“DIVERSIDADE é convidar para a festa, INCLUSÃO é chamar para dançar”.  Com esta excelente definição da Vernã Myers, vice-presidente global de Diversidade e Inclusão da Netflix, uma das maiores especialistas no mundo sobre diversidade e inclusão corporativa, começo este texto para gerar uma reflexão sobre como desmitificar esses dois pilares na hotelaria brasileira atualmente. Quando comecei a falar sobre o tema há três anos, as respostas eram quase automáticas: ” mas a hotelaria é diversa e inclusiva, trabalham os mais diversos perfis de pessoas, etc”.

O primeiro erro nesta linha de pensamento é achar que contratar um profissional é incluir. Trata-se de uma relação normal entre empregado e empregador. Nada além disto. Agora, contratar para gerar uma inclusão corporativa é ter olhar crítico para todo o quadro hierárquico do seu meio de hospedagem ou rede e entender como gerar a representatividade profissional dos grupos sociais da diversidade e inclusão. A contratação de um profissional é nada mais que “convidar para festa”. Mas por que nem todos estão “dançando”? Esta é a pergunta que você, liderança ou gestor, precisa fazer. E quem chama para “dançar” é você. Se mulheres, LGBTs, negros, PCDs e outros grupos de minorias sociais não estão ou não têm chances de estar em todos os cargos da sua empresa, principalmente no atendimento, posições de gestão e direção, não existe inclusão.

Devido à estrutura preconceituosa e excludente da nossa sociedade, estes grupos não receberam as mesmas oportunidades para estar nestas posições, pois acabavam eliminados no processo seletivo, por exigir um “padrão” ou formações, qualificações profissionais que eram ( e ainda são em alguns casos ) inviáveis para os mesmos. E não caiam na armadilha de achar que recrutar profissionais destes grupos é diminuir a qualidade da formação. Em tempos de “hard e soft skills“, é possível realizar recrutamentos inclusivos se você deseja realmente incluir. Geralmente este problema de evolução da inclusão corporativa na hotelaria acontece porque estas ações não são pensadas e aplicadas por profissionais de diversidade e inclusão. Infelizmente nas ações recentes em eventos setor que se fala sobre o tema , quem está a frente destas reflexões nos painéis, talks e semelhantes não são profissionais pertencentes a estes grupos, sem vivência ou “lugar de fala”.

E como já escrevi antes aqui neste espaço, a hotelaria e a hospitalidade brasileira têm grande potencial para gerar esta inclusão corporativa no setor, pois está num momento de expansão pós pandemia, gerando muitas oportunidades profissionais. Mas ainda está atrasada, talvez até “travada” na evolução da pauta, pois ainda debate a inclusão corporativa como tema secundário e não prioritário. Ainda se confunde “solidariedade” , principalmente quando se trata de ESG, com inclusão social. Dificilmente vemos atualmente ações de médio e longo prazos no setor, na maioria das vezes as ações são pontuais, ligadas a alguma data ou mês de consciência ligadas a alguma causa. A inclusão precisa ser pensada para ser aplicada e praticada todos os dias. E com o foco correto, contratação de profissionais ligados à diversidade e inclusão para desenvolvimento das ações, a hotelaria pode começar a tocar a “música” que convida a todos para “dançar”.

Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal