Enquanto as academias buscam se atualizar e acompanhar as mudanças do mercado, apareceu uma pandemia no caminho. A crise gerada pela Covid-19 não afetou apenas as operações dos empreendimentos, mas também impactou diretamente a formação na hotelaria e a forma das instituições de ensino passarem seus conhecimentos.

Os alunos se viram apostando suas fichas em um setor altamente impactado e com grandes índices de desligamentos e desemprego. Assim como universitários de outros segmentos, os estudantes de Hotelaria tiveram que se reinventar juntamente com as universidades, que precisaram redesenhar os cronogramas de ensino e compensar as possíveis faltas de atividades práticas.

No ano passado, o Senac-SP promoveu uma série de lives voltadas a diferentes segmentos e temas, como desafios da hospitalidade, que contou com a participação de especialistas da área que compartilharam suas experiências e abordaram os novos rumos profissionais do setor.

O Centro Universitário Senac não deixou de realizar uma de suas principais atividades práticas, o Alunos no Comando. Seguindo todos os protocolos de higiene, estudantes dos cursos Tecnologia em Hotelaria e Bacharelado em Hotelaria ficaram à frente das operações do Grande Hotel São Pedro durante três dias. A iniciativa ainda contou com ações virtuais e os desafios da gestão remota.

Formação na hotelaria: as adaptações da academia

Ana Marta Araújo, coordenadora do curso de Bacharelado do Senac, afirma que a instituição conseguiu adaptar os processos e aulas com agilidade. “Utilizamos plataformas já existentes. Contudo, o fator diferencial nessa adaptação foi a maneira humanizada como os professores dos cursos conduziram essas mudanças. Mais do que uma adaptação de conteúdo a um novo formato, buscou-se garantir que o relacionamento com as turmas continuasse próximo, síncrono e personalizado”.

A professora explica que a pandemia trouxe oportunidades para a instituição desenvolver estratégias de hospitalidade virtual como forma de ampliar o repertório dos alunos para o mercado de trabalho. “Afinal, acolhimento e hospitalidade são essenciais não só na abordagem de formação profissional no curso, mas também aprendidas por meio da experiência acolhedora de aprendizagem”.

Na Anhembi Morumbi, os conteúdos práticos foram adequados para o formato homeschooling e outros substituídos por aulas teóricas. “Tivemos muito apoio da universidade. Invertemos aulas práticas e mudamos para teóricas. Também realizamos vídeo-aulas com conteúdos práticos para os alunos fazerem em casa. Nada substitui a conexão humana, mas continuamos preparando profissionais para o mercado”, destaca Paula Lucatto, coordenadora da graduação em Hotelaria. Ela ainda ressalta que a instituição realizou reposições presenciais de conteúdos práticos em disciplinas de A&B (Alimentos & Bebidas) e Hospedagem.

formação na hotrlaria - beatriz

Beatriz: pandemia motivou a expandir a visão sobre o setor

A motivação dos alunos

Um dos grandes questionamentos ao desenvolver essa reportagem era entender se a pandemia havia afetado também o interesse dos jovens pela hotelaria. Como falamos anteriormente, graduar-se em uma área tão desgastada pela crise é capaz de fazer até o mais motivado dos estudantes desistir.

Por parte dos alunos, Márcia Akemi Baltieri, coordenadora do curso Tecnologia em Hotelaria do Senac – Santo Amaro, alega que o efeito foi justamente o contrário. “Percebemos que foi necessário um esforço, menor para alguns e maior para outros, para garantir o foco e a concentração nas aulas virtuais. Ainda assim, a pandemia não provocou perda de interesse no setor. Ao contrário, despertou nesses estudantes maior atenção em relação à forma como o mercado se adaptou às restrições impostas e os incentivou a refletir crítica e positivamente sobre ações que poderiam ser desenvolvidas neste contexto”.

“Entender melhor a arte da hospitalidade” foi a frase utilizada por Beatriz Spinelli quando questionada sobre suas motivações para cursar Hotelaria. A aluna do quarto semestre do curso de Tecnologia em Hotelaria do Senac – Santo Amaro, ela afirma que, apesar de momentos difíceis, a pandemia não deixou o seu sonho de se tornar hoteleira morrer.

“Acredito que a pandemia me motivou a expandir minha visão acerca do setor. Pude descobrir diversas formas e possibilidades para colocar a hospitalidade em prática, mantendo sempre o otimismo em relação à retomada da hotelaria”, conta.

