Ainda sem dia certo para terminar, a pandemia da Covid-19 trouxe à tona a fragilidade da economia mundial, o que inclui, principalmente, a hotelaria. Mais que isso, o panorama dentro de um dos setores mais impactados mostra projetos, de 2020 até o momento atual, que foram atrasados, postergados ou, nos piores casos, encerrados definitivamente. No entanto, como a luz no fim de um túnel extenso (até demais), um mercado pode se sobressair: franquias e conversões de hotéis independentes. É o momento, então, destes modelos se consolidarem no Brasil?

A resposta dos especialistas consultados pelo Hotelier News é concomitante em dizer que sim. Em geral, todos acreditam que esse pode ser um dos caminhos para o setor hoteleiro ser competitivo uma vez mais por aqui, mas com condições.

Entre estes fatores, Rômulo Silva acredita que pensar a longo prazo e profissionalizar meios de hospedagem nacionais é essencial. Segundo o diretor de Desenvolvimento de Franquias da Accor Brasil, o país sempre foi importante neste segmento e continuará assim no pós-pandemia.

“Nós temos o sentimento de que a hotelaria brasileira se qualifica mais a cada dia, e queremos ajudar neste aspecto. Além de expandir, a Accor quer desmistificar os medos sobre as grandes redes. Nosso objetivo é ajudar proprietários independentes e setor nacional”, explica Silva.

Além da gigante francesa, outra grande rede a atuar dentro do cenário do Brasil é a Meliá Hotels. Representada por Fernando Gagliardi, diretor de Vendas para América do Sul, a empresa espanhola também crê no estabelecimento de franquias e conversões, mas de maneira um pouco diferente.

“No Brasil, temos o que chamamos de take-overs, ou seja, empreendimentos que eram administrados por outras operadoras e foram convertidos para alguma bandeira Meliá. Atualmente, são dois: Meliá Ibirapuera e Meliá Paulista, ambos em São Paulo”, diz. De acordo com Gagliardi, a companhia também trabalha com modelos de afiliação e pay per use, no qual o hoteleiro remunera a rede na medida das soluções contratou.

franquias e conversões - romulo silva

                                            Silva: objetivo é ajudar empreendimentos independentes

Franquias e conversões: estratégia

Dentro da Accor, Silva afirma que, quando se trata de hotéis franqueados ou conversões, o principal alvo são cidades terciárias. Depois, as prospecções partem para praças maiores e capitais. “O entendimento é de que municípios menos badalados são mercados mais interessantes a primeiro momento. Na maioria das vezes, são locais onde a gama hoteleira busca maior profissionalização e redução de custos, nosso melhor serviço”, salienta.

Dentro disso, o executivo explica que a equipe avalia caso a caso os meios de hospedagem para, depois, mostrar aos empresários como podem ajudar. “A ideia é facilitar em tudo: distribuição, alimentos e bebidas, amenidades, processos internos e know how do segmento. Isto posto, estabelecemos o padrão Accor, mas sem tirar a tradição do empreendimento”, afirma.

Outro ponto trabalhado para franquias e conversões da rede francesa, segundo Silva, é personalizar o atendimento conforme a região. Para ele, adaptar-se aos “Brasis” faz parte deste tipo de empreitada. “Ignorar que cada localidade possui especificidades é o que dificulta a entrada no mercado brasileiro”, diz.

A Meliá, por outra ótica, vê a modalidade como positivo para todas as partes envolvidas. Na visão de Fernando Gagliardi, existe um movimento de fortalecimento da hotelaria independente brasileira por conta de avanços tecnológicos, mas ainda há vulnerabilidade.

“Para suprir dificuldades destes proprietários, nosso planejamento inclui soluções de marketing, vendas, distribuição, apoio operacional e assessoria técnica. Mesmo sem tanta presença atual no Brasil, acredita-se que o terreno seja fértil e que a ideia prospere ainda mais”, ressalta.

Em geral, a principal oferta da gigante espanhola, de acordo com Gagliardi, é o símbolo de carregar uma marca reconhecida na hotelaria mundial. Junto com isso, questões técnicas como maior distribuição e capacidade de fidelizar hóspedes também somam no momento de optar pela conversão.

Expansão

Se existe crença no modelo de franquias e conversões, portanto, como está o desenvolvimento real disso para ambas companhias multinacionais?

Na Accor, conforme adianta Silva, o plano é chegar a 42 mil quartos, em pipeline e operação, neste modelo. Ademais, a captação de hotéis e construções do zero também deve aumentar em 2021, mas nenhum dado específico foi divulgado.

As regiões em destaque para isso serão o Sul e o interior de São Paulo, mas o executivo cita uma “estratégia agressiva” em outros mercados. “Vamos chegar no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Vamos desbravar regiões menos prestigiadas pela hotelaria”, finaliza.

Para a Meliá, os caminhos prestigiados passam pela América do Sul de forma geral. O objetivo, assim, é fortalecer a presença da rede na Argentina, com mais hotéis em destinos turísticos importantes. No Chile e Colômbia, os principais mercados serão as capitais, Santiago e Bogotá, respectivamente, onde não tem hotéis ainda.

À cena nacional, o olhar também é posto em cima das capitais. “Nós temos interesse em retornar ao Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Fortaleza, além de cidades secundárias com bom potencial turístico. O foco é apostar em destinos que unem corporativo e possuem apelo no lazer, bleisure“, conclui Gagliardi.

O que fica?

Não existe moral da história ou fórmula mágica, mas consegue-se concluir que franquias e conversões são, mesmo aos menos otimistas, uma grande oportunidade. Talvez de impedir o fechamento de um hotel tradicional, iniciar uma nova história de triunfos para aquele empreendimento, ou até tirar o melhor de uma propriedade mal aproveitada.

Em todos os casos, o que fica é o propósito de reerguer a hotelaria e, também, o turismo nacional após o saldo da pandemia. Nas palavras de Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), em entrevista a reportagem, este é “o maior desafio desta geração de empresários brasileiros”. Por isso, como já dito pela hotelaria independente, toda ajuda é bem-vinda.

“Este esquema tem campo de atuação amplo e são possibilidades reais de manter o mercado estimulado. As grandes redes também passar por dificuldades, mas as conversões podem ajudar e ampliar o leque de opções hoteleiras. De qualquer forma, com esforço coordenado, não tenho dúvidas de que o setor brasileiro crescerá depois disso tudo”, diz.

(*) Crédito da foto: Chris Blonk/Unsplash