficar, como chatbots, aplicativos, entre outros recursos”, acrescenta.

Martyn enfatiza que os empreendimentos que estiverem na vanguarda da tecnologia vão atrair atenção e curiosidade. Por outro lado, o consultor aponta que ainda existem desafios tecnológicos de integração de sistemas. “A pandemia mostrou o quão defasados e sucateados a maioria dos hotéis estão em infraestrutura para responder às necessidades dos clientes atuais”, analisa.

Complementando o raciocínio de Martyn, Camila Arruda, proprietária do restaurante Villagio, endossa que a tecnologia ajuda a facilitar processos, acelerar pedidos e assegurar o controle dos insumos dentro das operações.

“Hoje, não dá para tocar uma operação se, de fato, a tecnologia não esteja ao nosso lado assegurando o dia a dia dessas atividades, seja ela no salão com retirada de pedidos e acelerando as comandas ao chegar nas cozinhas, controle de vendas junto aos caixas, no estoque para garantir as entradas das notas e saídas dos produtos dos almoxarifados, ou no financeiro fazendo todo o controle das vendas e acompanhamento dos custos. Tudo isso facilita e sem dúvida dá maior segurança na gestão e resultado das unidades”, comenta.

Tommy Freund, diretor da Foodservices Consultoria, reforça que o mundo caminha cada vez mais com a evolução da tecnologia, e que a hotelaria e o A&B seguirão acompanhando esse avanço. “Por um lado, certamente agiliza e facilita o serviço, porém, por outro, noto que as pessoas se tornaram cada vez mais dependentes dos sistemas. Se não tomarmos os devidos cuidados, nos transformaremos em robôs capacitados e programados para certas tarefas, mas distantes dos conhecimentos básicos de nossa profissão”, afirma.

Tecnologia e A&B

Natalia Secioso, gerente Comercial da Webspot, diz que a empresa enxergou que o A&B é, de fato, uma fonte de receita extra muito valiosa para os hotéis ainda pouco explorada. “A maioria dos empreendimentos tem custo fixo de A&B e, por isso, muitos restaurantes ficam subutilizados. Assim, em muitos casos falta estímulo para mostrar a grande oportunidade que isso pode ser para o hotel”, avalia em conversa com a reportagem do Hotelier News.

Tecnologia - Natalia_Secioso

Natalia fala sobre ferramentas da companhia

“Assim, passamos a trabalhar algumas ferramentas e fornecê-las para os hotéis. Uma delas é o Get In Line, para gestão de chegadas em refeições de buffet. Integrada com o PMS, serve para controle e traz a listagem de hóspedes que têm direito àquela refeição, e ao invés de o hostess fazer o controle em um papel, opera em um tablet ou smartphone, enquanto a cozinha acompanha em tempo real quem já chegou para consumir”, explica.

Segundo ela, a ferramenta possibilita que a cozinha saiba, logo cedo, a quantidade de hóspedes para a refeição, conforme o horário do buffet. Além disso, é possível fazer a gestão de reposição de itens. O sistema também gera dados como horário de pico do café da manhã, percentual de clientes que deixaram de ir, períodos de maior reposição, entre outros pontos.

“Também temos o My Guest, ferramenta de room service. Com ela, o hóspede que está no hotel e quer consumir algo pode acessar o serviço pelo celular. É um diretório digital, e dentro dessa ferramenta é possível montar o cardápio do hotel, com fotos, preço, descrição, sendo tudo bem personalizável. Hoje, atendemos mais de 300 hotéis e a tendência é de que esse portfólio aumente, pois a adesão à tecnologia é inevitável, considerando o mundo atual”, conclui.

E o fator humano? Como fica?

Martini aponta que hoje, especialmente, o básico bem feito continua fazendo toda a diferença nos hotéis. “Continuaremos precisando de gente na hospitalidade como um todo. Cumprimentar, dar boa noite, atender às expectativas é fundamental”, destaca.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, Martyn diz que o mais importante é que a tecnologia vem para tirar a morosidade do trabalho e automatizar tarefas mecânicas e repetitivas, tornando as equipes ainda mais hospitaleiras e tenham mais tempo para a interação e intercâmbio com o cliente.

“Os hotéis que conseguirem fazer a integração de sistemas e apostarem na otimização tecnológica de tarefas repetitivas conseguirão reduzir custos a longo prazo e aumentar a eficiência da equipe de trabalho”, observa Freund. “Carinho, cuidado e atenção são valências humanas, que jamais devem ser deixadas de lado”, finaliza o diretor da Foodservices.

(*) Crédito da capa: Freepik 

(**) Crédito da foto: Divulgação/Webspot