Lucas Ferraz se apaixonou pelo setor ao fazer uma visita técnica às estruturas da Anhembi Morumbi, em 2009. Formado em Teatro, o aluno do quinto semestre teve seus planos de entrar para o mercado de trabalho adiados por conta da pandemia, mas manteve seu otimismo. “Estou em busca de trabalho e muito ansioso para começar. Infelizmente, tive que adiar. Foi triste ver amigos e familiares que acabaram sendo afastados ou demitidos, mas tenho buscado me fortalecer com lives e cursos para estar preparado quando tudo isso passar”.

Aos 29 anos, Erick Coelho começou sua trajetória na hotelaria ainda aos 18 como mensageiro. Com o desejo de atuar no turismo, o estudante do terceiro semestre da Anhembi Morumbi cursou Relações Internacionais, mas acabou retornando aos hotéis. Há seis anos trabalhando na área, o aluno atualmente é auditor de um empreendimento em São Paulo.

“É um setor muito gostoso de trabalhar. A hospitalidade requer proximidade e contato. Não vou dizer que a pandemia não me afetou, mas continuo muito interessado. É o que eu quero e está sendo interessante observar como os hotéis estão se adaptando a tudo isso”, reflete Coelho.

formação na hotelaria - lucas ferraz

Ferraz deseja alinhar a hotelaria ao teatro

Aulas online e estudos

Para muitos estudantes, reorganizar a rotina de aulas e estudos foi um dos maiores desafios da pandemia. Distrações, fadiga de conteúdos remotos e desinteresse são sintomas comuns relatados por muitos jovens desde o início da crise. Lucas Ferraz revela que teve algumas dificuldades na adaptação, mas que o suporte da universidade fez toda a diferença.

“O primeiro semestre remoto foi um pouco difícil. Não gosto de estudar em plataformas virtuais, prefiro o cara a cara. É muito mais rico. Não que eu não me dedique às aulas online, mas o ganho e a aprendizagem são muito melhores no presencial”, comenta. “Acredito que o aluno faz a escola e sou muito grato aos meus professores que enriquecem os conteúdos e complementam toda a estrutura”, completa.

Em sua segunda formação, Coelho diz que, mesmo no presencial, sentiu diferença nas dinâmicas de ensino. “Muita coisa se atualizou de quatro anos pra cá. A adaptação para o virtual foi complicada, pois é mais fácil estar no ambiente da sala de aula para manter o foco e a concentração. Em casa existem muitas distrações. Quanto ao ensino, a plataforma atende bem e fizemos reposições presenciais práticas de cozinha, que foi algo muito novo e interessante”.

A aluna do Senac revela que, em princípio, ficou receosa quanto à qualidade das aulas. “Era algo novo para todos. Porém, com todo o conteúdo abordado pelos professores, o ensino ficou até mais rico e me vi tão interessada e até mais participativa do que antes. As aulas remotas afetaram as aulas práticas, as quais tínhamos que lidar com situações reais do cotidiano hoteleiro. Também foi preciso esforço pessoal, tendo muito mais disciplina e vontade de aprender para me adaptar às aulas”, explica Beatriz.

formação na hotelaria - erick coelho

Coelho tem o sonho de um dia ser gerente geral

Expectativas de mercado

Quando os estudantes optaram por cursar Hotelaria, o mercado era de um jeito. Após a chegada da pandemia, seus impactos e suas transformações, esses jovens encontrarão um setor completamente mudado quando se graduarem. Apesar de um cenário pouco animador, os três alunos são exemplos do porquê a hospitalidade é considerada resiliente.

Com inclinação para as áreas de Guest Relations e Customer Experience, Beatriz busca vivenciar e conhecer todas as possibilidades que o setor dispõe. Otimista, a estudante acredita que o mercado em breve estará em ascensão. “Mesmo em um momento pós-pandemia, perdurarão barreiras sanitárias e econômicas, que poderão impedir que muitos brasileiros realizem viagens internacionais. Acredito que o turista priorizará ainda mais os destinos regionais, resorts e hotéis de lazer”.

Aos 30 anos, Ferraz vê na hotelaria e no turismo muitas possibilidades. O estudante ainda pretende alinhar a hospitalidade a sua outra paixão, o teatro. “Consigo encaixar as duas coisas. Em ambas você tem um aprofundamento sobre cultura. Também descobri que o A&B mexe muito comigo. Estou otimista e acredito que vamos reaquecer ainda este ano”.

Com experiência em departamentos como Recepção e Auditoria, Coelho tem preferências por cargos administrativos. “É uma área que sempre me atraiu muito. Pretendo seguir como controller e, quem sabe um dia, gerente geral”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito das fotos: Divulgação