O cenário econômico do país segue sentindo grandes impactos gerados pela pandemia – principalmente no que diz respeito ao potencial de consumo da população. De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela TransUnion, 40% das famílias brasileiras relataram queda da renda mensal no primeiro trimestre de 2022. A redução foi alavancada por perda de emprego ou cortes salariais.

O panorama gera um sinal de alerta para o turismo. Segundo o estudo, divulgado pelo G1, jantar fora, viajar e pagar ingressos de shows e cinema estão entre os cortes de gastos de 49% dos entrevistados. Já outros 43% alegam que compras caras, como eletrodomésticos, carros e roupas estão suspensas nos próximos três meses. Além da queda da renda, a inflação também é um ponto de peso no comportamento de consumo de 84% dos respondentes.

Os números podem assustar, mas Pedro Cypriano pondera que é preciso analisar os dados com maior profundidade. “É necessário entender quantas pessoas foram entrevistadas e em quais mercados. Entretanto, é fato que o momento atual de inflação e taxas de juros afeta o turismo no país”, analisa o especialista em investimentos hoteleiros. “Digo isso, pois o cenário não incentiva investimentos no setor produtivo e, consequentemente, existe uma menor geração de empregos. Em uma reação em cadeia, sem trabalho a renda cai e o consumo também”, explica.

O levantamento da TransUnion aponta que o impacto foi maior para as famílias de baixa renda. Entre a parcela da população que ganha até R$ 1 mil, 53% afirmam que o orçamento encolheu no primeiro trimestre. Para pessoas com renda mais alta, a redução afetou 35% – considerando a faixa de renda entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Já famílias com orçamento acima de R$ 10 mil, a queda chegou para 24% dos entrevistados.

“A queda da renda mensal atinge com mais força a classe mais baixa, que não é a que mais viaja, infelizmente. Quando olhamos para um recorte de famílias com orçamento mais elevado, o impacto é menos expressivo. E isso está refletido nos resultados do setor hoteleiro. Nos últimos meses, empreendimentos de luxo apresentaram recordes históricos de faturamento, com demandas e diárias crescendo”, acrescenta Cypriano.

Com o orçamento mais apertado, 77% dos entrevistados dizem que a maior preocupação é pagar as contas, como as de manutenção da casa e empréstimos. Entre as pessoas que perderam renda, 60% disse que não conseguiria pagar pelo menos uma das contas atuais.

Polarização da retomada

Cypriano ressalta que o aumento dos juros e a menor propensão a investimentos reforçam as diferenças nas retomadas do corporativo e do lazer. “Enquanto a economia real estiver fragilizada e as perspectivas do país forem incertas, é natural que o turismo de negócios apresente uma recuperação mais longa. As empresas continuam com margens apertadas e a volatilidade deve seguir presente”.

Por outro lado, o lazer segue caminhando com demanda reprimida e catalisada pelo controle da pandemia. “Neste caso, não podemos analisar apenas inflação e taxas de juros. A desvalorização do real tem um peso muito grande e é preciso entender o que está por trás disso, que são milhares de viagens ao exterior que deixam de acontecer, estimulando o mercado doméstico”, complementa.

Estamos quase na metade de 2022 e o especialista acredita que, até o fim do ano, poucas mudanças acontecerão. “Ao meu ver, o corporativo seguirá reagindo, mas na média do ano ainda abaixo do pré-pandemia, especialmente em tarifas (em valores reais). Por outro lado, podemos esperar resultados positivos para o lazer. Já em médio prazo, se a economia não reage, todos os segmentos podem sofrer”, finaliza.

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay