Apesar de já termos começado o ano, alguns dos fatores mais importantes de se pensar são:

  • Ter estabelecido o budget anual
  • Revisar custos e margens
  • Avaliar percentual de reajuste das tarifas

E sobre estes três pontos, vou trazer algumas reflexões.

Vimos que, no último ano, gestores de hotéis tiveram muitas dificuldades em fazer previsões a partir de dados históricos, visto que os números ainda estavam comprometidos pela pandemia de 2020 e 2021. Ainda assim, entendo que estamos cada vez mais nos distanciando das comparações de 2019 para celebrarmos excelentes resultados este ano.

Teremos não só oportunidade de grande demanda do mercado nacional, já que o câmbio está distanciando os brasileiros das massivas viagens ao exterior, como também a volta do público internacional, que tem diante de si preços especialmente atrativos, além do retorno dos segmentos de grupos e de eventos.

De antemão, podemos afirmar que as perspectivas do turismo para 2023 são essencialmente boas e que os números devem voltar ao patamar pré-pandêmico com grande superávit. Inclusive, esta informação foi confirmada e bastante celebrada pela WTTC (World Travel & Tourism Council) durante a realização do Summit Global, em abril de 2022. Segundo as projeções da entidade, a indústria de viagens movimentará perto de US$ 9,6 trilhões (cerca de R$ 50 trilhões) na economia mundial.

Mesmo com a alta da inflação, principalmente nas passagens aéreas que apresentaram aumento de aproximadamente 40%, o consumidor não deixou de viajar nos últimos meses e evidenciamos aumento expressivo nas vendas em 2022. Isso porque, após a pandemia, viajar se tornou um “bem emocional” para boa parte do mundo. Em 2022, atingiu-se quase 90% da demanda de passageiros comparados a 2019, de acordo com a CCR aeroportos.

Segundo boletim da Braztoa, a expectativa é que o turismo tenha um crescimento em torno de 50% em comparação a 2022. No último trimestre do ano passado, por exemplo, muitas empresas já tinham elevado em 100% o faturamento em relação ao mesmo período de 2021.

Como cenário global de inflação e juros altos deve resultar em um crescimento tímido do PIB, então acredito que a recuperação dos preços da hotelaria se dará mais com o aumento da diária média do que relativamente com um salto na ocupação dos hotéis.

No último trimestre, a hotelaria conquistou aumento de tarifas maiores que o mesmo período de 2019. Então, não podemos cair na tentação de voltar a diminuir tarifas caso a demanda não corresponda. Estamos em um bom momento para fixar tarifas mais altas e trabalhar melhor o aumento gradativo, mas constante, dos preços.

Precisamos levar em consideração que insumos aumentaram, mão de obra está cada vez mais cara, muitos hotéis ainda estão quitando dívidas e empréstimos do período da pandemia, além dos investimentos e adaptações que tiveram que fazer a respeito das adequações sanitárias e investimento em tecnologia.

Se analisarmos friamente, teríamos que imprimir um aumento médio de 40% nas tarifas, o que para sustentar esta média anual ainda é uma tarefa quase impossível, embora muitos hotéis tenham registrado aumentos em torno de 15% a 20% da sua diária média em 2022.

Fora alguns destinos com demanda específica, como o caso do segmento do Agronegócios em Goiânia, os destinos com viés de lazer conseguiram superar o benchmarking de 2019 ainda no segundo semestre de 2022.

Já para 2023, temos ótimas expectativas também para destinos corporativos, a começar por São Paulo, que, segundo Boletim do FOHB em parceria com a HotelInvest, projetam aumento em torno de 15% na diária média anual. Ou seja, destinos de lazer superaram um aumento de tarifas maior que 10% e os destinos corporativos tendem a seguir a mesma linha.

Então como vão as suas revisões de tarifas? Ainda estamos sendo conservadores demais ou estamos trabalhando a favor do mercado, aproveitando esta tendência de compra?

No que se refere ao ajuste e ganho de margem, os hoteleiros aprenderam a importância de investir nos seus canais próprios e gerir melhor seus custos de distribuição. Dar atenção ao próprio website e na comunicação direta com os hóspedes vai resultar não só em uma diária líquida maior, como em oportunidades de vendas adicionais muitas vezes não exploradas em alguns mecanismos de busca e compra online.

A pandemia nos trouxe o “algo a mais” dos hotéis. Consumidores não estão comprando só diárias de hotel com cama e café. O cliente quer viver a experiência e está disposto a pagar por isso, basta os hotéis investirem em como comunicar este valor agregado aos seus clientes e conseguir incrementar mais as suas tarifas.

Teremos muitos estímulos na demanda pelos feriados prolongados de 2023, que devem movimentar cerca de R$ 74 bilhões no turismo. Ao todo, são oito feriados nacionais e cinco pontos facultativos.

Acredito que precisamos colocar em prática tudo que os dois últimos anos nos ensinou sobre ferramentas para gerar dados, tecnologia para acelerar os processos manuais e pessoas boas para trabalharem as visões estratégicas de cada empreendimento.

Karol Garrett é especialista em distribuição, revenue management, transformação digital e inovação em hotelaria. Possui certificações internacionais na área de pricing e no decorrer dos 18 anos de sua carreira se dedicou a expansão de novos negócios de brokers da Europa, atuou como hoteleira e possui sua própria empresa de consultoria em RM há 15 anos.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal