Ontem (10), o processo de concessão do aeroporto Santos Dumont – que havia sido anunciado no ano passado – foi adiado para 2023, a fim de ser realizado em conjunto com outro aeroporto do Rio de Janeiro, o Aeroporto Internacional Tom Jobim. A decisão é consequência do pedido de devolução do terminal pela concessionária Changi Airport. Agora, a ideia é que os dois aeroportos tenham o mesmo operador.

“A partir do momento em que o Galeão está sendo devolvido, já não faz mais sentido caminhar com a estruturação do Santos Dumont de forma isolada. Nós vamos estudar os dois aeroportos conjuntamente”, disse Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, em entrevista à Folha de São Paulo. “Vamos fazer uma licitação nova, uma oitava rodada. Teremos um mesmo operador de Galeão e de Santos Dumont”, complementa.

Galeão: dificuldades

Localizado na Ilha do Governador, o Galeão já vinha enfrentando dificuldades em sustentar a operação desde antes da pandemia. Em 2020, a crise sanitária, que provocou uma queda de 90% no número de voos no Brasil, enfraqueceu ainda mais a atividade do aeroporto. De acordo com a Anac (Agência de Aviação Civil), o Santos Dumont, situado no centro da capital fluminense, demonstrou melhor recuperação do nível de operação pré-pandemia.

Entretanto, o fator crítico para a devolução seria o temor da potencial concorrência predatória por parte do Santos Dumont, por conta dos investimentos previstos na sétima e última rodada de leilões de aeroportos. A ampliação da oferta de voos no terminal poderia afetar a demanda de operações do Galeão, que é importante para a recepção de turistas internacionais, já que foi projetado para receber aeronaves maiores.

O ministro ressalta que, tendo um mesmo operador para ambos aeroportos, essa eventual competição deixa de existir. “Como os dois aeroportos vão estar em um mesmo bloco, essa preocupação não faz mais sentido”, reforça.

Trade carioca se posiciona

Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro) e do conselho da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro), fez considerações acerca do leilão dos aeroportos.

Em sua fala, Lopes pontua que a saída da operadora Changi do Galeão é extremamente negativa, pois provoca insegurança jurídica e prejudica o trato com investidores no Brasil. Por outro lado, ele destaca que a oportunidade de fazer a concessão conjunta dos aeroportos deixa a situação muito melhor para o Rio de Janeiro, pois torna os dois equipamentos complementares.

“Precisamos acompanhar o processo, porque nada pode ser feito de forma tão açodada. Uma alternativa teria sido a tentativa de acordo com a Changi, para que ela operasse os dois aeroportos de forma conjunta. Seria muito mais lógico”, destaca.

Em contrapartida, o Rio Convention & Visitors Bureau, apesar de lamentar a decisão da concessionária, vê a licitação conjunta dos aeroportos como uma possível resolução para o impasse.  A entidade acredita que a solução proposta anteriormente pelo governo federal – que previa o aumento do número de voos para o Santos Dumont – seria prejudicial à malha aérea do principal destino turístico do país.

“Portanto, a realização da licitação dos dois aeroportos em bloco deve garantir que os terminais funcionem de forma complementar, gerando um equilíbrio nas operações. Desta forma, o Rio Convention Bureau torce para que esta situação seja resolvida o quanto antes para evitar prejuízos não só para o turista mas também para a economia do Rio de Janeiro.”, declarou o CVB em nota.

A Fecomercio-RJ (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Rio de Janeiro) também avaliou a mudança, e afirmou em comunidado à imprensa que a desistência de uma concessão é sempre uma perda. “Todavia, uma vez aceita a devolução, abrem-se novas e excelentes perspectivas para a concessão conjunta de Galeão e Santos Dumont. Assim, é plenamente viável que a nova modelagem vá resultar em um leilão bastante competitivo dos dois ativos”, pontua Delmo Pinto, assessor da presidência da entidade.

“Neste novo momento, são excelentes as perspectivas de o Rio voltar a ser um player de primeira grandeza no cenário da aviação no Brasil”, finaliza a Fecomércio-RJ.

(*) Crédito da foto: Divulgação