Corroborando com a avaliação de especialistas, a privatização do aeroporto de Congonhas verifica interesse limitado devido à deterioração do cenário econômico global e incertezas políticas em virtude da proximidade das eleições. Prevista para o dia 18 de agosto, a disputa pela concessão do terminal paulistano e outros 14 ativos é pertinente para muitos grupos, mas poucos parecem determinados a participar.

De acordo com técnicos do Minfra (Ministério da Infraestrutura), os três grupos a persistirem no leilão são a brasileira CCR, a espanhola Aena e a francesa Vinci. Já a suíça Zurich e a alemã Fraport alegaram que não participariam da disputa sozinhas. As empresas não confirmaram se planejam se unir em consórcio.

“O governo reconhece as dificuldades envolvidas devido ao cenário macroeconômico global, mas vamos manter o leilão porque não há outro aeroporto no mundo neste momento com a relevância de Congonhas para o setor”, afirmou Ronei Glanzmann, secretário de Aviação do Minfra, à Folha de São Paulo. “Os investidores com quem falamos alertam para as incertezas e dificuldades, mas todos reconhecem a importância de um aeroporto como esse”, acrescenta.

Vale ressaltar que o leilão tem a intenção de “unir o filé ao osso” ao incluir outros 14 terminais menos atraentes que o movimentado aeroporto de Congonhas no desenho do bloco. Para abraçar a disputa, os interessados devem estar dispostos a arcar com mais de R$ 6 bilhões de investimento ao longo do prazo de concessão de 30 anos. Desse valor, R$ 3,3 bilhões destinam-se apenas ao terminal da capital paulista.

Política e economia: incertezas

Não é só no Brasil que a economia trás incertezas sobre o futuro. No exterior, muitos grupos interessados vêm enfrentando restrições diante do cenário de recessão na Europa e nos EUA. O panorama abre a possibilidade de alta nas taxas de juros, o que afeta diretamente a viabilidade de financiamentos em infraestrutura.

No Brasil, a crise, o quadro fiscal deteriorado, devido à ampliação das despesas do governo Bolsonaro em busca de reeleição, e as incertezas quanto ao câmbio e alta de juros, colocam em risco a operação aeroportuária. O cenário inclusive vem afetando outras disputas por concessões, como as rodovias Rio-Valadares e Rodoanel Norte.

“Temos um ano difícil no país, com custo de capital explosivo, e incertezas no cenário macroeconômico. Ao mesmo tempo, há danos reputacionais provocados pelo Planalto”, avalia Claudio Frischtak, economista da Inter.B Consultoria, em entrevista à Folha. “Muito pouco está sendo feito pela Amazônia, uma questão de primeira ordem, e ainda vemos ameaça de golpe”, complementa.

Segundo a Folha, o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, tentou antecipar o leilão para evitar contaminação política dos projetos para o setor. Desde as manifestações de cunho golpista no 7 de setembro incentivadas por Bolsonaro, Freitas procurou abafar as incertezas políticas aos interessados na concessão.

Durante as conversas, os estrangeiros, em especial aqueles que não conhecem o Brasil, demonstraram preocupação tanto com a troca de governo, como com a mudança nos rumos dos projetos de infraestrutura. “Quem não conhece o país está tendo muita dificuldade para entendê-lo neste momento”, finaliza Frischtak.

(*) Crédito da foto: Charles Sholl/Brazil Photo Press/Folhapress