Dois anos de pandemia depois, começamos a vislumbrar certa normalidade, para a alegria do turismo. Além das demandas de lazer — que operaram como as grandes catalisadoras de viagens nos períodos mais críticos da crise, a América Latina vive o renascimento do setor, impulsionado por grupos, além de remarcações de casamentos e formaturas adiados.

De acordo com um levantamento desenvolvido pela Promovêre, empresa de pesquisa de mercado e marketing, destinos como Argentina, Peru, Colômbia, Peru, Bolívia e Paraguai estão recebendo altas demandas dos nichos citados acima. O cenário é também fruto do retorno dos agentes aos escritórios, auxiliando no planejamento das viagens.

Enquanto as demandas individuais parecem estar em alta em outros mercados, na América Latina os grupos estão apontando sinais de recuperação cada vez mais consistentes. Segundo a Promovêre, viagens internacionais entre 10 e 20 pessoas começaram a aumentar nestes países ainda no fim de 2021 e se consolidaram no primeiro trimestre de 2022.

No Brasil, o setor hoteleiro vive uma explosão de demandas de casamentos, o que se tornou um problema bom para os empreendimentos. Em alguns momentos, hotéis relataram um overbooking de cerimônias em razão dos reagendamentos.

O panorama se repete em outros mercados latino-americanos, que ao lado de formaturas e grupos elevaram a tendência. Dependendo das datas, o gasto médio com passagem aérea, transporte e estada é de cerca de US$ 4 mil por pessoa.

Enquanto esse segmento representava entre 10% e 15%das viagens de férias em tempos pré-pandemia, atualmente esse número é de cerca de 40%, de acordo com a pesquisa da Promovêre, que cruza dados da maioria das associações de viagens da América Latina, bem como operadoras e agências de turismo.

“Estamos vendo essa tendência principalmente em clientes de luxo, que imediatamente começaram a viajar internacionalmente quando as restrições e requisitos da pandemia começaram a diminuir. Eles não baseiam suas decisões no preço, mas ainda querem que seu dinheiro valha ao viver essas experiências”, diz Andrea Tosi, fundadora e gerente de comunicação da Promovêre em entrevista ao Skift.

Nichos em alta

Grupos de estudantes e viagens de incentivo para executivos são alguns dos principais nichos que impulsionam essa tendência. O destination wedding, por exemplo, está se tornando cada vez maior não só em países onde é tradição, como Bolívia e Paraguai, mas em outros onde é raro, como Argentina e Uruguai.

“Algumas pessoas que se casaram nos últimos dois anos, em vez de planejar uma festa para 300 pessoas, estão levando de 40 a 60 pessoas mais próximas em uma viagem”, explica Andrea. “Os grupos de mulheres são mais comuns na Europa, mas relativamente novos na indústria do turismo da América Latina. Agora, mais empresas estão criando unidades femininas e atendendo-as. Eles estão vendendo uma experiência de união, que cria fidelização de viajantes: esses grupos ficam mais unidos após a primeira viagem e continuam planejando aventuras com os mesmos agentes”, continua.

Destinos caribenhos e México são os que lideram entre os grupos de viajantes latino-americanos, e Cuba também verá uma grande reativação agora que está abrindo suas fronteiras e os voos regulares estão retornando.

Se não agora, quando?

Há, definitivamente, um efeito pandêmico por trás dessa tendência, de acordo com a executiva. Alguns países da América Latina tiveram quarentenas muito restritivas. Depois de meses sem poder ver seus entes queridos pessoalmente, as pessoas sonham em reunir toda a família ou grupo de amigos assim que possível.

“O que estamos vendo também é um senso de urgência. Não só os grupos estão ficando maiores do que antes, mas também essas viagens que levavam meses de planejamento agora são solicitadas de um mês para o outro”, complementa Andrea.

Ela acredita que o cenário renovou a importância do papel do agente de viagens, pois para realizar o planejamento a tempo, os turistas não estão organizando a viagem sozinhos.“As pessoas querem customização e atenção personalizada, então as empresas que oferecem isso serão as que terão vantagem agora”, acrescenta.

(*) Crédito da foto: StockSnap/Pixabay