Para alguns, a hotelaria é amor à primeira vista e paixão para a vida inteira. Para outros, é só um trabalho, mais um meio para um fim. Em ambos os casos, a jornada é cansativa e, geralmente, composta por uma escala seis por um. Para sobreviver a ônibus lotado, carga laboral intensa e turnos de final de semana, o colaborador precisa ter suas necessidades básicas atendidas — e o reconhecimento é uma delas. Se o seu foco é a retenção de talentos, elogie-os.

Especialmente no setor hoteleiro, que vem passando por um apagão de mão de obra há algum tempo, isso ajuda a manter por perto os bons profissionais é essencial. “Os desafios de retenção passam por uma série de elementos. Se olharmos para a pirâmide de Maslow, é preciso garantir o mínimo para os colaboradores. Boa alimentação, sono de qualidade e salário justo vêm, é claro, antes do reconhecimento”, pondera Trícia Neves, co-fundadora e sócia-diretora da Mapie, em entrevista para o Hotelier News.

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Pirâmide de Maslow

O conceito citado pela executiva refere-se a uma hierarquia de necessidades. Primeiro, na base da pirâmide e mais importante, estão as necessidades fisiológicas. Depois, vem a segurança, as necessidades sociais e as de estima. Por fim, no topo da imagem, está a autorrealização.

É claro que uma cultura de desenvolvimento profissional e feedbacks constantes, positivos ou construtivos, não retém o talento que recebe um salário injusto. Contudo, a falta dessas práticas pode levar o profissional a buscar novos desafios. “O que é preciso fomentar dentro das empresas é uma cultura de feedback, focado no desenvolvimento do colaborador que está recebendo essas observações”, afirma Trícia.

Lina Nakata, bacharel, mestre e doutora em Administração pela USP (Universidade de São Paulo), enxerga a pirâmide de outra forma. “Cada pessoa tem sua complexidade. A autoestima e autorrealização podem ser mais importantes do que as necessidades sociais para alguns profissionais, por exemplo”, pondera. “A pirâmide pode ser uma base, mas não é, de forma alguma, uma regra. Mesmo com todas as necessidades fisiológicas atendidas, um ambiente que só pontua os seus erros, por exemplo, não tem como ser saudável”, enfatiza.

Para Gizele Vidal, gerente de Business Partner da LG lugar de gente, startup de Recursos Humanos, sentir-se parte do time e ter um ambiente seguro de fala é essencial. “Trabalhar com escuta ativa e estabelecer um processo de confiança com os profissionais é essencial para que o colaborador permaneça engajado, tenha alta performance, alavanque a sua carreira e se sinta mais realizado ao fazer parte da empresa”, diz a profissional.

Como criar uma cultura positiva? 

Entendida a importância de um bom ambiente profissional, vem outro questionamento: como implementar uma cultura saudável? Para Trícia, a resposta pode estar na metodologia de desenvolvimento por pontos fortes. “A metodologia diz que você nunca será aquilo que  não é. Tirar da frente as expectativas é importante, para ajudar o colaborador a ser o melhor daquilo que ele já é, compensando possíveis falhas com outros talentos”, afirma.

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Práticas coletivas reforçam a cultura positiva

Lina pontua que as trocas de reconhecimento não precisam ser feitas somente na modalidade gestor e colaborador. “Ter um mural em que as pessoas possam colocar recadinhos para os colegas, com agradecimento por alguma ajuda que receberam, por exemplo, é uma estratégia válida”, diz.

Considerando a carga pesada da hotelaria, Gizele pontua a importância de um espaço de descompressão. “A criação de espaços dedicados à descompressão é essencial para proporcionar aos colaboradores um ambiente confortável para pausas rápidas durante a jornada. Estes locais podem ser projetados para oferecer conforto e relaxamento, incentivando os membros da equipe a desconectar, desfrutar de um café e recarregar as energias”, sugere.

“Essa prática não apenas contribui para o bem-estar individual, mas também promove uma cultura empresarial que valoriza o equilíbrio entre trabalho e descanso”, enfatiza. Além disso, ela sugere a implementação de programas coletivos de bem-estar, como pequenas pausas para realizar ginástica laboral. “Parcerias com instituições como SESI e SESC podem enriquecer esses programas, oferecendo recursos especializados para a promoção do bem-estar no ambiente de trabalho”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Freepik

(**) Crédito da pirâmide: Reprodução/Alura

(***) Crédito da foto: drobotdean/Freepik