O Hotelier News segue sua viagem por todo território nacional para contar como foi o impacto da pandemia na hotelaria dos 26 estados brasileiros – além do Distrito Federal. Ainda pelo Norte, e depois do Pará, a reportagem desembarcou em Rondônia para entender como anda a retomada por lá. E, como no resto do país, vários fatores influenciam nessa jornada.

Com forte tendência do turismo corporativo, a hotelaria vai recebendo hóspedes conforme os negócios voltam ao normal. “O corporativo, principalmente o de mineradoras, extração de insumos como madeira e o agronegócio, já está apresentando significativa melhora, com muitas solicitações de orçamentos e reservas futuras a partir de março”, contextualiza Eraldo Santanna, diretor de Operações da Slaviero Hotéis, que administra um empreendimento em Porto Velho.

Ao contrário do que acontece em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, o turismo de lazer passa por uma fase mais complicada, sem excursões e passeios que demandem serviços de hospedagem até o momento. “No interior, em cidades como Cacoal e Ji-Paraná, por exemplo, o reflexo é exatamente o mesmo, com o mercado reaquecendo e os locais de turismo como balneários, ainda com baixa perspectiva”, diz Santanna.

Quem tem uma visão boa da hotelaria local é a Easy Hotéis, que administra seis unidades no estado de Rondônia. Destes, quatro ficam na capital (Larison, Ecos Classic, Ecos Conforto e Golden Plaza) e dois no interior (Ecos Tourist, em Rolim de Moura, e Larison, em Ji Paraná). CEO da empresa, André Carvalho conta que o cenário favorece o corporativo e a falta do lazer está ligada ao pouco incentivo ao turismo local.

“Infelizmente, ainda vemos pouco sendo feito pelo setor público que ajude a fomentar o turismo de lazer. O que é uma pena, pois, além de muito rico no agronegócio, temos também muita belezas naturais, diversos e imensos rios, fauna e flora únicas, além de termos a maior quantidade de espécies de peixes da Amazônia”, comenta.

Rondônia - retomada_Jakson Junior

Junior: hotel de Ji-Paraná foi fechado na pandemia, ficando 40 dias com atividades suspensas

Sobre o momento atual do mercado, a Easy Hotéis revela que o setor teve poucos hotéis encerrando operações. “Cremos que menos de 10% da hotelaria tenha fechado as portas em todo o estado. Na capital, tivemos apenas três propriedades muito pequenas que encerraram as atividades. E, na verdade, já vinham com má gestão antes da pandemia”, comenta. O executivo acrescenta que os meses mais críticos foram abril e maio. “Tivemos uma leve retomada a partir de junho. De setembro a dezembro tivemos bons números. Larison Hotéis, Ecos Conforto e Golden Plaza atingiram uma ocupação acima de 65%”, revela.

Com dois empreendimentos sob administração da Easy Hotéis, a Larison Hotéis passou por momentos diferentes na capital e interior. “Nossa unidade de Porto Velho não fechou, porém a unidade de Ji-Paraná tivemos que fechar por uns 40 dias”, divide Jakson Lima de Queiroz Junior, gerente da empresa.

Ainda em fase de recuperação, a segunda onda atrapalhou os planos de retomada. “Nossa ocupação caiu 40% em relação a 2019. Este ano, já superamos o ponto de equilíbrio, porém longe de nossas metas. Estamos com a totalidade de UHs disponíveis, mas não temos conseguido uma ocupação razoável por conta da pandemia. Estamos atendendo todas as normas exigidas e não exigidas para o cuidado com nossos hóspedes e funcionários”, diz Junior.

Também passa por uma fase de recuperação o hotel da Slaviero, que considera 2020 como um ano para ser esquecido, tendo ainda boas perspectivas para 2021. “Estamos bastante agressivos nas reservas passivas em portais como Booking e Expedia e expondo sempre que possível os cuidados que estamos tendo com todos os processos de limpeza e assepsia nessa época de pandemia”, diz Santanna.

Para atrair hóspedes, a rede paranaense e aposta em oficinas de vinho e chocolate e também em festivais gastronômicos. Assim que o decreto municipal permitir, a volta dos eventos também deve ajudar a movimentar o hotel em Porto Velho. “Estamos confiantes que isso ocorrerá na segunda quinzena de fevereiro”, indica o diretor.

O público da retomada

Santanna comenta que o perfil dos hóspedes não se alterou durante a pandemia. “E também já retornaram as buscas, que é o caso dos viajantes de negócio e executivos em trânsito. Além disso, o poder público e as autarquias estão retornando a operar num mix de home office alguns dias e presencial outros dias. Notamos aumento considerável no segmento fármaco, inclusive com novas redes de drogarias vindo pra cá e também o aumento do fluxo de laboratórios e seus representantes, dos quais podemos citar Cimed, EMS, Pfizer e Halexistar”, conta.

As perspectivas para o turismo de negócios são positivas também devido ao fato de que as operações de mineração e extração não pararam, deixando “estoques” grandes nas empresas que precisam otimizar essa demanda, captando novos negócios e mercados – e a hotelaria participa diretamente desse processo. “Outra notícia boa é que teremos mais 12 leilões de gados e dois concursos públicos sendo realizados ainda em fevereiro. Esperamos que gere uma demanda considerável de hospedagens e consumo de A&B (Alimentos & Bebidas)”, diz Santanna.

Favorecida pelo turismo de negócios, a capital vive um bom momento, em contraste com outras capitais do Brasil que ainda aguardam o retorno do corporativo. “Já no interior a recuperação está mais lenta, e temos visto alguns hotéis com ocupação média em torno de 30%. As cidades que despontam são Porto Velho e Ji Paraná. Para 2021, inclusive, estamos prevendo crescimento exponencial ante a 2020”, pontua Carvalho.

Rondônia - retomada_Eraldo Santanna

Santanna: segmento de fármacos está retomando atividades no estado, gerando expectativa

A influência da malha aérea

Outro fator que desacelerou o movimento de retomada foi o enxugamento da malha área. “Com a diminuição dos voos, óbvio que houve declínio nas hospedagens, tanto de tripulações, como de executivos. Agora, com esse retorno e aumento dos vôos, acreditamos que o cenário se reverta gradualmente de forma positiva”, analisa Carvalho.

Segundo Santanna, a malha aérea influencia muito no setor principalmente em Porto Velho, onde houve uma drástica redução dos voos. “Tivemos uma queda significativa do público de São Paulo, Mato Grosso e Brasília, cerca de 60% a menos que 2019.-Eestamos aguardando o retorno desse público tão ativo e importante para o estado”, comenta.

Enquanto o público não volta, a Slaviero passou a olhar para o público regional, que faz viagens rodoviárias pelo estado. “Com a aviação retomando alguns voos podemos crescer ainda mais a ocupação e a nossa diária média, uma vez que realizamos o RM de acordo com a demanda, principalmente oriunda de outros estados”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Esio Mendes/Governo do Estados de Rondônia