Em uma sequência de avanços, o ICF (Intenção de Consumo das Famílias) atingiu seu maior patamar desde o início da pandemia. Em agosto, o indicador alcançou 82,1 pontos — superior aos 95,6 pontos registrados em abril de 2020 e também acima dos resultados para o mês nos dois anos anteriores, segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

De acordo com a entidade, o indicador subiu 1,1%, mantendo a tendência de alta iniciada em janeiro deste ano. O ICF mede, em uma escala de 0 a 200, a satisfação dos consumidores em relação ao cenário de consumo. Resultados abaixo de 100 sugerem insatisfação, enquanto os acima desse valor apontam satisfação.

Para compor os resultados, são considerados os Índices de Emprego Atual, Perspectiva Profissional, Renda Atual, Acesso ao Crédito, Nível de Consumo Atual, Perspectiva de Consumo e de Momento para Compra de Bens Duráveis, como eletrodomésticos, por exemplo.

O resultado para o mês de agosto foi fortemente baseado no consumo das famílias com rendimentos acima de dez salários mínimos. Para esse grupo, a intenção de compras subiu 3,3%; para o grupo de menor renda, o ICF apresentou variação de 0,4%, o que indica estabilidade.

Um dos destaques é o indicador Nível de Consumo Atual, com crescimento de 2,8%, o maior dos últimos seis meses. Ele é medido a partir das respostas dos entrevistados a respeito do quanto as famílias estão comprando em relação ao ano passado (mais, menos ou a mesma quantidade). “Importante destacar que esse item foi o que obteve o maior crescimento em ambos os grupos de renda”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC.

Nesse quesito, as famílias consideradas mais ricas apresentaram avanço quase três pontos percentuais acima do crescimento apresentado pelas de menor rendimento. “O melhor desempenho do índice para esses consumidores pode ser atribuído à maior disponibilidade de renda e ao menor peso dos juros altos no endividamento”, analisa Tadros.

Outro índice que apresenta a maior pontuação desde abril de 2020 é o de segurança no emprego atual. A maior parte dos consumidores, 33,3%, revelou que se sente mais seguro do que em 2021. Em relação à perspectiva de melhoria profissional, houve recuo de 0,3% em relação a julho – no conjunto de respostas, a expectativa do grupo com rendimentos abaixo de 10 salários mínimos caiu 1%, mas os consumidores com renda acima desse nível estão 2% mais otimistas em relação ao emprego.

Acesso ao crédito

As famílias com maior renda se mostraram satisfeitas com o acesso ao crédito em agosto, com indicador acima dos 100 pontos, o que não acontecia desde março deste ano. “Apesar do aumento do auxílio para as famílias de menor renda, esses consumidores estão cautelosos, principalmente pela inflação em nível ainda elevado, alto endividamento e custo do crédito crescente”, pontua Catarina Carneiro, economista responsável pela pesquisa.

Maioria das vagas é ocupada por jovens

O avanço do mercado de trabalho vem em contraponto a esses desafios. Os mais jovens, aqueles com idade abaixo de 35 anos, são os que ocuparam 80,6% das vagas de emprego abertas em junho, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Por conta disso, são eles também os que apresentaram maior disposição para consumir, tanto no que diz respeito ao indicador (72,2 pontos) quanto à sua evolução anual (21,3%).
Apesar das incertezas econômicas, as famílias com menor renda revelaram melhora de sua perspectiva para consumir no próximo trimestre, com aumento de 0,5% do indicador em agosto, após queda de 0,1% em julho. Ao considerar todos os respondentes, o item também progrediu, acelerando 0,8% no mês, contra alta de 0,2% apresentada no mês anterior.

(*) Crédito da foto: stevepb/Pixabay