Na retomada da hotelaria, um dos grandes desafios dos empreendimentos tem sido conseguir mão de obra qualificada. Isso porque, no período mais crítico da crise sanitária, muitos profissionais deixaram o setor, um dos mais atingidos pela pandemia. Além disso, hotéis afetados pela baixas demanda e caixa comprometido precisaram enxugar fortemente os custos e, consequentemente, reduzir salários e o time. Analisando esse cenário, parece até que a equação não fecha, mas não é exatamente assim. Especialistas apontam alternativas para garantir profissionais especializados e equilibrar as despesas.

Em entrevista ao Hotelier News, Marcio Moraes, consultor de carreira da QI Profissional, afirma que muitas empresas estão investindo em capacitação de profissionais juniores para manter a política salarial. O especialista aponta que a participação nas receitas e lucros das empresas, bem como o aumento de benefícios, também têm chamado atenção do mercado de trabalho.

“Apostar em treinamentos e investir em tecnologia para aumentar a produtividade ainda é uma das alternativas mais viáveis. Enxugar equipe depende muito do segmento. Imagina você reduzir um quadro de camareiras de um hotel e ter um pico de 70% de ocupação. Não é viável”, destaca o consultor.

Christiane Menezes, gerente de Talentos Humanos na Costa do Sauípe, complementa o raciocínio de Moraes. “Não acreditamos na redução do quadro e elevação de salários. A hotelaria tem uma força de trabalho operacional que demanda muito, de forma que a quantidade de pessoas por cliente precisa ser respeitada para continuarmos oferecendo os serviços propostos com qualidade”, ressalta.

“Acreditamos muito em treinamento e gestão por processos para aumento da produtividade e entrega de padrão de serviços. Além disso, os benefícios oferecidos serão sempre diferenciais, e os nossos procuram atender às necessidades da família. Com isso, buscamos criar um ambiente que estimule a retenção do profissional, visto que hoje o desejo das pessoas é ter um lugar para trabalhar em que possam ser elas mesmas e se sentirem à vontade”, acrescenta.

A profissional pontua que, hoje, os empreendimentos da Aviva atuam com duas possibilidades de treinamento: os obrigatórios, condizentes com cada função, e outros nos quais o profissional se candidata de forma voluntária. “Treinamos também as comunidades no entorno dos nossos empreendimentos com parceiros estratégicos”, complementa.

Outras estratégias

De acordo com Hanna Arruda, diretora de RH do Grupo Ferrasa, há outras estratégias que também podem ser adotadas para equilibrar essa equação. Além de ressaltar a importância dos treinamentos para garantir retenção de talentos, ela acrescenta que os empreendimentos da empresa, em Olímpia (SP), estão firmando parcerias com prefeituras de cidades vizinhas, a fim de viabilizar mão de obra dessas localidades.

Hotelaria - Hanna_Arruda_Grupo_Ferrasa

Hanna: treinamento para garantir mão de obra qualificada

“Considerando que Olímpia tem vivenciado escassez de profissionais, investimos nessas parcerias com cidades vizinhas para garantir profissionais qualificados em nossos empreendimentos. Hoje, empregamos mais de 1 mil colaboradores e estamos com 100 vagas abertas para diversas funções, número que deve aumentar conforme o projeto de expansão avança”, explica Hanna.

A diretora pontua ainda que investir em políticas de valorização de talentos é a estratégia mais assertiva a longo prazo na hotelaria. “A partir de estratégias como essa, aliadas às políticas de benefícios que adotamos, cria-se um ambiente no qual o colaborador se adapta melhor ao ambiente de trabalho e queira ficar na empresa”, avalia.

Cenário de instabilidade 

Vale ressaltar, por outro lado, fatores que contribuem para o cenário de escassez de profissionais qualificados no setor hoteleiro. E, pelo que se ouve em conversas com muitos trabalhadores do setor, os salários baixos aparecem como um dos motivos que mais contribuem para a realidade atual.

De acordo com o Guia da Carreira, os profissionais do ramo não possuem piso salarial único no Brasil. Eles são definidos de acordo com os sindicatos correspondentes a cada região e mudam conforme as convenções coletivas e acordos feitos com os empregadores. Na avaliação de especialistas, esse cenário contribui para remunerações cada vez mais abaixo do que se pratica em outras atividades.

Para complementar, a carga horária exaustiva da hotelaria também pode ser apontada como um grande impulsionador da escassez de mão de obra. Trabalhando seis dias por semana e com grande volume de tarefas, muitos profissionais têm desenvolvido síndrome de Burnout, cujos casos têm crescido consideravelmente no Brasil em diferentes atividades.

A nova realidade obriga os hoteleiros a buscarem alternativas que não só garantam bons profissionais, mas também criem um cenário no qual eles se sintam valorizados, recebendo salários justos pelo trabalho desempenhado.

(*) Crédito da capa: mohamed_hassan/Pixabay

(**) Crédito da foto: Divulgação/Grupo Ferrasa