Os últimos anos representaram um cenário de certa forma imprevisível para a indústria de viagens, indo das restrições durante a pandemia ao reaquecimento em 2022 e consolidação da retomada em 2023. Agora, a pergunta que fica é: como o setor irá se comportar ao longo de 2024? De acordo com o Global Travel Outlook 2024, publicado pelo Skift, a ideia de um “ano perfeito” parece mais provável do que se pensa, principalmente em regiões como a América do Sul, que deve registrar o segundo maior crescimento do mundo, atrás apenas da Ásia.

Mariana Aldrigui, pesquisadora do turismo, diz que essa previsão para a América do Sul é explicada por pontos como o fato de que muitos países estão em transição política, o que diminui o volume de viagens de longo curso. “Quando a Argentina deixa de fazer essas viagens, por exemplo, entram mais argentinos no Brasil. Além disso, o brasileiro também tem viajado mais para os países vizinhos. Quando falamos especificamente do Brasil, sempre que o país tem uma melhora no cenário econômico, vira um grande mercado para os concorrentes, com os brasileiros indo para fora e os estrangeiros vindo para cá”, explica, em entrevista ao Hotelier News.

“Obviamente, é uma leitura que se aplica apenas no contexto das viagens entre vizinhos, que são mais acessíveis, com possibilidade de repetição. Em qualquer fronteira no mundo, os vizinhos são responsáveis por esse crescimento. Temos bons resultados com Uruguai, Paraguai, e até o Chile, que não é exatamente vizinho, mas a conexão é muito boa com turistas de lazer. É um reflexo da combinação proximidade + estabilidade econômica”, complementa.

Mariana explica, ainda, que não há muitos fatores que possam comprometer seriamente a demanda. “Muito se fala nos preços das passagens, por exemplo. Ainda assim, não estamos perdendo demanda, as pessoas seguem viajando. O que há, além da pressão por redução de preços, é a consciência de que as viagens internacionais estão mais vantajosas. Os argentinos viajando para dentro do Brasil pagam menos do que os brasileiros que viajam dentro do próprio território. Isso talvez seja um gancho para promoções mais interessantes a nível de destino. Não acredito que os preços devam atuar como um detrator da indústria de viagens”, conclui.

Outros insights

A pesquisa do Skift mostra que o crescimento da indústria de viagens deve passar por um processo de desaceleração, de dois para um dígito. Por outro lado, ressalta que esse fator não é mau sinal. Em vez disso, haverá fortalecimento contínuo à medida que os negócios voltam ao normal.

As condições econômicas parecem preparadas para apoiar mais gastos. E embora existam algumas nuvens no horizonte, há mudanças no comportamento dos consumidores que dão prioridade às viagens em detrimento de outras despesas, o que deverá ajudar a apoiar o crescimento, mesmo que surjam pontos fracos.

Se olharmos mais de perto, a história torna-se mais complexa e 2024 será um ano de dissociação setorial e regional. Espera-se que a Ásia experimente finalmente forte crescimento após os seus prolongados confinamentos. A Europa, por outro lado, deverá registar moderação à medida que a procura reprimida se esgotar e os viajantes mudarem o seu foco para o Pacífico.​

Além disso, as viagens entre fronteiras eram uma das principais áreas nas quais o setor ainda precisava alcançar os níveis pré-pandemia. O regresso dos viajantes chineses e aumento da procura de viagens na Índia, por exemplo, devem contribuir com o crescimento global. Por mais que as revenge travels possam estar perto do fim, a indústria de viagens ainda tem uma lacuna a preencher. Em relação ao patamar que a indústria estaria sem uma pandemia, a Skift Research estima que o setor permanecerá 120 milhões de viagens internacionais abaixo do potencial em 2024. ​

Indústria de viagens - Infográfico_Skift

 

Do ponto de vista do setor, estima-se uma espécie de inversão de papéis em 2024. As companhias aéreas deverão liderar o crescimento à medida que a capacidade da Ásia voltar a seu pleno vapor, enquanto os aluguéis de curta duração poderão ficar atrás dos desempenhos dos últimos três anos.

As restrições de capacidade já passaram, mas podem ajudar a apoiar o poder de fixação de preços. Grande parte da recuperação hoteleira resultou de ganhos de poder de fixar tarifas, o que deixa espaço para outra etapa do crescimento liderado pela ocupação. Isto é apoiado por uma escassez de novas construções que já dura há anos e pelo aumento das restrições aos arrendamentos de curta duração.

As viagens online voltam a ser um campo de batalha importante. Confrontados com o aumento da inflação, os consumidores em todo o mundo regressaram à comparação de preços por meio de terceiros. Com o Google firmemente instalado no topo do funil de busca tradicional, os sites de reservas precisam de enormes orçamentos de marketing ou de quebrar os moldes por meio de estratégias novas e inovadoras.​

(*) Crédito da foto: DariuszSankowski/Pixabay