Três perguntas para - Yuri FreitasFreitas: hotéis econômicos tendem a se recuperar mais rápido

O mundo vai ter mudanças daqui para frente e, embora não se tenha certeza absoluta das alterações mais sensíveis, é certo que isso ocorrerá. Na hotelaria, segmento feito por pessoas para pessoas, há movimentos que tendem a ganhar força de carona na aplicação da tecnologia e de novas formas de trabalho. É o que pensa Yuri Freitas, convidado de hoje (19) do Hotelier News no Três perguntas para.

Com passagens por Accor e Bourbon Hotels & Resorts, Freitas atualmente responde pelas áreas Operacional, Implantação e Desenvolvimento na Hotel Care, que gere unidades franqueadas da rede francesa. Para o executivo, capacitações são exemplos do que pode mudar no pós-pandemia. “Cursos profissionalizantes a distância poderão não somente suprir o desenvolvimento do seu negócio, exemplo das multinacionais, como também apoiar no suporte ao desenvolvimento dos hotéis independentes”, avalia.

Ao longo da conversa, Freitas, que foi um dos palestrantes do FOHI (Fórum Online de Hotéis Independentes), fez também projeções sobre a retomada do mercado e comentou como a hotelaria pode implementar novos modelos de trabalho. “As organizações terão que compor este novo "normal" com profissionais profundos (independente do nível hirerárquico) e com sede de resultado”, acredita.

Três perguntas para: Yuri Freitas

Hotelier News: Capacitações profissionais seguirão modelos hibridos de aprendizagem, ou seja, treinamentos que antes teriam 8h presenciais passarão a ser divididos entre presencial e online?
 
Yuri Freitas:
Não tenho dúvida que esse é um dos modelos que pode e deve ser aplicado , ainda que entenda que o modelo presencial tenha maior valor quando tratamos de interações. A tecnologia certamente nos traz conforto e conteúdo de qualidade para o nosso desenvolvimento. Não somente  instituições renomadas de ensino fazem o seu uso, como também já é uma realidade em nosso segmento. Utilizam-se de ótimas plataformas eletrônicas de ensino, capazes de auxiliar nas dúvidas durante o plano pedagógico, com opções de vídeoaula, excelentes materiais de apoio e, por fim, os respectivos certificados de conclusão do curso realizado. Ainda que tenhamos excelentes profissionais no setor que contribuam no desenvolvimento de conteúdos, temos uma janela de oportunidade para somar. Existe uma carência por renovação de conteúdo. Cursos profissionalizantes a distância poderão não somente suprir o desenvolvimento do seu negócio, exemplo das multinacionais, como também apoiar no suporte ao desenvolvimento dos hotéis independentes.

Mesmo que os recursos tenham evoluído, defendo que o desenvolvimento presencial tem maior apelo. Somos provenientes de uma indústria que produz experiência humana! Encantamento! Por isso, gerar emoções em grupo e por meio de um hábil facilitador não tem preço. Se perguntar a uma equipe a sua preferência, certamente em sua maioria irão tendenciar a responder pela opção presencial. E isso não se deve pelo fato de estarem "ausentes" de seu departamento, enquanto o colega o representa em sua rotina operacional. O valor maior está no todo. Por meio da boa capacitação e da interação de grupo feita por um hábil consultor, de onde terão boas e ricas histórias para compartilhar.

HN: Profissionais que atuam nos setores administrativos ou de reservas poderão optar por permanecerem trabalhando remotamente? Essa seria uma forma de reduzir custos com pessoal?

YF: Neste momento, falando especificamento na operação dos hotéis e diante da baixa previsão de ocupação e da consequente reorganização das equipes, acredito que o trabalho home office ficará num segundo plano. No entanto, será um modelo factível após a recuperação das taxas de ocupação, tendo como o exemplo a performance dos hotéis no primeiro trimestre deste ano. O cuidado maior para esta decisão também está relacionado ao segmento do hotel. Numa propriedade econômica, por exemplo, que tem em seu DNA o colaborador multitask e de suporte constante às áreas operacionais e administrativas, ao optar por tê-lo no modelo remoto, certamente haverá perda na produtividade uma vez que terá menor apoio operacional. Já para estruturas mais robustas, com grandes quantidades de unidades habitacionais, com departamentos segregados, como unidades upscale e luxo,  entendo que existe espaço para este formato. Acredito que o modelo misto de  trabalho remoto e presencial seja uma forma de compor, mantendo produtividade e o acompanhamento da performance de seu colaborador.

Para este novo modelo é preciso também mudar o mindset. Nossa produtividade muitas vezes é confundida pelo tempo de trabalho e não somente pela qualidade da entrega. Dispenso comparações, pois tenho a certeza da nossa capacidade que é enorme frente a de outros países. A diferença está nos hábitos e nos modelos de trabalho a que estamos condicionados. Até poucos anos atrás não se pensava em trabalho home office, a não ser nas empresas de tecnologia. Entendo que, apesar do nosso core business ser o segmento de serviço, um exemplo para ser aplicado está nas áreas de suporte nos hotéis, como setores de reservas e administrativos. Não obstante, também temos como exemplo as diversas áreas de suporte administrativo dos hotéis, denominados sede ou corporativo. Bom momento para reverem seus modelos, redesenhando os seus processos, eliminando custos desnecessários e, mais do que isso, encontrando melhores caminhos de rentabilidade na administração de suas propriedades.

HN: No pós-pandemia, hotéis economicos terão maior chance de se recuperarem financeiramente, quando comparados a hotéis midscale, upscale e luxo?
 
YF:
Os hotéis econômicos já demostraram nos países afetados que obtiveram maior recuperação, assim como os hotéis de lazer, que foram beneficiados pela crescente do turismo doméstico. Entretanto, a pandemia trouxe a necessidade de revisitarmos a operação como um todo e não somente em um único segmento. Acredito que carregamos, há muito tempo, um modelo de trabalho condicionado, amarrado e por vezes atrelado à uma análise de resultados não muito realistas. Nosso mercado já vem precisando de atualização, de métricas de resultado melhor mensuradas, de maior flexibilização dos negócios e na prestação de contas com os investidores. O segmento de serviço fora da hotelaria  tem muito a ensinar, e precisamos nos abastecer com novos modelos. O pós-pandemia certamente e forçosamente está nos trazendo outras formas de atuação. Isso não se deve apenas pela queda da ocupação e, inicialmente, na busca pelo breakeven. O tema agora é: como vou ser produtivo, rentável e com o menor número de pessoas? A arbitrariedade deverá ser substituída pela assistência, coparticipação e solidariedade comportamental. As organizações terão que compor este novo "normal" com profissionais profundos (independente do nível hirerárquico) e com sede de resultado. Obterão mais sucesso aqueles mais bem preparados, os menos estagnados.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Hotel Care