Em processo de retomada gradual, o setor hoteleiro do Ceará continua com perspectivas otimistas para as festividades de final de ano, mesmo após a suspensão do Réveillon na Praia de Iracema, na capital Fortaleza, um dos principais chamarizes para o período, responsável por alavancar consideravelmente as atividades turísticas do estado, que prevê ocupação hoteleira de 90%.

Em anúncio, o governador Camilo Santana (PT) afirmou que as festas em locais abertos deverão comportar, no máximo, 5 mil pessoas, e 2,5 mil em ambientes fechados. As medidas passarão a vigorar a partir de 16 de dezembro e devem seguir a mesma linha no carnaval de 2022.

Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) vê a decisão com bons olhos, visto que o cenário em relação à pandemia da Covid-19 ainda é permeado por incertezas, principalmente devido às novas variantes.

“É bem melhor prevenirmos agora, com essa suspensão, do que termos uma piora posteriormente, sobretudo agora com essas variantes. Dentro deste cenário, me posiciono contra grandes aglomerações no Réveillon e carnaval, para garantirmos, em primeiro lugar, a saúde dos turistas. De qualquer forma, acredito que, mesmo com a suspensão dos grandes eventos, tenhamos boa ocupação no estado durante o período”, afirmou à reportagem do Hotelier News.

Seguindo o mesmo raciocínio, Régis Medeiros, presidente da ABIH-CE (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará), também considerou a decisão positiva e ressaltou os riscos de organizar festas com grandes quantidades de pessoas.

“Se observarmos o contexto internacional, podemos dizer que realizar eventos com muitas pessoas seria como viajar em um avião com uma turbina só. Sendo assim, preferimos ficar no chão. Não podemos arriscar todo o ano de 2022 em uma só noite. Isso não se justifica”, afirmou em entrevista do portal O Povo.

Ele afirmou ainda que o setor não prevê redução significativa da ocupação na virada do ano e explica que os turistas já tinham conhecimento do risco de a festa não ser realizada. “Não vou dizer que a festa da Praia de Iracema não seria importante, mas muitas pessoas não iriam. Esse é um momento diferente, busca-se ambientes controlados e seguros. Nosso pânico é qualquer retrocesso, visto que o turismo está se recuperando, mas ainda existe uma ferida muito grande. Temos que seguir no caminho da retomada, e a decisão está de bom tamanho para o momento”, ressalta.

Indo na contramão do raciocínio de Linhares e Medeiros em relação à ocupação no Ceará, Vera Lúcia, presidente da AMTH-CE (Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo do Ceará), que representa empreendimentos de pequeno porte, prevê que a ocupação deve cair de 90% para um percentual entre 45% e 50% no fim de ano.

“Algumas horas após o anúncio do decreto estadual, começamos a receber pedidos de cancelamento das reservas. Vamos ter que aprender a conviver mais com a pandemia. Não podemos vacilar com protocolos, porque vemos que países que aboliram as máscaras, por exemplo, continuam com crescimento de casos”, afirma Vera, acrescentando que a capital responde pelo maior índice de cancelamentos.

Hoteleiros mantêm boas perspectivas

Philippe Godefroit, gerente geral do Gran Marquise Hotel, afirmou que a decisão não afeta as perspectivas positivas do empreendimento para o período. “Para nós não há impacto econômico ou comercial. Estamos com boas vendas tanto para o Natal quanto para o Réveillon, período em que organizamos uma festa no hotel para comemorar a chegada do novo ano”, destaca.

Ele pontua ainda que, com o cancelamento do Réveillon da Praia de Iracema, as festas privadas deverão ser uma tendência crescente para as festividades de fim de ano. “Temos percebido, por parte dos turistas, essa busca por festas mais intimistas, o que é muito bom para nós, que esperamos 98% de ocupação. Por outro lado, este índice depende diretamente da situação da malha aérea, visto que 80% do nosso público é proveniente de outros estados”, finaliza.

O cenário otimista também se mantém no Mercure Fortaleza Meireles, empreendimento da rede Accor. De acordo com Jacion Souza, gerente interino da unidade, a previsão de ocupação para o Réveillon é de 90%. “Existe sim a possibilidade de o cancelamento nos afetar em termos de ocupação, mas até então ainda não sentimos esse movimento e não tivemos cancelamento expressivo de reservas. Muita gente já comprou bilhetes aéreos e a dificuldade no cancelamento pode forçar as pessoas a virem, mesmo sem a festa oficial”, afirma Souza, ressaltando que o hotel fechou o mês de novembro com ocupação de 75%, percentual que vem evoluindo gradualmente.

(*) Crédito da foto: lhenrique20/Pixabay