As semelhanças entre Brasil e Europa no que tange efeitos da pandemia à hotelaria são cada vez maiores. Com a segunda onda batendo forte tanto lá, quanto cá, lockdowns e medidas de restrição acabaram sendo inevitáveis, resultando em quedas bruscas nos principais indicadores do setor hoteleiro. Será que as perdas dos hotéis brasileiros serão similares às vistas no Velho Continente? Mais ainda, nessa “corrida” pela retomada, quem será que chega na linha final primeiro?

Análise divulgada hoje (22) pelo portal Comprar Acciones, que compilou informações de diferentes bases de dados, a hotelaria europeia deve ver a receita ceder 50%. Como indica relatório da STR, a expectativa é que o segmento só recupere os padrões de 2019 em 2023 na região, muito em função do impacto da pandemia nas viagens internacionais (importantíssimo na Europa) e no mercado corporativo. O portal, inclusive, cita levantamento da S&P Global, que prevê queda de 10% a 30% nas viagens de negócios nos próximos anos, o que deve levar propriedades focadas no segmento Mice e em grupos a serem as últimas a se recuperar – ou seja, apenas quando a Covid-19 estiver totalmente controlada.

Por aqui, o cenário atual não é muito diferente da realidade europeia. Segundo números dos InFOHB relativos ao período de janeiro a março, a redução média no RevPar dos hotéis geridos pelas redes associadas ao FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) é de 44,4%. O percentual leva em conta dados de 15 praças, casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Recife, Fortaleza, Porto Alegre e Curitiba, entre outras (veja abaixo).

Brasil e Europa

Para Orlando Souza, presidente executivo do FOHB, a comparação entre os dois mercados é plenamente factível. “Dados do InFOHB fechados neste mês, com base nos resultados até abril, mostram que os impactos negativos em RevPar e receita continuam. Sendo assim, é muito difícil que se recupere até o final deste ano. Sem uma terceira onda, é possível que haja melhora”, avalia Souza, em contato com a reportagem do Hotelier News.

Além disso, o executivo cita que o efeito que se esperava da vacinação ainda não se concretizou totalmente. “Ainda que com a imunização, que caminha lentamente, avance, não temos como acreditar que redes hoteleiras se recuperem totalmente em 2021. Portanto, é possível que a receita brasileira caia de 40% a 50%, como se espera na Europa”, afirma Souza.

Ainda deste ponto de vista, o executivo complementa que 2021 é, sim, um ano perdido para a hotelaria brasileira. Em suas palavras, é possível que os indicadores do setor batam “no fundo do poço” e, a partir de 2022, se inicie, de fato, a retomada.

Brasil e Europa: diferenças

Mesmo com a similaridade nas realidades atuais entre Brasil e Europa, alguns pontos podem dar mais otimismo aos europeus. Fato é que, com a temporada de verão europeu por vir (de junho a setembro) e a hipótese das restrições diminuírem até lá, existe a chance dos indicadores dos hotéis no Velho Continente ganharem mais tração nos próximos meses. Segundo analistas da Allianz, a hotelaria independente, por exemplo, deve recuperar um quarto da receita perdida em 2020 neste período.

Em contraposição, a estação mais quente já passou no Brasil, levando consigo datas de fluxo turístico relevantes para os hotéis do país, como Réveillon, Carnaval e Semana Santa. Além disso, diferentemente de mercados centrais na Europa, o ritmo de vacinação segue lento, o que pode também trazer consequências – especialmente nos segmento corporativo e Mice – para além de 2021. Vamos ver, então, as cenas dos próximos capítulos tanto aqui, como lá!

(*) Crédito da foto: Markus Spiske/Unsplash

(**) Crédito do infográfico: Divulgação/Infohb