Plataforma de e-commerce de casa, decoração e lifestyle, a Westwing abriu capital este ano na B3, quando levantou R$ 1,16 bilhão. Diversificar as categorias que a empresa atua, inclusive, era uma das promessas dada aos investidores nos roadshows para divulgar a oferta. O primeiro passo, portanto, foi dado no início da noite de ontem (28) com a compra da Zarpo. A OTA, por sua vez, vem em um crescimento constante nos últimos anos, mesmo atuando em um nicho dominado por gigantes como Booking.com, Expedia, Airbnb e, mais especificamente na América do Sul, Decolar.

Em comunicado, Andres Mutschler, CEO da Westwing, disse que a aquisição da Zarpo é mais um passo na estratégia de expansão em categorias de lifestyle. “Com este movimento, continuaremos nossa jornada de expansão de mercado endereçável que nos permite conquistar novos clientes através das sinergias comerciais entre as plataformas, além de servir melhor ainda a base de mais de 9 milhões de usuários cadastrados na Westwing.”

Em contato com a reportagem do Hotelier News logo após o anúncio da transação, Daniel Topper seguiu linha bem parecida ao explicar o negócio, citando também as sinergias comerciais entre as duas plataformas. “Neste ano em que completamos 10 anos de fundação, iniciamos um novo e importante capítulo, lembrando que conseguimos crescer de forma acelerada e saudável nos últimos anos, assim como a Westwing”, comentou o CEO da Zarpo.

Primeira aquisição da história da Westing, o negócio ocorre em um momento de consolidação de outros marketplaces de nicho de mercado, caso da Mobly, e-commerce de móveis que também abriu capital este ano. A transação com a Zarpo foi feita com os três fundadores (Alexis Manach, Eloi Déchery e Numa Sales de Paiva) e o fundo de venture capital KPTL, além de investidores-anjos.

“Além de investimento anjo no início da empresa, tivemos uma rodada serie A em 2013, de aproximadamente R$ 4,5 milhões”, informa Topper. “Embora seja natural que, em algum momento, investidores queiram realizar o aporte que fizeram em qualquer negócio, posso dizer que no nosso caso não era uma prioridade. Havia fit e muitas sinergias nesse negócio, especialmente na visão da Westwing sobre o segmento lifestyle“, completa.

Ontem, as ações da Westwing fecharam o dia em baixa de 4,67% (a R$ 5,50), acompanhando a Bovespa e sem precificar ainda o anúncio da aquisição, feito após o pregão. A empresa é atualmente avaliada em cerca de R$ 600 milhões.

Zarpo e perspectivas

Fundada em 2011, a Zarpo conta com mais de 6 milhões de clientes cadastrados na base. Com um time de aproximadamente 100 pessoas, que seguem na operação (incluindo Topper), a OTA atingiu um GMV (Volume Bruto de Mercadoriam, na tradução livre) de R$ 160 milhões em 2019, informa o comunicado. Com a pandemia, o indicador chegou a R$ 115 milhões (-28,1%) ano passado, queda relativamente pequena diante do estrago causado pela Covid-19 na indústria de viagens. Para efeito de comparação, o GVM da Westwing bateu em R$ 372 milhões em 2020.

Zarpo - aquisição Westwing_Daniel Topper

Topper: sinergia comercial entre as empresas facilitou negócio

De carona no lazer, que é seu carro-chefe, a OTA segue em processo de recuperação neste ano, registrando três meses consecutivos de incremento nas vendas. “Vivemos uma dinâmica de crescimento, mas, em um mercado cada vez mais competitivo, ter uma empresa de capital aberto conosco nos dá uma força para acelerar ainda mais”, disse Topper ao Hotelier News.

A transação causou certo buzz. Para executivos ouvidos pela reportagem, o negócio mostra que o mercado está atrativo para M&A (Merge & Acquisitions). Mais ainda, mostra que players de outros setores podem estar atentos a oportunidades na indústria de viagens, com novos entrantes podendo aparecer. Não custa lembrar, por exemplo, a recente venda da GJP Hotels & Resorts, embora a transação tenha outro pano de fundo.

“A Westwing tem 9 milhões de usuários na base e, plugando isso na Zarpo, vai criar um player de distribuição relevante no mercado brasileiro”, avalia um executivo do setor. “O turismo vai ser tomado por outsiders, que não estão presos nos modelos atuais. A CVC, por nunca ter resolvido suas questões com os agentes de viagens, de certa forma perdeu o bonde digital. Então, os operadores de turismo precisam se reinventar, ou eles serão ultrapassados por novos players como o Westwing, que têm uma expertise de e-commerce muito grande”, completa.

Augusto Rocha, vice-presidente de Marketing e Vendas da Pmweb, concorda com a análise. Para ele, só há um refúgio no ambiente de negócios atual, marcado pela digitalização. “Apenas aqueles que se manterem conectados, em relacionamento e com relevância perante ao cliente terão futuro”, avalia. “E o futuro é mesmo cruel demais com quem vive no passado e não quer se adaptar para atender ao cliente”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Divulgação/B3

(**) Crédito da foto: Divulgação/Zarpo