Em contraste com o consenso de mercado, divulgado toda segunda-feira pelo BC (Banco Central), a equipe de economistas do Citi adota uma postura mais conservadora em relação ao ciclo de redução da taxa Selic. Enquanto a mediana das projeções no boletim Focus sugere um declínio até 9,25%, com alguns analistas aventurando-se a mencionar cifras em torno de 8%, o banco americano mantém a perspectiva de que a taxa básica de juros não retornará ao patamar de um dígito, estacionando em 10%, conforme publicou o Valor Econômico.

Leonardo Porto, economista-chefe do Citi no Brasil, justifica a abordagem mais cautelosa da instituição com base em três fatores principais. O primeiro deles está vinculado ao contexto internacional. Porto destaca que as taxas de juros globais permanecerão elevadas por um período substancial, em comparação com os níveis pré-pandêmicos, o que limita a capacidade do BC de promover cortes na Selic. Ele observa que as taxas dos Treasuries, que estavam em 2,5% antes da pandemia, agora ultrapassam ligeiramente os 4%.

Os outros dois fatores dizem respeito ao cenário doméstico: a economia apresenta menor ociosidade, com uma taxa de desemprego de 7,8%, consideravelmente abaixo dos 11,7% registrados antes da pandemia. Além disso, existem pressões salariais que podem dificultar a manutenção da taxa de inflação abaixo de 4%, enquanto o objetivo do BC para os anos de 2024 e 2025 é de 3%. O Citi calcula que, em um período de 12 meses, os salários no Brasil estão avançando 3,8% acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Diante da divergência entre as projeções dos economistas e o alvo central do BC, o Citi sugere que o Copom (Comitê de Política Monetária) poderá ser compelido a encerrar o ciclo de redução da Selic em 10%. Eduardo Miszputen, head de Global Markets do Citi no Brasil, salienta que o desempenho econômico acima das expectativas reduz a probabilidade de pressões políticas para uma queda mais acentuada da Selic, como ocorreu no início do ciclo de redução. “Mesmo com a Selic a 10%, a performance macroeconômica deve ser positiva, e é isso o que determina o viés político por trás da decisão”, afirma.

Momento atual

Atualmente, a Selic está em 12,25%, e tanto o mercado quanto o Citi antecipam uma nova redução de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom.

Esse contexto é relevante, pois taxas de juros mais baixas tendem a estimular o consumo ao tornar o acesso ao crédito mais acessível, além de impulsionar investimentos. Com o acesso ao crédito mais barato, a viabilidade de empreender com novos projetos hoteleiros, por exemplo, é maior.

(*) Crédito da foto: Reprodução/Creci-PB