Em geral, quando retornamos a algum lugar depois de um tempo considerável, mudanças não passam desapercebidas. Até detalhes, por vezes, podem ser notados com uma análise mínima. É com esse olhar clínico que a reportagem do Hotelier News se voltou ao mercado hoteleiro de Macaé (RJ) após um ano de pandemia.

Em abril de 2020, a situação da hotelaria da cidade destoava do cenário nacional. Enquanto empreendimentos ainda assimilavam o que era a Covid-19, adaptações necessárias e os impactos práticos, Macaé caminhava na mesma linha, mas em velocidade diferente. À época, por exemplo, a demanda oriunda do setor de Petróleo & Gás ainda era suficiente para garantir ocupações minimamente razoáveis nos hotéis da cidade.

Como toda a cadeia do setor de viagens, o município fluminense teve períodos de baixas, principalmente, no primeiro semestre. A proibição da entrada de grupos de lazer a partir de março – que se mantém – e desligamentos de funcionários foram algumas das ações encontradas pela prefeitura e trade local, respectivamente, para manter a economia girando de forma segura para os turistas.

Royal Atlântica Macaé Hotel

Royal Atlântica Macaé Hotel foi uma das unidades com melhores resultados

No entanto, mesmo com medidas assim, a adaptação dos meios de hospedagem aos moldes daquele momento foi rápida. Além do estabelecimento de protocolos sanitários rígidos, os hotéis receberam uma demanda grande do segmento offshore. Também por questão de protocolo, empresas do ramo exigem uma quarentena de funcionários vindos de fora, processo realizado nos hotéis. Portanto, o aquecimento do mercado macaense de hotelaria se baseou principalmente nisso.

Ocupação

Para entender a atual situação, a reportagem apurou a ocupação geral da hotelaria na cidade. Quando colocamos o índice de 2020 e 2021 frente a frente, percebe-se estabilidade do mercado. Segundo números do CVB Macaé, a ocupação em 2020 foi de 50%, enquanto, este ano, mantém-se próximo a 55% até agora.

Em específico nos empreendimentos Accor, ibis e Mercure Macaé, também tiveram resultados positivos no segundo trimestre de 2020. Depois, no segundo semestre do mesmo ano, o índice ficou em 50%, próxima da média municipal. No âmbito geral, a média do indicador no primeiro trimestre de 2021 ficou entre 50% e 60%

Macaé

Tuñas: lazer deve ser um dos destaques de Macaé para 2022

Cenário otimista

De acordo com Isabel Tuñas, presidente do CVB Macaé e diretora da Royal Hotels, 30% da demanda se tornou de lazer em 2020 – entre fins de semana, feriados e hospedagens de verão. “A pandemia nos ensinou muito. O mercado se diversificou no município e, hoje em dia, os hotéis se prepararam para o público de lazer. A restrição ao segmento corporativo e offshore era quase total, mas isso mudou em razão da crise”, explica.

Outros pontos que mostram o cenário mais positivo para Macaé, segundo Isabel, são a demanda reprimida no próprio lazer e, a partir disso, sua consolidação, com o consequente crescimento na procura pelo destino. “Com a vacinação em massa e manutenção dos protocolos sanitários, a expectativa é melhorar os resultados. Com a nossa adaptação, a demanda dos últimos meses de 2021 e começo de 2022 deve se dividir entre offshore, lazer e viagens de negócios”, complementa.

A executiva ressalta que nenhum hotel fechou em definitivo a partir do segundo semestre em Macaé. Antes, o Hotel Prata e o Hotel Personal tiveram as operações encerradas por conta da pandemia.

ibis e Mercure Macaé

Sob a administração de Filippe Moreira, as unidades ibis e Mercure da cidade também constataram o mesmo movimento atualmente. Contudo, o executivo pondera ao tocar no assunto do segmento de lazer. “Estava começando a se destacar e murchou com a pandemia. Somos um mercado emergente neste aspecto e pode demorar mais um pouco a engrenar novamente, mas o cenário é positivo”, analisa. O trunfo atual, segundo Moreira, é apostar no turismo de proximidade.

A estratégia, colocada como prioridade pela Setur-RJ na captação de mais turistas, leva em consideração mais um atributo além da proximidade: baixo preço. Para ele, ser o destino mais barato da região, inclusive na hotelaria, faz com que Macaé seja exaltada no momento em que a demanda reprimida for recuperada no lazer, especificamente.

No segmento corporativo, forte da cidade e dos hotéis comandados por Moreira, as mudanças foram de encontro com atualizações. “Por necessidade dos hóspedes, o conceito de room office se transformou em padrão. Agora, o cliente que apenas dormia no hotel e partia para compromissos, fica 24h por dia no quarto, onde come, dorme e trabalha. O pensamento se focou ainda mais em conforto e praticidade, com atendimento personalizado e boa conexão wi-fi, por exemplo”, diz.

Por fim, o executivo dá um passo atrás e se mostra mais realista quanto às perspectivas para o restante de 2021 e começo de 2022. Longe de ser pessimista, Moreira comemora o fato do fechamento de hotéis não ser pauta na cidade e traça um paralelo que já conhecemos: sem um ritmo mais acelerado na imunização, não existe previsão plausível de resultados.

“Não tenho perspectivas concretas em relação a números. Em minha opinião pessoal, acho que não saímos da pandemia ainda neste ano. O protocolo de empresas sobre viagens de negócios deve continuar o mesmo por um certo tempo e, assim, Macaé continuará com o offshore como válvula de escape”, finaliza.

Conhecimento de causa

Macaé

A chave, segundo Borges, é conquistar a confiança do viajante

Há anos no setor, o consultor e gestor hoteleiro Gesionildo Borges usa a experiência de mais de 30 anos para entender o momento. Também no comando do M’s Restaurante, em Rio das Ostras (RJ), o empresário viu e sentiu de perto os impactos da pandemia.

“É um momento de reorganização da hotelaria de Macaé. Custos foram reduzidos, quadro de colaboradores enxugado e essa é a tendência”, começa.

“Até o momento, empreendimentos médios foram os que tiveram mais dificuldade. Meios de hospedagem de pequeno e grande porte, no entanto, mantiveram números estáveis ou com pouca oscilação. No geral, a hotelaria macaense foi bem, com poucos fechamentos temporários e menos ainda definitivos”, complementa o ex-gerente geral do Royal Ocean Palace.

Borges cita que o protocolo de quarentena de empresas petrolíferas, como a Petrobras, também favoreceu alguns hotéis, que são escolhidos por um comitê. “Uns tiveram mais dificuldade que outros, e isso é recorrente. Mesmo assim, os mais de 80 hotéis e pousadas em Macaé conquistaram a confiança dos hóspedes. Em meio à pandemia, principalmente, é a chave para manter os negócios funcionando”, explica.

Em específico para bares e restaurantes, o executivo cita uma oportunidade que se originou na criação de pacotes de marmitas para empresas offshore. “Vendo para empresas e individualmente”, cita.

Como perspectiva, Borges lembra que o lazer deve nortear parte da recuperação do município, caso se atualize também. Isso, na visão dele, passa por empreendimentos e atrativos de Macaé. “O mercado de hotéis ao ar livre será uma tendência. É algo a ser pensado”, pontua o empresário.

(*) Crédito da capa: Divulgação/CVB Macaé

(**) Crédito da foto: Divulgação/Royal Hotels

(***) Crédito da foto: Divulgação/Royal Hotels

(****) Crédito da foto: Arquivo pessoal