Em um recorte global, a hotelaria conhece muito bem a escassez de funcionários. Durante a pandemia, esse gargalo se tornou ainda mais intenso e, hoje, as redes “correm atrás do prejuízo” para solidificar seus quadros de colaboradores. Durante a ALIS (Americas Lodging Investment Summit), hoteleiros discutiram sobre os principais desafios trabalhistas para 2024, aponta o Hotel Management.

Estiveram presentes no debate Stephanie Ricca, diretora editorial do Hotel News Now, moderando o painel; Sloan Dean, CEO da Remington Hospitality; Andy Ingraham, presidente e CEO da National Association of Black Hotel Owners; Opertors & Developers; Patrick Pacious, presidente e CEO da Choice Hotels International; e Mark Tamis, presidente global da Aimbridge Hospitality.

Segundo Stephanie, a indústria em geral teve muito trabalho para reparar as perdas causadas pelas demissões que aconteceram em 2020. “Você diria que, de modo geral, a indústria hoteleira dos EUA hoje tem o tamanho certo, com embasamento e prioridades definidas? Ou ainda há muito trabalho pela frente?”, questionou sobre uma realidade que também se aplica ao Brasil, se analisarmos que as empresas hoteleiras estão sempre em busca de novos profissionais para atender à constante alta de demanda.

“Tornar essa indústria atraente é a primeira missão. Criar essas oportunidades para nossos associados é o que pensamos todos os dias. Com quase 600 mil inscrições e 40 mil contratações, voltamos ao ponto em que, a qualquer momento, cerca de 90% de nossas vagas estão preenchidas”, complementa Tamis.

Análises

Durante o painel, Stephanie questionou aos hoteleiros se a porcentagem de vagas preenchidas versus a porcentagem geral era uma métrica que eles analisaram. “Se dividirmos isso em componentes mensuráveis do trabalho, primeiro, vimos os salários esfriarem. Nosso crescimento salarial no quarto trimestre do ano anterior foi basicamente estável. Vimos a pressão salarial e as taxas de crescimento agravadas voltando para 19% e 30%. Além disso, vimos as vagas em aberto caírem, e não temos tantas oportunidades como tivemos no último trimestre”, diz Dean.

Pacious, por sua vez, diz que na Choice o cenário está sendo reconstruído. “Quando olhamos para nossa equipe corporativa, na verdade estamos em modo de crescimento. Temos hoje mais 300 pessoas do que tínhamos há um ano. E isso é realmente em função do crescimento que tivemos como empresa. Mas também acontece porque nosso pessoal fica conosco e não vai embora. As pessoas querem trabalhar em empresas que estão em franco crescimento”, ressalta.

Ingraham fez um questionamento importante durante o debate: como trabalhar com os parceiros para encontrar a combinação certa e garantir que haja oportunidades de trabalho? Respondendo à pergunta, Tamis disse que a Aimbridge está sempre pensando na melhoria contínua.

“Estabelecemos referências para melhorias ano após ano. Queremos melhorar pelo menos 5% nesse recorte em nosso conjunto de diversidade. Estamos perto, mas ainda não chegamos lá. É um esforço que precisa ser contínuo e constante”, afirma.

Na Remington, segundo Dean, funções como de limpeza de propriedades e cargos no segmento de A& B (Alimentos & Bebidas) são ocupados por pessoas pertencentes a minorias sociais que falam espanhol. “Os desafios da fluência em inglês, bem como a exposição aos fundamentos da administração de uma empresa, muitas vezes podem atrasar os funcionários. Para atender a essa necessidade, iniciamos um programa de inglês como segunda língua para ajudar essas pessoas a crescerem profissionalmente”, pontua.

Pacious afirmou que o desafio de encontrar funcionários não é compartilhado apenas entre os hoteleiros. “Não estamos competindo apenas contra a indústria hoteleira. Temos locais onde competimos com outros empregadores nesse mercado. Choice Hotels, Hilton e Marriott, todos sediados em Washington, D.C. Estamos competindo contra a força de trabalho federal e seus programas de benefícios para atrair pessoas para nossa organização. É preciso olhar de maneira ampla: quais são as outras opções dos funcionários e associados? O que o governo federal oferece a eles que talvez precisemos considerar com cuidado? Isso é algo que usamos como referência”, disse.

O suporte ao bem-estar mental é algo que tem se tornado mais solicitado pelos associados, continuou ele. “As pessoas estão chegando querendo saber como é a estrutura de apoio se eu precisar cuidar de um pai ou de uma criança doente. Essas abordagens costumavam ser mais draconianas e uniformes, agora há muito mais flexibilidade. Muitos de nossos programas permitem que as pessoas tirem dias para cuidar de seu próprio bem-estar quando se sentem sobrecarregadas ou estão passando por estresse familiar. Acompanhamos esses números, os compartilhamos com nossos associados e os encorajamos a usar essas ferramentas para melhorar suas vidas”, completa.

Compartilhando a história da hospitalidade

Todos os hoteleiros concordaram que a indústria da hospitalidade oferece um número infinito de possibilidades para o crescimento profissional. “Comecei como supervisor de limpeza por hora no Four Seasons em Las Colinas, Texas”, observou Tamis. “Todos nós no palco, começamos em posições diferentes. Um dos meus amigos na indústria começou como mensageiro e hoje comanda uma das maiores operações de serviço completo. Realmente é uma indústria onde você pode começar no nível mais baixo e depois chegar ao mais alto”, acrescenta.

Dean concordou, dizendo que as pessoas agora querem viajar mais e se importam menos com itens materialistas como um carro luxuoso. “Precisamos vender isso não apenas como um estilo de vida, mas também como ‘venha trabalhar nessa indústria divertida’. Administrar um hotel de US$ 30 milhões por ano, essencialmente um pequeno negócio, você basicamente é um empreendedor.”

“Estamos melhor hoje do que estávamos há 10, 15, 30 anos?”, perguntou Ingraham no debate com os demais hoteleiros. “A resposta é sim. Mas ainda temos muito trabalho a fazer. Precisamos vender aos jovens a experiência que estão buscando em nossa indústria. Podemos enviar pessoas ao redor do mundo e elas terão experiência ao mesmo tempo, construindo uma carreira enquanto nos ajudam a criar uma nova indústria, muito mais diversificada e inclusiva”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Peter Kutuchian/Hotelier News