O Hotelier News vem acompanhando de perto o desenrolar do processo de concessão dos últimos aeroportos administrados pela Infraero. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), inclusive, já agendou, para agosto, o leilão de Congonhas e outros 14 terminais. Apesar da alta expectativa do setor de aviação e do governo federal, especialistas acreditam que a economia instável e as incertezas políticas às vésperas das eleições podem esfriar a disputa.

Embora não faltem interessados, visto que grandes grupos já manifestaram interesse no leilão, o que gera preocupação, na verdade, são os lances ofertados para as concessões. Segundo o Ministério da Infraestrutura, a estimativa de recursos levantada para a concessão dos blocos em disputa é de R$ 7,3 bilhões, com prazo de 30 anos para os contratos.

No entanto, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, a Selic de volta aos dois dígitos, que encarece o custo do dinheiro no mercado, e os impactos da pandemia no setor aeroportuário tendem a reduzir esses valores.

“Os leilões de aeroportos estão ficando cada vez mais escassos”, comenta Fernando Villela, coordenador do Comitê de Regulação de Infraestrutura Aeroportuária da FGV Direito Rio, à Folha de São Paulo. “Naturalmente, esse quadro de incertezas tem impacto, mas não no interesse do investidor, talvez no valor da outorga”, completa.

Daniel Engel, sócio da área de infraestrutura do escritório Veirano Advogados, concorda com a análise, mas se recusa a ver uma licitação deserta. ”Talvez os níveis de ágio (diferença ante o lance mínimo) não sejam tão surpreendentes como em leilões anteriores. Você vai ter concorrência, mas talvez com lances menos agressivos”, analisa.

“O leilão vai ser bem-sucedido? Se estabelecermos como critério de sucesso que algum grupo fará proposta em cada bloco, acho que vai ser”, afirma o economista Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria. “Se fosse no pré-pandemia, não teria dúvida de que haveria muita competição. As concessões são de longo prazo, mas há muita incerteza. O custo do capital aumentou. Está mais difícil financiar um projeto hoje.”

Concessões em blocos

Embora o destaque fique com o de Congonhas, o aeroporto está sendo leiloado no mesmo bloco que outros 10 ativos espalhados em diferentes estados. Três ficam em Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã), quatro no Pará (Santarém, Marabá, Parauapebas e Altamira) e três em Minas Gerais (Uberlândia, Uberaba e Montes Claros).

Ainda que a ideia de unir aeroportos cobiçados com terminais menos movimentados seja boa na visão dos analistas, a fragmentação do bloco gera dúvidas. “Faz todo o sentido juntar o filé com o osso. A questão é que osso você une ao filé. Juntar ativos muito dispersos pode ser questionável”, pondera Frischtak.

Isso só acontece, porém, no bloco principal, visto que os blocos Aviação Geral e Norte II reúnem poucos aeroportos de uma mesma região. O primeiro, é voltado para a aviação executiva, com os terminais de Campo de Marte (SP), e Jacarepaguá (RJ). Enquanto o Norte II, que inclui o mais movimentado da região Norte, o de Belém (PA) e o de Macapá (AP), “Belém é o ativo mais atraente do bloco, com potencial de turismo. O desenho com Macapá não está errado. É possível”, analisa Frischtak.

Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), pondera que parte do sistema Infraero não é lucrativo.” Tem aeroporto que não tem demanda. Um operador privado vai ter que lutar para transformar o aeroporto em algo sustentável”, acrescenta.

Mesmo assim, fontes que acompanham o assunto esperam operadores nacionais, como o grupo CCR, e grupos estrangeiros que já atuam no Brasil, como a espanhola Aena, a francesa Vinci Airports, a alemã Fraport e a suíça Zurich Airport, participem da sétima rodada.

(*) Crédito da foto: Bruno Santos/Folhapress