Depois das sessões gravadas, o HDC (Hotel Data Conference) passou pela Ásia e Oriente Médio até chegar, bem cedinho no Brasil, à Europa. Região que sofreu fortemente com a segunda onda da pandemia, o Velho Continente segue com medidas restritivas em vários países, tendo ainda ritmos bem distintos de vacinação, o que deixa o cenário da retomada mais difícil por lá. Cenário, portanto, muito parecido com o que vivemos por aqui neste momento. De qualquer forma, o panorama é igual ao do resto do mundo: demanda doméstica será a propulsora da recuperação.

Antes da análise sobre o segmento hoteleiro da região, David Goodger, managing director da Oxford Economics, fez uma breve análise macroeconômica da região, mostrando os efeitos desses indicadores na demanda dos turistas. Segundo ele, após um 2020 desastroso, a indústria turística vai iniciar a recuperação ainda em 2021, após queda de 47% e 68%, respectivamente, no volume de viagens domésticas e internacionais no ano passado.

“Na comparação anual, a recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) europeu será o mais rápido dos últimos 40 anos. Ainda assim, tudo dependerá do ritmo de vacinação nos países, e isso vai impor desafios desafios em diferentes níveis para cada mercado”, observou. Parte do otimismo de Goodger está balizado em algo que abordamos em reportagem recente: as pessoas conseguiram economizar e parte desses recursos pode ser direcionada para viagens.

“Somado à recuperação no mercado do trabalho, isso será um dos motores da recuperação da demanda por viagens, assim como a diminuição das restrições”, avalia o executivo da Oxford Economics. “Então, como havia dito, o ritmo de retomada vai variar bastante na Europa, mas uma recuperação plena, nos níveis de 2019, só deve ocorrer mesmo em 2024”, completou.

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HDC: e os hotéis?

Na sequência, Thomas Emanuel (STR) fez uma ampla análise do desempenho dos hotéis europeus ao longo de 2020. Segundo o executivo, a Europa viveu algo pouco visto na história: destinos turísticos consolidados como Paris, Londres e Berlin viraram quase cidades fantasmas, com o RevPar cedendo 63% no continente como um todo. “No entanto, voltando no tempo, vemos que é um cenário completamente fora do padrão. Na crise de 2009, por exemplo, o RevPar europeu recuou 13%”, destacou.

Emanuel destacou um ponto relevante no mercado europeu: o movimento de fechamento de hotéis foi intenso, bem acima das demais regiões do globo. E, com a segunda onda, houve novamente outra leva de paralisações de atividades, o que vem afetando diretamente o desempenho da região como um todo neste momento. Mesmo com oferta reduzida, o descontrole da pandemia no inverno europeu resultou em performances ruins, com 50% das propriedades em funcionamento operando com 20% de ocupação.


Europa trends (2020)

  • Capitais sofrendo com baixa demanda internacional
  • Na Rússia, por exemplo, esse segmento praticamente evaporou
  • Quanto mais alta a categoria do hotel, pior a ocupação
  • Nos hotéis de luxo, sumiço da demanda corporativa foi determinante
  • Numa análise da diária média, notou-se o oposto, com econômicos sofrendo mais
  • Mercados regionais x capitais: maior ocupação no primeiro
  • Quem fechou sofreu mais na retomada, tanto na ocupação, quanto na diária média

Emanuel trouxe também dados interessantes sobre o pipeline no continente, que foi significativamente afetado no ano passado. Na Alemanha, por exemplo, um quinto dos projetos foram adiados, enquanto 22% dos empreendimentos anunciados foram abandonados no Reino Unido. “Ainda assim, o pipeline de desenvolvimento continua forte (veja mais no gráfico abaixo). No Reino Unido, por exemplo, ele representa 30% da oferta atual de quartos nesse mercado, além de 16% na Alemanha”, disse.

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Por fim, apesar do cenário ainda desafiador, é possível olhar para os números com mais otimismo. “O que notamos é que maior previsibilidade redunda em mais reservas. Em Israel, onde a vacinação está bastante acelerada, o ritmo de reservas futuras já está em bom patamar e, claro, sempre puxado pela demanda doméstica”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Claudio Schwarz/Unsplash

(**) Crédito da foto: PublicDomainPictures/Pixabay

(***) Crédito dos infográficos: STR