Dos holofotes idealizados em Nova York à realidade local. Sim, a OYO Hotel & Homes prepara seu IPO (Initial Public Offering) a milhares de quilômetros de distância da bolsa de valores que sonhava e, inclusive, já entregou um prospecto ao órgão regulador da Índia. Do documento, do qual o Hotelier News teve acesso, tira-se conclusões importantes sobre o momento atual e as perspectivas futuras da empresa.

Retrato do momento e uma projeção para o futuro, o prospecto de 642 páginas (acesse aqui) mostra bem como a empresa expandiu muito mais rápido do que deveria, sem preocupação com a sustentabilidade do negócio. Apresenta ainda como ela sobreviveu aos seus problemas de gestão e à pandemia, que redundou em uma estrutura menor e mais otimizada, mas que, ainda assim, mantém um modelo complexo. Bom exemplo disso são as mais de 100 subsidiárias ligadas diretamente ou indiretamente à matriz na Índia.

Outro sinal é o extraordinariamente alto número de processos judiciais que a OYO está envolvida, o que é algo bastante sintomático frente à natureza do modelo de negócio, que deixou muitos parceiros e clientes insatisfeitos no Brasil e no mundo. Mesmo antes da pandemia, por exemplo, já encarava questionamentos.

No prospecto, a OYO diz ter valor de mercado superior a US$ 10 bilhões. Mais ainda, informa que pretende levantar US$ 1,2 bilhão na emissão, volume financeiro bastante inferior ao que um dia Ritesh Agarwal certamente sonhou em captar na Nasdaq. Obviamente, o montante é também insuficiente para remunerar todo dinheiro aplicado pelo seu principal investidor (Softbank) para escalar o negócio globalmente.

Sabe-se também que a empresa indiana pretende levantar cerca de US$ 942 milhões por meio da venda de novas ações, enquanto o restante é reservado para a negociação de papéis existentes (transação secundária). O Softbank, por exemplo, planeja se desfazer de uma fatia de sua participação que supera US$ 175 milhões, disse a OYO no documento. Além disso, a startup planeja usar mais de US$ 330 milhões do que captar para o pagamento de dívidas.

Mais detalhes

As páginas também mostram números financeiros mais detalhados da operação, algo que sempre foi um mistério para o grande público. Uma coisa certa, contudo, era que os prejuízos sempre acompanharam a trajetória da OYO, mas o prospecto materializa essas perdas (veja abaixo, com valores em rúpias indianas).

OYO - prospecto IPO_receitas e custos

Ainda assim, há sinais positivos. Exemplo: a OYO teve o maior volume de receita da história em 2020, que subiu 108% frente ao ano anterior e chegou a US$ 600 milhões. Boa parte desse faturamento foi em função da expansão do inventário, que cresceu 7,3 vezes, passando de 21.616, em 31 de março de 2019, para 158.176 um ano depois. Ao mesmo tempo, os custos subiram drasticamente (+159% em relação a 2019), levando a um prejuízo recorde – e aos ajustes operacionais que se seguiram no Brasil e no mundo.

Já no ano fiscal encerrado em 31 de março deste ano, a OYO perdeu dois terços de sua receita do ano anterior, tanto em função da pandemia, como da redução do tamanho da empresa. Ao mesmo tempo, os custos caíram na mesma proporção, levando a uma perda mais próxima a observada nos anos pré-Covid.

Acionistas

O documento traz também um retrato da participação atual de cada acionista da empresa (veja mais abaixo). Agarwal diretamente e por meio de sua subsidiária, baseada nas Ilhas Cayman, possui 33% da empresa, enquanto o Softbank detém a maior fatia da OYO, com quase 47%.

A Airbnb, que investiu cerca de US$ 75 milhões na OYO em 2019, agora detém uma pequena participação de 1,36%. Outros investidores institucionais são Sequoia Capital India, Lightspped Venture Partners e A1 Holdings.

Ah, uma notícia importante: pelo que apurou o TechCrunch, Agarwal não pretende vender suas ações. Obviamente, sabe-se que ele tirou uma grande parte do dinheiro da mesa ao longo desses anos após as grandes rodadas de investimentos anteriores.

OYO - prospecto IPO_acionistas

Mais dados

  • Hoje, 70% dos funcionários da OYO estão na Índia, o que demonstra claramente a diminuição do tamanho da empresa globalmente.
  • A OYO informa ter cerca de 158 mil hotéis e ofertas de short term rentals na plataforma atualmente.
  • Seus principais mercados atualmente são Índia, Malásia e Indonésia, bem como ofertas de short-term rentals na Europa, que respondem por cerca de 90% do inventário atual. No Brasil, o número de hotéis é inferior a 100.
  • A OYO conta com 10 milhões de usuários em seu programa de loyalty.

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(*) Crédito da tabelas: extraído do prospecto da OYO Hotels & Homes