À frente do cargo mais alto das operações da Accor na América do Sul desde 2020, Thomas Dubaere substituiu Patrick Mendes em um momento de intensos desafios. Em entrevista recente ao Hotelier News, o executivo belga disse que a busca por novas fontes de receitas foi um dos maiores aprendizados da pandemia. Agora, na sessão Três perguntas para, vamos explorar outros tópicos com ele. Na pauta da conversa, perspectivas para 2021, breakeven e momento operacional dos hotéis da rede no Brasil e short-term rentals. Então, não deixe de ler até o final!

Antes, um pouquinho mais sobre Dubaere e sua carreira. O executivo entrou para o time da Accor na sua terra natal, especificamente no Novotel Bruges Center, onde ocupou diversos cargos até chegar a gerente geral. Depois, saiu do dia a dia operacional para galgar promoções dentro da estrutura corporativa da rede francesa, tornando-se posteriormente diretor de Marcas Econômicas na Bélgica.

A partir de 2005, trabalhou como diretor de Operações de Marcas Econômicas na Bélgica e Luxemburgo. Na sequência, foi transferido para o Reino Unido como diretor Administrativo do mesmo departamento e, dois anos depois, foi nomeado Diretor Executivo do Reino Unido e Irlanda. Ajudou a expandir a oferta de luxo nos países com as marcas MGallery e Pullman, até ser promovido a diretor de Operações da Europa do Norte em 2018 e, posteriormente, CEO para América do Sul. Em seu primeiro contato com o trade brasileiro, aliás, ele fez questão de dizer que atuar no mercado sul-americano era um desejo antigo.

Três perguntas para: Thomas Dubaere

Hotelier News: Em 2020, Patrick Mendes disse que trabalhava para um hotel ser rentável com 25% de ocupação. Essa situação mudou?

Thomas Dubaere: Quando você está passando por uma crise como esta, é preciso ter certeza de que os hotéis estão atingindo seu breakeven. Não podemos esquecer que, quando a pandemia chegou, fechamos muitas unidades. Quase todos eles. E, mesmo assim, pudemos ajudar os hospitais e profissionais na linha de frente do combate ao Covid-19. Tudo depende do segmento. Não podemos comparar um ibis com um Pullman, mas diria que, quando um hotel chega a 22% de ocupação, entramos no positivo. Você consegue pagar as contas. Agora, quando uma empresa passa por uma crise global, é preciso reagir e pensar diferente. Aprendemos com as ações que colocamos em prática e, agora, podemos trabalhar diferente para, no futuro, manter as boas práticas. E nós temos feito isso.

No fim do dia, os investidores esperam retorno. No meio da pandemia, investimos globalmente na WOJO, com foco em coworking. Muitos nômades digitais começarão a misturar lazer e trabalho. Este é um segmento que irá se desenvolver. Eu não gosto da palavra home working, porque parece que você pode apenas trabalhar de casa. Prefiro anywhere work, pois você pode estar em um hotel que tenha espaço, wifi, ou o que for necessário. Este é um nicho que estamos trabalhando.

HN: As projeções para 2021 são otimistas? A rede conseguirá retornar aos patamares de 2019 ainda este ano?

TD: Sempre que há uma mensagem positiva do governo dizendo que vai reduzir as restrições porque a vacinação está avançando temos um bom sinal. E, de fato, os casos estão diminuindo e, com isso, os negócios voltam a subir. Se você perguntar como estamos vendo os próximos seis meses, não consigo te passar números exatos, pois tudo varia muito. Ainda assim, há uma evolução e acredito que grande parte dos negócios, se comparados a 2019, serão retomados em 2022. Cerca de 88% do que tivemos em 2019 teremos de volta no ano que vem. Não vamos ver isso em 2021 ainda. Vamos ter uma aceleração a partir de setembro e outubro, enquanto a vacinação ganha aceleração. Em São Paulo, por exemplo, 100% da população terá tomado as duas doses da vacina em setembro ou outubro. Isso significa pequenos e médios negócios voltando.


“Acreditamos que em 2023 voltaremos totalmente aos patamares de 2019 na América do Sul. Como no Brasil temos muitos hotéis econômicos e midscale, acredito que a recuperação será mais rápida.”

Thomas Dubaere, CEO da Accor para América do Sul


Você deve ter ouvido muito que o único segmento que pode voltar rapidamente é o lazer. No entanto, quando olhamos para outros setores, como o corporativo, temos que dividi-lo em três: o doméstico, o regional e o intercontinental. Esse último retornará mais tarde, pois tudo que demanda voos longos demorará mais a se recuperar. A vantagem que temos na América do Sul é que, se pegarmos no Brasil, 95% dos negócios são de lazer ou corporativo doméstico ou continental. Apenas uma pequena parte é intercontinental. Então, podemos dizer que esta pandemia vai nos impactar menos na recuperação, porque o mercado é regionalizado, no máximo dentro da América do Sul. Então, compartilhamos muitas informações com nossos parceiros e investidores. Acreditamos que em 2023 voltaremos totalmente aos patamares de 2019 na América do Sul. Como no Brasil temos muitos hotéis econômicos e midscale, acredito que a recuperação será mais rápida.

HN: Muitas redes hoteleiras estão entrando no mercado de short-term rental. No exterior, a Accor já possui uma plataforma voltada ao segmento. E no Brasil? Faz sentido investir no setor?

TD: Nós já estamos nesse mercado na Europa e, sim, faz sentido investir, mas ouso dizer que não será a nossa prioridade. O mercado reagiu à pandemia de uma maneira muito emocional, porque quando o hotel está vazio, nós olhamos para os investidores e procuramos planos. E alguns players reagiram como se tudo fosse mudar – e isso não é bom, porque não vai. Não acredito que será uma virada de 180 graus e Accor não vai fazer isso.

Nós temos 40 marcas em diferentes segmentos, estamos investindo em bandeiras de luxo e vamos entrar mais no segmento de resorts. Vamos ver em quais países conseguimos desenvolver projetos mantendo nossas marcas. Quando o Airbnb chegou, há alguns anos atrás, todos pensaram que seria o fim da hotelaria. Estudos em 2019 apontaram que, nos últimos 10 anos, os viajantes globais cresceram 4,4%. É um fato. A oferta de quarto de hotéis e do Airbnb apenas 2,2%. Esses viajantes estão crescendo, então estou feliz com o Airbnb e outras opções, pois trazem maior tráfego. É algo adicional, nada está sendo substituído.

(*) Crédito da foto: Vinicius Medeiros/Hotelier News