O período eleitoral é, historicamente, sinônimo de incertezas e tensões para a economia como um todo. Quando se trata de uma das disputas mais acirradas e polarizadas dos últimos anos, o cenário torna-se ainda mais complexo. O turismo político é um dos segmentos de maior movimento para a hotelaria de Brasília, sendo responsável por grande parte da demanda dos empreendimentos. Entretanto, a corrida pelo Palácio do Planalto é um problema ou solução para os hotéis da capital federal?

Atualmente, a ABIH-DF (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal) possui 8.500 UHs em seu pool hoteleiro. Segundo a entidade, ao menos sete propriedades não reabriram após a crise causada pela pandemia — o que significa 1 mil apartamentos a menor na oferta hoteleira da cidade.

Henrique Severien, presidente da associação, explica que, tradicionalmente, as eleições causam esvaziamento nos hotéis do destino devido à interrupção da agenda política e à suspensão de grandes eventos. Entretanto, o executivo pondera que cada eleição é uma eleição, ou seja, fazer previsões é sempre uma ciência inexata. “Há quatro anos, a forma de fazer campanha era diferente. Hoje, as redes sociais ocupam um espaço de maior destaque. Essa eleição, em especial, é inusitada. Temos a questão da pandemia, da polarização e da tecnologia que não sabemos até que ponto vai refletir em Brasília”.

Existe o movimento natural de vazão de parlamentares, que deixam a cidade para retornar às suas bases eleitorais. De acordo com dados da ABIH-DF, durante o período de campanha, entre julho e outubro, a ocupação hoteleira costuma girar em torno de 55%. Em anos “normais”, o indicador para os mesmos meses fica acima de 68%.

“Temos muitas interrogações para 2022. Não sabemos como o mercado se comportará exatamente, mas com certeza será um aprendizado para o setor. A manifestação de 7 de Setembro de 2021 gerou um fluxo jamais visto em Brasília, chegando a lotar o inventário disponível na época. Logo, as eleições podem gerar um impacto semelhante”, avalia Severien.

brasília - henrique severien

Histórico é de esvaziamento, diz Severien

Histórico de demanda

Com hotéis e apart-hotéis em Brasília, a Hplus Hotelaria conta que o período eleitoral de 2018 foi benéfico para a performance dos empreendimentos. A média de ocupação para agosto foi de 68%, setembro (61%) e outubro (64%). Para 2022, a previsão do indicador está acima dos 70%. “O avanço da vacinação e a volta dos eventos presenciais também contribuíram para os resultados. Outro ponto de atenção é a antecipação de reservas, que hoje são feitas de última hora”, comenta Elisângela Lima, diretora de Operações da rede.

No Nobile Suítes Monumental, o histórico reforça a fala de Severien. Danilo Stacciarini explica que o movimento político no empreendimento chega a quase zero. “Esse esvaziamento pode ser sentido entre julho até dezembro, quando temos a posse do candidato eleito, período de grande demanda. Janeiro e fevereiro também são meses positivos devido à nomeação de servidores públicos”.

O gerente geral da unidade da Nobile Hotels & Resorts revela que outubro é o mês com menor demanda, mas que novembro costuma ser o início da recuperação das ocupações. “A partir de julho começamos a sentir a queda, que se estende para agosto e setembro. No comparativo entre 2018 e 2019, a redução é bem acentuada. A ocupação do ano eleitoral foi 15% inferior”.

O reflexo na diária média

Quando a diária média já é um problema — como é o caso do cenário hoteleiro atual — todo o cuidado é pouco. Manter as tarifas em um destino em pleno escoamento de demanda é um desafio que os empreendimentos rebolam para ultrapassar. “Nosso RM tem buscado valorizar a diária, nos mantendo competitivos e ao mesmo tempo oferecendo o melhor custo benefício. Trabalhamos com categorias de UHs para atender todos os tipos de público”, acrescenta Elisângela.

