O ano de 2023 encerra-se com números significativos para a hotelaria. Alcançar os patamares pré-pandemia já é uma meta superada para hotéis de várias regiões pelo país, incluindo a franquia Comfort Hotel Santos, empreendimento hoteleiro do qual minha empresa tem o privilégio de ser a administradora. Com isso, o gap que inviabilizava novos projetos hoteleiros diminuiu, tornando esse ativo mais atrativo para o mercado imobiliário. Bem, daí para iniciarmos um novo ciclo robusto de investimentos são outros quinhentos, mas, sem dúvida, o cenário está melhorando.

Parte disso ocorre porque as taxas de juros iniciaram, ainda no início do segundo semestre, um ciclo de redução. Após a confirmação pelo BC (Banco Central) da Selic fechando o ano em 11,75%, a projeção do indicador para 2024 ficou em 9,25%, segundo o último boletim Focus do mesmo BC. A estimativa para 2025 manteve-se em 8,50%, enquanto, para 2026, permaneceu nos mesmos 8,50% há 19 semanas seguidas.

E, de fato, a Selic em patamares mais baixos desempenha papel crucial no cenário econômico, influenciando diversos setores, incluindo a indústria hoteleira. No contexto específico de novos projetos, a relação entre a taxa básica no Brasil e a viabilidade financeira é significativa.

A principal vantagem reside na redução dos custos de empréstimos. Com taxas de juros mais baixas, os financiamentos necessários para construir ou expandir hotéis tornam-se mais acessíveis. Isso, por sua vez, diminui a carga financeira sobre os ombros dos investidores e, com maior disponibilidade de capital em condições mais vantajosas, há um estímulo natural para o desenvolvimento desse produto imobiliário.

Além disso, a taxa básica de juros, estando mais baixa, cria um cenário mais propício para a economia. Há vantagens dos dois lados (e pensando na indústria de turismo): primeiro, com acesso a crédito mais facilitado, cria-se um macroambiente que estimula mais viagens, sejam de lazer ou, principalmente, de negócios.

Na outra ponta, o investimento em projetos hoteleiros não apenas beneficia os empresários do setor, mas também contribui para a criação de empregos, desenvolvimento de infraestrutura e impulsiona a economia local. Mais negócios surgem na esteira da hotelaria.

Entretanto, é importante destacar que, embora as taxas de juros mais baixas ofereçam oportunidades substanciais, a gestão eficaz dos projetos hoteleiros permanece como fator crucial. Aspectos como localização estratégica, marketing eficiente e atendimento ao cliente continuam a desempenhar papel vital no sucesso a longo prazo de empreendimentos no setor.

Aproveitando o ensejo, gostaria de abordar um ponto importante quando o assunto são os projetos hoteleiros. Como costumam dizer especialistas no mercado, três fatores são cruciais para o sucesso de um projeto: localização, localização e localização. Hoje, vejo pouca disponibilidade de terrenos em capitais e muita dificuldade para cidades-polo regionais. Obviamente, boas localizações existem, mas a um custo muito alto, o que pode (novamente) aumentar o gap da viabilidade financeira de um projeto. Ah, e lembrando que localização é tudo e nada ao mesmo tempo. Ou seja, uma boa localização com um projeto formatado de forma incorreta também é uma cilada!

Em resumo, apesar do otimismo que reina no mercado hoteleiro neste momento, não creio que veremos um ciclo mais forte de investimentos hoteleiros no Brasil nos próximos anos. Produzido pela HotelInvest, o estudo Panorama da Hotelaria Brasileira em 2023 corrobora minha opinião, revelando uma nova oferta pequena para a hotelaria em um horizonte de curto prazo. Talvez, a exceção seja a multipropriedade e os produtos short-term rental em algumas capitais (micro apartamentos residenciais com serviços), mas isso é assunto para outro artigo.

Por enquanto, como mencionei, o ambiente está melhorando, a inviabilidade dos anos anteriores reduziu bastante, mas um ciclo intenso deve demorar mais um pouquinho. Afinal, projetos hoteleiros são de longo prazo, e nunca podemos esquecer que vivemos no Brasil, onde tudo, absolutamente tudo, pode acontecer!

Com mais de 20 anos de experiência em gestão hoteleira, Mateus Cabau acumula passagens por Marriot e Atlantica Hotels. Em 2013, mudou-se para os EUA, onde, entre outros projetos e posições profissionais, atuou como co-desenvolvedor da primeira unidade da Red Collection: o Spot X, que fica na região de Lake Buena Vista, em Orlando. Atualmente, por meio de sua empresa brasileira de consultoria, é responsável pela gestão da franquia do Comfort Hotel Santos, em Santos (SP). Cabau ainda realiza palestras e consultorias para hotéis.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal