Quando se atravessa uma crise de grandes proporções – como foi a causada pelo coronavírus – fica até difícil definir o que precisa ser ajustado primeiro. Mas para a ICH o principal desafio será recompor a diária média de suas 40 unidades distribuídas em diferentes regiões do país. A rede, que fechou quase 100% do seu portfólio no período mais crítico da pandemia, prioriza a recomposição das tarifas.

Como a maioria do setor, a ICH já enxerga melhorias expressivas em seus resultados. De acordo com Alexandre Gehlen, diretor geral e fundador da empresa, a diária média atualmente se encontra na casa dos R$ 200, chegando a R$ 100 de RevPar. Em junho, as ocupações alcançaram 49%.

“Ainda estamos longe dos preços ideais. Caímos 6% em relação ao orçamento e 20% em RevPar frente a 2019. O desafio maior agora é recompor as tarifas de todos os hotéis, pois a inflação veio”, explica o executivo.

Quando se trata de caixa, Gehlen afirma que cada praça vem se comportando de maneiras distintas e que cada hotel reage de forma individual. “O que já esperávamos está se concretizando. A situação é muito particular em cada região. Unidades que estão em mercados de lazer estão melhores, enquanto os que dependem de eventos e público corporativo apresentam uma retomada mais lenta”.

Mercados como os de Fortaleza, Maceió, Salvador, Manaus e Gramado vem se destacando frente às demais. O diretor ressalta ainda que o destino gaúcho já chegou a níveis pré-pandêmicos em seus indicadores em alguns períodos. “As outras praças estão entre 70% e 80% do volume de ocupação pré-pandemia”.

Por outro lado, capitais como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro ainda performam com uma composição de retomada. “Entramos na pandemia confortáveis a nível de caixa, o que se deteriorou em 2020. Conseguimos recompor até a chegada da segunda onda, que resultou em novas quedas. Estamos refazendo o caixa, que ainda não tem distribuição para os investidores”, pontua Gehlen.

As estruturas enxutas dos empreendimentos, segundo ele, facilitam essa recuperação. O diretor acrescenta que com despesas equacionadas as receitas voltam a transformar o caixa, o que tem sido feito com severidade pela gestão da empresa.

ICH - alexandre gehlen

Gehlen: ICH espera absorver novos nichos de mercado

ICH: perspectivas e férias

E se o lazer é o que vem fomentando o turismo, julho é sinônimo de crescimento para a hotelaria. Para a ICH, o mês de férias aponta resultados satisfatórios e, em paralelo, a empresa busca entender a relação entre o avanço da vacinação e a retomada das ocupações.

“O período de férias está mais promissor a cada semana. Fizemos um trabalho interno para entender a correlação da imunização e recuperação da hotelaria. Identificamos que em outros países, como nos EUA, a primeira dose da vacina recompôs 20% das viagens, movimento que temos observado no Brasil”, salienta o executivo.

Ainda com um olhar de incertezas, a ICH prefere não fazer previsões para a próxima metade do ano, focando seus esforços nas análises de resultados diariamente. Mesmo sinalizando cautela, Gehlen acredita que o segundo semestre pode trazer boas surpresas e novas oportunidades.

“Para o lazer, é possível que a hotelaria consiga uma boa recuperação. Já no corporativo, precisamos entender qual o real impacto das reuniões virtuais para saber de que forma o segmento se comportará. Se o Brasil seguir os padrões de outros países, pode ser que haja uma queda de 30% no número de pessoas viajando a trabalho”.

A recuperação total da ICH, de acordo com o diretor, ficará para 2022. A empresa deve suprir as perdas de 2020 este ano, mas Gehlen relembra que a rede já vinha acumulando baixas diárias, mesmo antes da pandemia. “O ano de 2019 era de recuperação. Agora, estamos recompondo pedaços que devem voltar somente no segundo semestre de 2022”.

Expansão

Os planos de desenvolvimento da rede envolvem dois empreendimentos em Santa Catarina sob a chancela da Tru by Hilton, que devem ser inaugurados entre o fim de 2021 e início de 2022. A ICH ainda possui outros projetos em pipeline que estão em análise e, se a recuperação do setor acontecer como o esperado, devem ser retomados.

“Nosso objetivo agora é a manutenção do negócio e deixar as operações robustas. Em nosso pipeline, temos projetos novos para serem assinados, outros em análise, além da abertura de outros quatro hotéis. Em quatro anos, podemos chegar a 50 unidades”, revela Gehlen.

Quanto aos modelos de contrato, o executivo afirma que a rede está bem posicionada no mercado frente à nova indústria de fundos imobiliários. “Vão haver mudanças que vão depender da nova reforma tributária. O Brasil, assim como outros países, passou da esfera de flats, condo-hotéis e agora fundos imobiliários”.

A aposta no short-term rental

Assim como outros players do setor, a ICH deu um passo importante em sua oferta com a criação do Cityhome by Intercity Hotels. O produto foi criado para abocanhar uma fatia do mercado promissor de short-term rental e deve iniciar suas atividades pelo Sul do país.

“Estamos assumindo prédios bem localizados, com estrutura adequada e seremos criteriosos com o inventário. Iniciaremos em Gramado, Canoas, Porto Alegre e depois São Paulo. As primeiras operações sairão ainda este ano”, adianta o diretor.

Gehlen salienta que um profundo estudo de mercado foi feito para o desenvolvimento do produto, com pesquisas de campo em praças como Miami, Berlim, Nova York e Barcelona. “É um segmento que veio para ficar e a hotelaria tem uma capacidade de distribuição diferenciada. Queremos oferecer essa pegada de serviços, com capilaridade para locações de curta duração”.

Ainda que o momento tenha sido oportuno, o fundador da rede garante que a criação do Cityhomes não está atrelada a pandemia, mas sim a uma tendência de mercado em ascensão. Ele também afirma que um produto não afeta o outro, visto que o público dos hotéis e de aluguéis são distintos.

“Acredito que o impacto nos hotéis será zero. Não vejo um cliente trocando uma coisa pela outra. Vamos absorver um novo nicho de mercado com o projeto que deve melhorar ainda mais o setor”, finaliza.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/ICH