Especialmente no pós-pandemia, os hóspedes estão cada vez mais exigentes, sobretudo em empreendimentos de alto padrão. Para atender essas demandas, que estão em constante mudança, a indústria precisa se adaptar desde a concepção dos projetos arquitetônicos. Com o objetivo de reunir as principais tendências da arquitetura para a hotelaria de luxo, o Hotelier News convidou dois experientes profissionais do ramo para trazerem suas perspectivas acerca do tema.

A primeira convidada é Candida Tabet, da empresa de arquitetura homônima. Natural de Ribeirão Preto, no interior  de São Paulo, a profissional mudou-se para a capital paulista para estudar arquitetura. Embora sua atuação seja mais focada em projetos residenciais, a arquiteta tem bastante interesse em hotelaria, pois gosta de avaliar o uso dos espaços pelos hóspedes.

Ela conta que sempre teve muita sorte com seus clientes, por receber tarefas desafiadoras que a fizeram crescer e se desenvolver como profissional. “Um deles foi Ricardo Sembler, que me convidou para arquitetar o Six Senses Botanique após eu ter feito o design de sua casa”, revela Candida.

O segundo convidado é Eduardo Manzano, CEO e diretor de Design da EMDAStudios. Com mais de 30 anos de experiência em todas as fases dos projetos de arquitetura e design de interiores, Manzano tem mais de 400 projetos no currículo. Desses, grande parte são da área de hospitalidade, uma de suas especialidades. Além de sua atuação como arquiteto, também foi executivo de diferentes empresas e consultor de diversas companhias e órgãos governamentais.

arquitetura - tendências de hotelaria de luxo - Candida Tabet

Candida assinou o projeto do Six Senses Botanique

Tendências de arquitetura e design de interiores

Abaixo, seguem as principais tendências da arquitetura para a hotelaria de luxo, segundo Candida e Manzano.

1- Tecnologia e personalização

De acordo com Manzano, com o advento e implementação de novas tecnologias pelas áreas comuns do hotel e nos quartos, a personalização da experiência dos hóspedes fica cada vez maior. Desde o controle dos clientes sobre a luminosidade, cores e sonorização dos ambientes, até o uso de inteligência artificial para configurações dos quartos e atendimento.

2- De casa para “casa”

Por conta da pandemia e, segundo Manzano, da concorrência com o Airbnb, os hotéis devem ficar cada vez mais com cara de casa. Um exemplo disso é a inclusão de pequenas cozinhas nos componentes das unidades habitacionais.

Em função da maior exigência por tecnologia e pelo número de trabalhadores no modelo home-office, é crucial que os apartamentos disponham de tomadas em todos os cantos, assim como conectividade superior do que as oferecidas nas próprias residências dos hóspedes.

3- Quartos menores

Em função do custo do terreno e das tendências de mercado, já não é mais novidade ver opções menores de acomodações. Especialmente com o crescente desenvolvimento da hotelaria de experiências e do segmento lifestyle, que trás o quarto com menos relevância frente às áreas comuns do empreendimento.

Segundo Manzano, todas as grandes redes hoteleiras do mundo já possuem ou estão desenvolvendo micro ou mini quartos, que possuem de 10 a 14 metros quadrados (m²) e de 12 a 16 m², respectivamente. Vale ressaltar que ainda estamos falando de hotelaria de alto padrão e, embora sejam apartamentos menores, estes devem conter o máximo de sofisticação, luxo e conforto.

4- Estilo eclético

De acordo com Manzano, já passou a moda millennial de hotéis coloridos e minimalistas. “Os novos hotéis são mais releituras dos tradicionais, que incluíam mármore e ouro na composição”, pontua o arquiteto. “As peças ‘retrô’ e ‘vintage’ auxiliam na experiência dos hóspedes, tanto por questão de moda como em função da memória afetiva”, acrescenta.

