Quando a família de Ana Carolina Martins se mudou para o Canadá, uma porta se abriu para a tão almejada carreira internacional. Há 18 anos na Accor, a executiva tinha como um de seus objetivos profissionais explorar mercados estrangeiros. E, diga-se de passagem, ela começou em grande estilo. À frente das operações do Fairmont Le Manoir Richelieu, em Quebec, a hoteleira coloca uma pitada de brasilidade no empreendimento de luxo da rede francesa.

“Me preparei a vida toda para esse momento. Sempre desejei uma carreira internacional e, quando minha família veio para o Canadá, comecei a me estruturar para a mudança”, conta em entrevista ao Hotelier News após alguns desencontros virtuais devido ao fuso horário.

Para quem lê essa pequena parte da trajetória, pode parecer que a chegada de Ana Carolina ao posto de diretora de Operações da propriedade de 405 apartamentos foi fácil. Mas a executiva fez um intenso plano de preparação para estar onde está.

“Sempre atuei na Accor pela possibilidade de trabalhar fora do Brasil. Como já fazia parte dos meus planos de carreira, fui me preparando para os desafios que poderiam surgir. Acredito que estar preparada para abraçar oportunidades é essencial”, analisa.

Antes de assumir o posto, a executiva passou um ano estudando comércio internacional em Montreal para ter uma melhor compreensão do mercado canadense, sua economia, demandas e regulamentações.

“Investi também um ano para evoluir no francês, que eu já estudava, mas precisei fazer uma imersão para pegar fluência. Ainda no Brasil, o RH da Accor me auxiliou para fazer o contato para o processo seletivo de lideranças”, relembra.

Novotel Lençóis Paulista - abertura

Com o time da Accor na abertura do Novotel Lençóis Paulista

O dia a dia das operações

Quando questionada sobre a rotina operacional do Fairmont Le Manoir Richelieu, Ana Carolina é só sorrisos. “É uma experiência maravilhosa”, enfatiza. Ainda que sejam países distintos, ela salienta que os processos são similares. “Mas as diferenças culturais são reais quando atuamos como imigrantes”.

Acumulando aprendizados, a diretora afirma que a diversidade abarcada pela hotelaria como um todo une pessoas de todas as partes do globo. “Tenho contato com muitas nacionalidades que não são tão comuns no Brasil, como de países da África, Oriente Médio e Ásia, o que é muito interessante no mercado canadense no geral. É algo que traz riqueza e muitos desafios — juntar pessoas com backgrounds tão distintos para o mesmo objetivo”.

Sobre o jeito canadense de fazer hotelaria, ela salienta o porte dos empreendimentos, com estruturas superlativas frente aos hotéis brasileiros. “São propriedades enormes, com uma grande complexidade e muitos investidores. Isso sem contar o entorno, já que estamos próximos ao rio Saint-Laurent e a uma floresta”.

Com uma forte cultura francesa, Ana Carolina afirma que a região possui uma identidade própria que se distingue do restante do Canadá. E tal herança ganha reforços com a bandeira da Accor. “Além do idioma e da gastronomia, que tem influência francesa, o cliente tem uma experiência similar aos hotéis da França no Fairmont Le Manoir Richelieu”.

A experiência de luxo

Queridinha em diferentes regiões do mundo, a marca Fairmont se encaixa em destinos distintos, porém com experiências que dialogam com o local em que está inserida. Por se tratar de uma propriedade de quase 125 anos de história, o Le Manoir Richelieu por si só já enche os olhos até do mais requintado turista.

“Somos um resort com 250 hectares de área, campo de golfe, cassino, floresta, trilhas, áreas de lazer interna e externa, além de um centro de convenções de 28 mil metros quadrados (m²). O luxo aqui é também ter tempo e espaço, além da qualidade da marca que fala por si”, salienta a diretora.

Ao contrário do Brasil, o Canadá possui suas particularidades sazonais. Com um inverno rigoroso, o empreendimento precisa se preparar para as temperaturas negativas. “São dois hotéis completamente diferentes no verão e no inverno. E este tem sido um grande aprendizado, trocar tapetes, colocar proteções nas estruturas, organizar as instalações do estacionamento. São processos que não vivemos no Brasil”, compara.

Por se tratar de uma propriedade centenária, o Fairmont Le Manoir Richelieu tornou-se um grande vetor da economia da região. Desde sua abertura, o empreendimento impulsiona o turismo, gera empregos e incentiva a produção agrícola.

“Temos gerações de famílias que atuam no hotel. Somos o maior empregador da região e todo esse know how nos ajuda a trabalhar cada vez melhor. Por incrível que pareça, 80% da nossa demanda é regional de Quebec. O Canadá é muito grande, as distâncias são longas e isso traz desafios”, analisa.

Carreira

Formada em Turismo, a executiva conta que sempre procura dar pausas para estudar e ampliar seus conhecimentos. “Gosto de abrir a mente para o novo, refletir e absorver novas tendências. Fiz um MBA internacional em Gestão de Negócios com extensão em Ohio, projetos relacionados à hotelaria como formas de estudo, além de cursos paralelos de gestão e desenvolvimento de talentos”.

Antes de entrar na Accor, Ana Carolina buscou diversidade em seu currículo. Enquanto estava na faculdade, foi trainee na Disney em dois programas nos parques durante o verão e inverno. “Também trabalhei no Grand Hyatt São Paulo, onde permaneci por dois anos, até que sai para fazer minha especialização, mas foi uma grande escola”.

Na rede francesa, ingressou como assistente de gerência. Ao longo de sua trajetória na empresa, atuou em hotéis como ibis Barra Funda, ibis Indaiatuba, Mercure São Paulo Jardins e Novotel Santos Dumont.

“Na Accor, trabalhei em aberturas em mercados secundários, além de hotéis com baixa performance como uma forma de me preparar para futuras vagas. O Brasil é muito diverso, quando você muda de estado é quase como mudar de país pelas diferenças culturais. E este foi um dos motivos porque optei por ficar durante tantos anos”, enfatiza.

O êxito na carreira ela atribui a bons gestores, que atuaram como verdadeiros mentores profissionais. “Um líder tem um enorme impacto na vida das pessoas. E as decisões que tomamos nos hotéis podem afetar a economia de uma região. É preciso criar uma bagagem interna de experiências, e isso só é possível quando nos expomos ao desconforto e ao desconhecido”, reflete.

Sobre quem ela considera um mentor importante em sua carreira, a diretora cita Solange Manso e Ronaldo Grapiglia, ambos gestores em sua trajetória na Accor. “Foram profissionais essenciais na minha adaptação dentro da rede e que me ensinaram que os resultados vêm de pessoas”.

No Brasil, sua última passagem foi como gerente geral do Novotel Lençóis Paulista, onde permaneceu por quase um ano e meio. “Foi um legado que deixamos para a região em termos de design de acomodações, conceito de estruturação e atendimento”.

Por enquanto, Ana Carolina pretende consolidar seu trabalho no Canadá, com foco no setor de luxo. “Fairmont é uma marca linda que vem passando por um momento de expansão. Quero explorar as oportunidades aqui”, finaliza.

(*) Crédito da capa: arquivo pessoal

(**) Crédito da foto: Peter Kutuchian/Hotelier News