Diante do recrudescimento da pandemia, as consequentes medidas de restrição e o anúncio do fechamento temporário de resorts, um questionamento natural para quem atua no setor é se poderíamos testemunhar um efeito dominó que chegaria às grandes operadoras. Seria um dejá vu, não é verdade? A crise, contudo, deixou muitos ensinamentos e, hoje, as redes não parecem dispostas a repetir esse filme.

Em conversa com a reportagem, algumas das principais lideranças das operadoras nacionais explicaram suas razões. E, pelo que apuramos, há duas “correntes”: uma que terminantemente não recomenda seus investidores a tomar essa drástica medida e outra que inicialmente é contra e só pensaria na possibilidade em caso de reedição da MP 936. E, ainda assim, fazendo uma análise caso a caso, praça por praça.

Antes de detalhar as opiniões de cada “corrente”, é importante ressaltar variáveis relevantes que dificultam qualquer tomada de decisão. Primeiro, decretos municipais ou estaduais. Se um governo (municipal ou estadual) tira hotéis da lista de serviços essenciais e decreta um lockdown mais restrito, não há o que fazer. “No estado onde atuamos não há essa determinação neste momento. Agora, se a regra mudar, que a lei seja cumprida!”, disse um executivo ao Hotelier News.

Segundo, a imprevisibilidade do momento. Ainda não é possível saber ao certo quanto tempo podem durar as novas medidas de isolamento social. Em São Paulo, por exemplo, a Fase Emergencial inicialmente dura até 30 de março, mas ontem (17) o governador João Dória sinalizou que pode endurecê-la, dada a situação crítica do sistema de saúde. Por sua vez, Minas Gerais entrou na onda roxa, com validade por 15 dias.

“Então, neste momento, o ideal é esperar e fazer uma aposta de que em 15 dias haverá uma evolução no controle da doença. Então, fechar agora até o fim do mês sem clareza do que vai ocorrer não faz muito sentido. Se a coisa piorar… aí revê lá na frente”, argumenta um dos consultores mais respeitados do mercado. “A operação já está enxuta, o breakeven já está baixo. Se é para esperar, é melhor fazer isso aberto. Os caixas seguem apertados e é preciso lembrar que fechar e reabrir os hotéis também têm custo”, completa.

Fechamento e as correntes

Um dos principais argumentos da primeira turma tem a ver com a retomada – e ensinamentos do ano passado. Segundo eles, a experiência mostrou que, mesmo não sendo regra, hotéis que ficaram fechados tiveram uma recuperação mais penosa em comparação com os que permaneceram em atividade. Gráfico da STR (veja abaixo) deixa isso um pouco mais claro, mesmo sendo de um mercado bem distante do Brasil: em Edimburgo, quem esperou demais para reabrir (linha mais escura) acabou performando bem pior antes e ao fim do lockdown na cidade.

Fechamento - opção das grandes redes_gráfico STR 1

 

Além disso, a diferença de volume de custos entre manter uma operação enxuta (realidade atual de qualquer hotel urbano) e fechar temporariamente (que também envolve gastos) não é absurdamente expressiva. “Paralisar operações significa também fechar os canais de distribuição e, com isso, perder muitos clientes. No caso das OTAs, por exemplo, é preciso fazer todo um trabalho de reconstrução de posicionamento e relevância do hotel na plataforma, e isso pode atrasar a chegada ao ponto de equilíbrio”, argumenta um executivo de uma das grandes redes do país. “Então, agora, optamos por deixar nossas unidades ‘hibernando’, com uma estrutura de custo bastante enxuta.”

Outra grande liderança do setor seguiu linha parecida e disse ter feito recomendações explícitas aos gerentes gerais. “Os custos já estão reduzidos. Agora, portanto, é hora de revisitar os indicadores dos meses do início da pandemia, pois já temos subsídios que nos permitem a elaboração de um fluxo de caixa mais preciso para os próximos três meses, identificando a necessidade de aporte, que, se necessário, deve ser o mais baixo possível”, comenta.

Na outra corrente dos executivos ouvidos, fechar temporariamente sem a reedição da MP 936 simplesmente não é uma possibilidade. “Neste momento de incertezas, é preciso preservar ao máximo o caixa. Diante disso, e tendo a MP, em algumas situações pode fazer sentido fechar o hotel. É fazer conta”, diz o sócio de uma rede hoteleira. “Ainda assim, é uma análise hotel por hotel. Tudo depende da praça e da segmentação de clientes. Se for um empreendimento que depende de eventos, por exemplo, fechar pode fazer mais sentido, porque esse mercado não volta ainda neste semestre”, acrescenta.


Fechamento - opção das grandes redes_interna

E o independente, como decidir?  

  • Veja o decreto da sua cidade
  • Segmentação de cliente conta
  • Imprevisibilidade atrapalha? Sim!
  • Sem MP 936, fica mais complicado fechar
  • Operação já está enxuta: por que fechar?
  • Breakeven já reduzido, então melhor esperar
  • Entenda o fôlego do seu caixa
  • Fechamento gera retomada comercial mais penosa

Para todos eles, contudo, uma coisa é certa. Agora, mais do que nunca, é hora de mostrar a capacidade de gestão das operadoras. “Temos que trabalhar, sermos profissionais e mostrar toda nossa capacidade de gestão. Já fizemos isso no ano passado, baixando custos e criando protocolos comprovadamente eficientes. Agora, será a mesma coisa”, finaliza um CEO de uma das principais redes do país.

(*) Crédito da capa: qimono/Pixabay

(**) Crédito do infográfico: STR

(**) Crédito da foto: geralt/Pixabay