Nos últimos meses, a hotelaria brasileira viveu uma verdadeira gangorra em seus indicadores. Diante de um cenário de muitas incertezas, praças e números mostraram que não existe uma ciência exata perante a crise. Em parceria com o FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), a HotelInvest divulgou a 16ª edição do relatório Panorama da Hotelaria Brasileira, com insights do acumulado de 2021 e comparações com os 2020 e níveis pré-pandêmicos.

O estudo analisou o desempenho de 176 hotéis (31.777 UHs) em 10 cidades brasileiras. Além desses números, a pesquisa ainda traz as perspectivas de oferta de desenvolvimento hoteleiro em todas as regiões do país. O avanço da vacinação e o relaxamento das medidas restritivas tiveram peso considerável frente aos resultados que observaremos a seguir.

Desde junho de 2021, o fluxo de viajantes retomou seu movimento, mesmo que de forma retraída, ganhando maior tração no último trimestre, impulsionado pelo verão, festividades de fim de ano e férias escolares. No acumulado dos 12 meses, a hotelaria brasileira teve crescimento de 50,4% em ocupação frente a 2020. A diária média, entretanto, apresentou queda de 6,2%, na mesma base de comparação. Mesmo com um cenário adverso, o RevPar avançou 41%, puxado pelo aumento das demandas no segundo semestre e demanda por quartos, com um salto de R$ 68 para R$ 96.

Entre os mercados analisados , apenas Vitória (R$ 141) e Goiânia (R$ 134) chegaram perto do RevPar de 2019, ficando 92% mais próximas do indicador pré-pandêmico. São Paulo e Porto Alegre, por sua vez, são os mais distantes, tendo recuperado apenas 37% e 50%, respectivamente.

Em entrevista exclusiva ao Hotelier News, Cristiano Vasques explica que os resultados positivos das capitais é uma moeda de duas faces. Com realidades distintas, Vitória e Goiânia precisam ser avaliadas por mais de uma perspectiva. “Na verdade, os números expõem um cenário desfavorável para ambas as praças em 2019. Quando olhamos para o relatório, observamos que as cidades tiveram o RevPar mais baixo antes da pandemia. E a retomada das duas também se deu pelo fato de que são mercados que não dependiam tanto de eventos”, explica o sócio-diretor da HotelInvest.

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Na comparação entre os anos de pandemia (2020 e 2021), as cidades que apresentaram maior avanço no RevPar são Goiânia (97%) e Brasília (68%). Essas mesmas capitais também registraram maior aumento de ocupação, de 83% em ambas. No quesito diária média, a capital goiana teve um aquecimento mais significativo de tarifa (8%), enquanto Vitória ficou na segunda posição (6%).

“Os dois primeiros anos de pandemia foram situações diferentes. Em 2020, a ocupação despencou em relação a 2019, mas as diárias se mantiveram. Com a segunda onda no início de 2021, o setor percebeu que a retomada seria mais lenta do que o esperado, o que resultou num processo generalizado de queda de tarifas”, continua Vasques. “Com o retorno das demandas, muitos empreendimentos começaram a jogar suas diárias para baixo, principalmente aqueles com acordos corporativos”, completa.

Recuperação contínua, mas ainda distante

Entre todas as praças pesquisadas, São Paulo foi e segue sendo a mais impactada. A dependência do corporativo e eventos fez com que os hotéis esvaziassem, mas os últimos meses de 2021 fez com que o RevPar ficasse 28% acima de 2020. No acumulado do ano passado, o setor hoteleiro paulistano chegou a R$ 277 de diária média, R$ 94 em RevPar e 34% de ocupação.

“São Paulo foi uma das capitais que mais perdeu RevPar. O ano de 2020 já tinha sido ruim e, em 2021, foi ainda pior. Agora, já observamos uma retomada mais consistente, com muitos eventos esportivos, culturais e sociais acontecendo na cidade”, pontua o executivo da HotelInvest.

No Rio de Janeiro, os hotéis continuaram a receber profissionais da indústria petroleira, além de vislumbrar o retorno dos turistas a lazer. No acumulado do ano, a Cidade Maravilhosa encerrou 2021 com 48% de ocupação, R$ 240 de diária média e R$ 115 de RevPar.

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Nova oferta hoteleira

O relatório da HotelInvest também trouxe um panorama do desenvolvimento hoteleiro, com investimentos previstos para o horizonte entre 2022-2026. O estudo leva em conta o estoque de projetos assinados, em construção ou em fase de abertura. No total, a hotelaria brasileira possui 124 projetos com inauguração prevista até 2026, resultando em um total de R$ 5,3 bilhões em investimentos.

A oferta é oriunda de projetos de 14 redes e deve somar novas 18.806 UHs ao setor, em sua maioria dos segmentos econômico e supereconômico (58%). As regiões Sudeste e Sul são as maiores detentoras das propriedades no pipeline (55%), com destaque para cidades com mais de 1 milhão de habitantes (35%).

Ainda que as cidades de grande porte tenham ganhado representatividade, o interior continua sendo o principal eixo de desenvolvimento: 64% das novas UHs se encontram no interior, 31% nas capitais e 5% nas regiões metropolitanas. As franquias continuam crescendo e representam 43% dos novos contratos, mas o modelo “administração” ainda é predominante com uma representatividade de 60%.

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As marcas lifestyle também ganharam maior espaço no mercado, respondendo por 78% dos projetos, contra 22% de bandeiras consideradas tradicionais. “São produtos com características diferentes, o que aos olhos do desenvolvedor é uma proposta que se destaca do que já temos no mercado, que vive uma saturação de hotéis mais tradicionais. Esse crescimento também reflete a introdução de novas marcas pelas redes”, complementa Vasques.

Os números do primeiro trimestre de 2022 ainda não foram apurados, mas ao que tudo indica, as demandas de lazer seguem aquecidas, enquanto o corporativo e os eventos iniciam sua retomada, o que significa maiores condições de negociações para os segmentos mais afetados pela crise. Até o fim do ano, espera-se um crescimento de diária média acima da inflação e um RevPar mais próximo dos índices pré-pandêmicos.

Para acessar o estudo na íntegra, acesse o link.

(*) Crédito da capa: NikLanus/Unsplash

(**) Crédito das imagens: Divulgação/HotelInvest