Outro elemento herdado do crescimento dos empreendimentos lifestyle é a inclusão de elementos regionais, que são de grande importância na escolha e avaliação dos hóspedes.

arquitetura - tendências de hotelaria de luxo - Eduardo Manzano

Manzano possui mais de 400 projetos em seu currículo

5- Cenário como protagonista

Na execução do projeto do Six Senses Botanique, Candida compartilha que teve grande preocupação por se tratar de um empreendimento em Campos do Jordão. “Queria que o hotel tivesse um resultado contemporâneo, mas que ainda se encontrasse dentro do contexto tradicional europeu, que faz parte da história da região”, conta a arquiteta.

“Se não levar isso em consideração, ou você fica fora de contexto da região ou do tempo que você vive, caindo em um resultado bastardo”, reforça Candida. “A arquitetura não pode brigar com o ambiente e sim estar muito bem implantada no cenário que contém o projeto. Isso é muito importante na hotelaria, ser verdadeiro ao invés de tentar ser mais que o contexto em que está inserida”, conclui.

6- Indoor encontra outdoor

Entrando nas áreas comuns, ambos os arquitetos ressaltam a importância dos ambientes serem mais integrados e abertos ao ar livre, em especial após a pandemia. Isso também se mostra relevante para espaços de eventos, restaurantes e quartos. “Num país tropical como o Brasil, uma varanda bacana é essencial”, exemplifica Manzano. “Muitos restaurantes de hotéis de luxo já contam com aberturas para espaços externos em meio à natureza.”

7- Lobby e espaços multifuncionais

“Flexibilidade é fundamental”, destaca Manzano. A área comum precisa abrigar diversos espaços multifuncionais, não apenas um lobby com sofás. “Com espaços de leitura, lounges de reuniões e outras funcionalidades, o lobby passa a ser como uma extensão da casa dos hóspedes”, complementa.

Esse fator é especialmente importante para o público corporativo e de eventos. Tratando as salas de eventos como locais multiuso, o hotel pode receber inúmeras atividades a todo momento. Tangenciando o último item, é interessante também que essas áreas tenham conexão direta com o lobby do hotel e a rua para atrair o público externo e da comunidade local.

Anteriormente, a hotelaria de luxo tinha um caráter mais ostensivo, segundo Candida. “Agora é muito mais uma questão de como vão utilizar cada espaço, como esse ambiente inspira e provoca os hóspedes pela experiência visual nova e autêntica”.

8- Sustentabilidade

Este tema é tão batido que só não fica de fora por nunca perder relevância. As tendências cercam desde o processo de construção dos edifícios, com uso de materiais reciclados ou ecológicos, até o design de interiores, que inclui a abolição da vegetação artificial nas dependências dos hotéis. De acordo com Manzano, teto verde e horta para servir ao restaurante são diferenciais, além de servir como apelo de marketing.

Da mesma forma, na concepção do projeto, é sempre importante considerar a iluminação natural, que Candida destaca como uma das preocupações no desenvolvimento do Botanique. “Os projetos devem ser pensados no conforto que a modernidade proporciona sem deixar a preocupação com a sustentabilidade de lado, que é urgente, iminente e um caminho sem volta.”

9- Instagramável

Por fim, um elemento bastante importante considerando o advento das redes sociais é pensar e desenvolver espaços instagramáveis. Segundo Manzano, todos os ambientes precisam ter locais cenográficos para criação de “imagens de experiência”. “Estes locais sempre devem investir em imagens teatrais, que contem alguma história ou o estimulem imaginário do hóspede”, acrescenta o arquiteto.

“Se essas tendências vão durar muito ou pouco, não é possível saber. Por uma questão de economia, ainda é possível que a hotelaria retome a padronização, mas acho altamente improvável”, finaliza o Manzano.

(*) Crédito da capa: Ralph Kayden/Unsplash

(**) Crédito da foto Eduardo Manzano: Divulgação

(***) Crédito da foto Candida Tabet: reprodução/CASACOR