O caminho da retomada a ser percorrido pela hotelaria ainda é longo e cheio de percalços, conforme indicam dados da pandemia da Covid-19 no Brasil. Com quase 17 milhões de cidadãos que tomaram a primeira dose da vacina, segundo dados das secretarias estaduais de Saúde, incertezas sobre a imunização da população e flexibilização de restrições atrapalham o andar do turismo. Mesmo assim, segundo especialistas do segmento, quando a situação se normalizar, o mercado de lazer será a válvula de escape e reerguerá o setor no país.

A chamada demanda reprimida por viagens, por exemplo, é um dos fatores que podem movimentar o turismo quando viajar for mais seguro. Neste caso, existe uma estimativa da Global Data de que um recorte específico das pessoas acumulou recursos em meio à pandemia.

No entanto, esse cenário é imaginado em países com economia estável, diferente do que vive o Brasil no momento. Existe, então, razão e veracidade em afirmar que o lazer deve se destacar após tudo isso? Alguns acreditam que sim.

Lazer: visão do investidor

Lazer

Cypriano: reestruturação socioeconômica é um dos caminhos

Um dos otimistas e entusiastas dessa teoria é Pedro Cypriano, sócio-diretor da Hotel Invest. Segundo ele, é possível acreditar no crescimento da demanda pós-pandemia se fundamentando em três pontos. O primeiro deles seria acreditar que, até junho de 2021, a maior parte da população de risco esteja vacinada. Isso, em sua visão, descongestionará o sistema de saúde e permitirá a abertura econômica.

“O segundo ponto é de que não tínhamos vacinas no último trimestre de 2020 e o setor de lazer reagiu bem. Agora, com a campanha de imunização, o impulso na demanda deve ser ainda mais forte. Por fim, acredito que os efeitos da valorização do real serão suficientes para compensar, economicamente, qualquer perda da hotelaria”, salienta o executivo.

Além disso, Cypriano vê este momento que “se aproxima” como oportunidade única para o consumo desse tipo de produto aumentar. Nessa lógica, até mesmo destinos pouco conhecidos devem ganhar mais relevância, tendo em vista situações como a desvalorização do real. “Parte expressiva de um contingente de pessoas que preferiam Europa ou Estados Unidos vão, agora, consumir produtos domésticos”, explica.

Para ele, além de cativar o cliente, o setor de lazer terá que entender por quanto tempo esse incremento deve se manter. Com expectativa de altas na ocupação e diária na hotelaria de lazer no segundo semestre, o desafio será a manutenção da tendência. O executivo indica que a reestruturação socioeconômica do país é a principal ação para isso.

“Minha maior preocupação está na capacidade de organização político-econômica do Brasil do que na capacidade do turismo superar a pandemia”, conclui o profissional.

Hoteleiros

Casa Hotéis

Peccin: turismo doméstico vai se fortalecer

Aos que lidam diretamente com demanda baixa, restrições constantes e falta de dinheiro, é provável que o impacto seja maior. Como acredita-se que o lazer deve ser o principal aliado da hotelaria na retomada, a perspectiva de Rafael Peccin, diretor de Marketing do Casa Hotéis não se diferencia muito do que já foi lido até aqui.

Com quatro empreendimentos na Serra Gaúcha, voltados de forma geral para uma classe mais abastada, a coleção também está do lado otimista do segmento. “A vacinação está avançando, ainda que lentamente, e com a colaboração de todos, as taxas de ocupação voltarão a crescer”, afirma.

Para Peccin, o turismo interno se fortaleceu e deve ficar em alta por muito tempo. “Além de fatores como o dólar alto e restrições de viagens ao exterior, acredito que o brasileiro descobriu que viajar pelo próprio país é enriquecedor”, salienta o diretor.

Uma indicação do executivo é a criação de políticas mais diretas para o turismo como um todo. A ajuda de governos estaduais e federal no desenvolvimento e incentivo ao setor pode influenciar no surgimento de negócios, além de dar início a obras de infraestrutura. “O empresariado brasileiro quer continuar investindo no turismo, mas também precisamos que o governo queira”, cita.

Iberostar

lazer

Giglio: trabalhar com protocolos e estratégias é essencial

Com expertise do mercado europeu, a rede espanhola Iberostar mantém bons resultados durante a pandemia. A estratégia, aplicada em todas as unidades, aliou protocolos rígidos de segurança e saúde ao não fechamento da maioria dos empreendimentos. Até mesmo no Brasil, onde os resorts Iberostar Praia do Forte e Bahia paralisaram suas operações por um curto período, a companhia registrou números positivos.

“Estamos com ocupação média de 78% durante a pandemia, prova do trabalho que fizemos para evitar maiores danos no começo. Com 299 itens no protocolo ‘We Take Care’ e muita resiliência nos primeiros impactos, analisamos o mercado e entendemos onde a demanda cresceria: lazer”, explica Orlando Giglio, diretor da Iberostar para o Brasil.

Por conta dessa leitura, Giglio afirma que, no momento, “não existe” corporativo tradicional e Mice na hotelaria. “É preciso se adaptar para o que os hóspedes procuram agora e aguardar o retorno destes segmentos em 2022. A aposta do momento é no lazer por conta do alto câmbio do dólar”, comenta.

Entre dicas, o executivo citou a necessidade de criar campanhas publicitárias voltadas ao lazer brasileiro, além de entender melhor o conceito de anywhere working. “Os caminhos começam a abrir conforme a vacinação acontece e é preciso evoluir junto. Pensar no longo prazo é preciso para que a hotelaria volte a ter bons resultados”, encerra Giglio.

(*) Crédito da foto: Michael Jasmund/Unsplash

(**) Crédito da  foto: Divulgação/Hotel Invest

(***) Crédito da foto: Evandro Bueno/Casa Hotéis

(****) Crédito da foto: Divulgação/Iberostar