A consistência da retomada é uma equação de muitos fatores que podem pender a balança para cima ou para baixo. No caso das viagens corporativas, o preço das passagens aéreas é um fator determinante para que as empresas voltem a colocar seus executivos na estrada. De acordo com uma matéria veiculada pelo jornal O Globo, o valor dos bilhetes não pararam de subir, afetando diretamente o segmento.

Ponto sensível para as corporações, os preços do setor aéreo estão limitando as viagens a trabalho. O cenário se agrava ainda mais com a adesão ao modelo híbrido de reuniões, alternativa adotada por grande parte das empresas. Dito isto, algumas companhias preferem implementar viagens de carro ou de ônibus — e outras até mesmo optam por jatinhos particulares.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos dois meses até abril, as passagens aéreas subiram 14,25% — ultrapassando o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para o mesmo período, de 12,13%.

Apesar do peso do aéreo, a Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas) aponta que o segmento manteve sua curva ascendente de recuperação em abril. De acordo com dados da entidade, os resultados para o setor já se aproximam dos níveis pré-pandêmicos. No mês passado, as viagens de negócios faturaram R$ 875 milhões — apenas 17% no comparativo anual (R$ 1,057 bilhão). Entretanto, em relação a abril de 2021, o crescimento foi expressivo (R$ 201 milhões).

Por mais que os panoramas pareçam contraditórios, Gervásio Tanabe, presidente da Abracorp, explica que houve uma redução no volume de executivos viajando, mas em contrapartida, o consumo desses viajantes aumentou no período. “Observamos uma redução no número de bilhetes emitidos, mas também houve um crescimento em faturamento”.

Por trás dos números

O resultado de abril levantado pela Abracorp foi impactado pelos feriados de abril – o que causou redução no faturamento das viagens corporativas. Caso contrário, os números estariam ainda mais próximos do registrado em 2019.

Em março, o faturamento já havia chegado a R$ 869 milhões, apenas 2% abaixo da marca de março de 2019, quando registrou R$ 890 milhões. No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, o resultado foi de R$ 2,731 bilhões, ainda R$ 3,6 bilhões do registrado no último ano antes da pandemia.

A entidade afirma que o desempenho foi sustentado pelo aéreo, hotéis e locações de veículos — que igualaram ao faturamento de abril de 2019. Ainda conforme o levantamento da Abracorp, dentre os 11 setores do mercado analisados, no mês de abril, todos crescem em relação aos anos de 2020 e 2021. Serviços aéreos faturaram R$ 593 milhões, frente a R$ 576 milhões em março. Outro segmento foi o de hotéis, que faturou R$ 215 milhões, um pouco abaixo de março que registrou R$ 225 milhões, e de abril de 2019, com R$ 233 milhões.

“Houve um aumento de consumo no que chamamos de rotas corporativas, que englobam praças como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, entre outras. É fato que o preço das passagens subiu, principalmente em voos diretos para esses destinos. Em contrapartida, os turistas de negócios estão permanecendo mais tempo nos hotéis — que aumentaram suas diárias”, acrescenta Tanabe.

Para o segundo semestre, o executivo prevê um cenário mais positivo para o segmento, mesmo com o período eleitoral. “A segunda metade do ano é, historicamente, melhor do que a primeira. A oferta vai se estabilizar e, à medida que a demanda acontece, os preços das passagens aéreas tendem a cair. Já observamos multinacionais restabelecendo suas políticas e a Copa do Mundo em novembro também é um fator que impulsiona viagens de incentivo”, complementa.

O setor de agências de viagens chegou a perder em torno de 50% dos empregos entre 2019 e 2021, em razão da retração das viagens corporativas. Em 2022, porém, na avaliação da Abracorp, já se espera uma recuperação dos empregos, que vêm sendo retomados desde o início deste ano.

Um dos principais desafios pela frente, segundo Tanabe, é exatamente conseguir trazer esses trabalhadores de volta ao setor de viagens corporativas e alcançar o equilíbrio sustentável diante da alta dos custos na atividade. Isso tem forte impacto no custo dos serviços prestados pelas TMCs.

(*) Crédito da capa: Unsplash