É na estrada com sua Harley Davidson que Wellington Estruquel esquece os problemas do dia a dia e se desliga das operações do Mabu Hotéis & Resorts. O paulistano de 46 anos, casado e pai de três filhos é também um apaixonado por relógios, ao ponto de ser um colecionador voraz.

O CEO da rede paranaense é formado em Administração de Empresas com pós-graduação em Marketing e MBA em Gestão Empresarial. Segundo o executivo, em sua carreira, teve excelentes oportunidades, como a inauguração do L’Hotel, em 1993. “Assim como trabalhar na Accor com a bandeira Sofitel, ícone da hotelaria cinco estrelas”, destaca.

Ao sair da rede francesa, Estruquel migrou para a Atlantica Hotels, onde participou da abertura de mais de 40 empreendimentos hoteleiros em oito anos de colaboração. Seguindo adiante para o grupo Pestana, foi responsável pela America do Sul, até finalmente chegar ao Mabu Hotéis e Resorts, onde iniciou sua trajetória em 2011. E lá se vão 10 anos como CEO.

“Essa jornada tem sido fantástica, com uma equipe de executivos sêniores que ao meu lado levaram a empresa a mais que triplicar de tamanho e melhorando a performance dos negócios mês a mês”, comemora.

Três perguntas para: Wellington Estruquel

Hotelier News: Sabemos que as expectativas para o segundo semestre são altas para o turismo. Dentre os destinos presentes no portfólio da Mabu Hotéis & Resorts, qual deve se destacar na retomada?

Wellington Estruquel: Atualmente, a rede Mabu possui empreendimentos em Foz do Iguaçu e Curitiba e nesse sentido, enxergamos e sentimos na prática uma melhor performance em Foz. Obviamente pelo perfil e vocação maior para o lazer, e por se tratar de um grande complexo com resort, parque aquático e uma ampla oferta de A&B. É claro o grande apelo que o destino possui em ser uma cidade turística ímpar, com inúmeras atrações. Até mesmo os eventos já começaram acontecer, lembrando também que este é um dos pontos fortes da cidade. Possuímos 10 mil metros quadrados de salas de eventos desde pequeno porte até salões para mais de 2 mil pessoas e sentimos que esse segmento será importante na retomada.

Outro aspecto que contribui para uma boa ocupação no complexo de Foz é um turismo regional muito forte, A malha aérea ainda está reduzida, mas esperamos que em breve retorne de forma pujante, uma vez que o aeroporto foi totalmente reformado e ampliado, inclusive uma expansão da pista, podendo receber aeronaves maiores com destinos internacionais.

Em Curitiba, o mês de julho nos surpreendeu positivamente com uma excelente ocupação e eventos de pequeno porte. No entanto, todos sabemos que o turismo corporativo demorará um pouco mais para de fato pegar tração e voltar aos números de pré pandemia. Soma-se a isso ainda, o fato da cidade ter uma diária média conhecidamente baixa,dificultando dessa forma a recuperação da lucratividade de forma mais rápida. Com a ocupação da capital melhorando, entram em ação os RMs (Revenue Managers) que fazem a total diferença na otimização das diárias médias e esperamos voltar a superar os números de 2019.

HN: O My Mabu tem apresentado uma boa resposta perante a crise. Desta forma, qual será o papel da multipropriedade nos próximos meses? Qual a fatia do produto no faturamento total da empresa?

WE: De fato a multipropriedade em geral, ainda mais no My Mabu devido ao empreendimento estar entregue, tem apresentado números que destoam e muito da realidade hoteleira. Seja pelo sentimento de necessidade de vivenciar experiências e viagens que surgiram durante a pandemia, seja pela consolidação desse modelo de negócio que é extremamente inteligente, econômico e até mesmo sustentável pensando no cenário atual de conceito ESG. Otimizando recursos de todos os lados, desde aquisição, manutenção e otimização de ociosidade de uma segunda residência de férias, podendo ainda intercambiar pelo mundo afora.

Acreditamos muito nesse modelo de negócio dentro de nossa estratégia empresarial , tanto que, nosso foco será ainda mais o crescimento do grupo via multipropriedade e em breve iremos compartilhar com todos nosso plano diretor de crescimento. Atualmente, o faturamento anual do segmento já representa 60% do montante total da rede e sem a menor dúvida essa fatia aumentará.

Do outro lado da moeda, é importante mencionar aqui o “efeito manada”, como muito ocorre no Brasil, e que vemos de forma exponencial em empreendimentos de multipropriedade por todo o país atraídos por um VGV altíssimo, ou por um metro quadrado igualmente alto. Isso sem muitas vezes entender com profundidade a complexidade deste negócio em termos de comercialização, custos, entre vários outros aspectos, podendo até mesmo desonrar um modelo que é um case de sucesso em vários países.

Temos sim, muito potencial no Brasil para esse modelo, mas vejo diversos hotéis querendo converter em multipropriedade, empreendimentos em destinos que não são turísticos, e portanto há de se ter cautela para não comprometermos um formato que realmente é extremamente interessante para ambos os lados. Ou seja, para quem vende e para quem de fato compra.

HN: O que esperar de 2022? Já é possível fazer projeções para o ano que vem?

WE: Temos ótimas expectativas para 2022, especialmente com a questão da vacinação avançando na sua totalidade dentro de pouco tempo e com isso refletindo em eventos, turismo de lazer e turismo de negócios de forma latente. Vemos as empresas ansiosas por realizar eventos presenciais, já que precisamos dessas interações sociais por diversas razões e motivos, ou seja, temos uma demanda reprimida que acredito que virá forte no ano que vem.

Em janeiro de 2022 iniciaremos também as obras da terceira etapa do Blue Park , sendo entregue no início de dezembro do mesmo ano. Nesta fase, teremos a Fantasy Island, área destinada às crianças e famílias com um grande rio lento para toda família se divertir, um grande brinquedo infantil para crianças acima de 5 anos e uma área baby de 6 meses a 5 anos. Tudo isso além de toda infraestrutura de praça de alimentação, totalizando um investimento de R$ 28 milhões e capacidade para 1.500 pessoas.

No entanto, mesmo diante dessas expectativas, seremos otimistas, mas com o famoso pé no chão em nossos orçamentos para 2022, pois de fato é uma grande incógnita para todos, sem exceção. Vemos alguns destinos já com a famosa recuperação em V (resorts próximos a SP por exemplo), outros destinos ainda realmente no início deste ciclo de recuperação e por fim cidades que ainda amargam baixas taxas de ocupação.

Teremos que entender como será o comportamento daqui para frente em vários assuntos que vieram com a pandemia, a exemplo das reuniões/negociações virtuais que irão continuar na mesma intensidade, diminuindo assim as viagens de negócios e impactando em nossas ocupações. Um estudo no mercado americano recém publicado aponta uma redução nas viagens corporativas até 2023 na ordem de 20%. Enfim, são algumas perguntas sem respostas e que de fato só responderemos a elas em um futuro breve.

De qualquer forma, acreditamos muito nessa retomada do turismo de maneira consistente e gradual, esperando por grande geração de empregos em todo Brasil, a qual a nossa indústria é altamente reconhecida.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Mabu Hotéis & Resorts