Os meses de junho e julho foram de reposicionamento de diária média no Distrito Federal, explica Severien. Segundo o executivo, o indicador vinha apresentando estabilidade nos últimos 12 meses, sem reajustes inflacionários. “Nestes meses, conseguimos dar um passo adiante. Houve recuperação da diária, ainda que abaixo da inflação. Acredito que será um movimento contínuo e que seguiremos crescendo, mesmo durante as eleições e as quedas de ocupação”, prevê.

Para se ter uma ideia, em abril de 2022 a diária média da unidade federativa era de R$ 315. Em maio, o indicador subiu para R$ 328, até cair para R$ 319 em junho — por conta do início das férias. “Para nós, chegar acima dos R$ 300 se trata de uma recuperação expressiva e vamos continuar crescendo”, comemora Severien.

O RM do Nobile Suítes Monumental vem trabalhando forte nas flutuações tarifárias. “A partir de um certo percentual de ocupação vamos aumentando o preço. Desta forma, temos conseguido elevar a diária em até 12%. Se incluirmos julho na conta, a previsão de ocupação média para o segundo semestre é de 70%”, acrescenta Stacciarini.

Há pouco mais de um mês no cargo de gerente geral do B Hotel, Alfredo Stefani revela que a tarifa da propriedade gira em torno de R$ 560 e R$ 700. Para 2022, a expectativa é de encerrar com 54% de ocupação. “A retomada do corporativo é bem expressiva e está segurando as diárias. Temos feito a lição de casa para afinar promessa e entrega. Para setembro e outubro, o forecast de Brasília ainda é muito pequeno, pois as reservas são feitas last minute”.

Brasília - danilo stacciarini

Pick up de vendas diminuiu, aponta Stacciarini

Estratégias para suprir a demanda

Como sofrer com ocupações baixas não é uma opção, o setor hoteleiro da capital federal busca novas demandas para tapar os buracos deixados pelo turismo político. Severien explica que, felizmente, a cidade tem contado com uma movimentada agenda de eventos culturais e esportivos. “O estádio Mané Garrincha, hoje administrado pela iniciativa privada, tem gerado um movimento intenso aos finais de semana com as atividades. A procura por eventos mitigam essa discrepância causada pelo resfriamento da agenda política”.

No B Hotel, o que segura os indicadores são as reuniões e eventos corporativos. Com um espaço para receber até 300 pessoas, o empreendimento vem registrando alta procura por parte de empresas. “Não sei se tem algo a ver com as eleições, mas percebemos um crescimento nesse aspecto. Logo, acreditamos que o esvaziamento do Congresso não nos afete tanto”, projeta Stefani.

Stacciarini comenta que, com a pandemia, o pick up de vendas diminuiu. Se antes o Nobile Suites Monumental trabalhava com previsibilidade de 15 dias de antecedência, essa janela caiu para um dia. “Acordamos com uma ocupação e vamos dormir com outra. Hoje, nosso pick up é de três a quatro dias, então, é difícil fazer previsões. Contudo, apostamos na movimentação do Judiciário e demanda de jornalistas de fora da cidade para acompanhar as atividades eleitorais”.

Posse do eleito

Se o período eleitoral representa vazão de demanda, o Réveillon promete altas ocupações para o setor. Independentemente de posicionamentos políticos, Severien conta que a troca de mandato, historicamente, fomenta maior demanda na posse do candidato eleito do que a manutenção de cargo.

Em 2018, os hotéis da Hplus em Brasília registraram ocupação acima dos 80%. “Nesse período, buscamos trabalhar com tarifas não reembolsáveis, reservas antecipadas para dimensionar o público e desenvolver pacotes”, pontua Elisângela.

“Brasília é uma cidade com pouco movimento no Ano Novo, mas em ano eleitoral o período é muito bom para o setor hoteleiro. Em 2019, chegamos a 73% de ocupação. Vamos acompanhar para entender como o mercado se comportará desta vez”, finaliza Stacciarini.

(*) Crédito da capa: Daniel Costa/Unspash

(**) Crédito das fotos: Divulgação