Um bom bourbon ao som de jazz faz parte dos prazeres da vida de Otto Nogami. Ou um churrasco com os amigos tocando The Beach Boys também pode ser uma boa pedida. Natural de São Paulo, casado, pai e maratonista, o professor do Insper (Insper Instituto de Ensino e Pesquisa) é um homem do mundo, tendo vivido no Japão e EUA.

“Tive a oportunidade de morar em Tóquio, Boston e Charlottesville. Minha vida foi assim, conhecendo diversos lugares, pessoas e culturas, algo que acredito que contribui muito na formação pessoal”, conta Nogami. “No Brasil, minha base sempre foi São Paulo, mas também morei em Passo Fundo e São Luís”, revela.

Graduado em Economia pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorado em Engenharia de Produção pela POLI-USP, além de mais uma série de cursos e formações, o professor acumula passagens por diversas empresas, instituições e setor público.

E não é apenas sua trajetória profissional que é extensa. Nogami também possui um amplo currículo como maratonista, tendo participado de circuitos em Berlim, Nova York, Chicago e Tóquio.

Três perguntas para: Otto Nogami

Hotelier News: Voltamos à normalidade e temos os dados macroeconômicos regendo a demanda hoteleira. Diante deste cenário e pensando no PIB, quais as perspectivas?

Otto Nogami: As perspectivas, especificamente falando de PIB, não são as mais alentadoras. Temos uma fragilidade estrutural muito grande que impede um ritmo de crescimento mais forte, em torno de 4% ou 4,5%, como é o caso da Índia, por exemplo. Dificilmente conseguimos mais que 1%, o que nos mostra um impeditivo grande que atrapalha essa boa performance da economia.

As sinalizações no fim do primeiro semestre indicam que a economia volta à normalidade, mas não uma normalidade desejável, de 2% ou 3,5%. Retornamos ao período anterior à pandemia, mas existem indicadores que nos apontam uma tendência interessante que é condicionante e retrata a possibilidade de um crescimento maior do que o projetado.

Sem dúvidas, há influência da política fiscal adotada pelo governo, com gastos no que diz respeito aos auxílios. Tudo isso são transferências que o governo faz para estimular o consumo, o que mexe com toda a economia. As projeções do governo indicam crescimento do PIB de 1,5%, mas fica em 1%, com eventual 1,2%, não mais que isso.

HN: Você acredita que a atual conjuntura se altera em 2023?

ON: Vai depender de quem governar. No caso de reeleição, será uma catástrofe, o governo vai amargar os problemas que ele mesmo criou. Na perspectiva de um governo diferente, há a necessidade de entender o que ele pretende em termos de estruturas econômicas. Como não temos clareza em relação ao futuro, fica difícil fazer um prognóstico. Dentro da normalidade, pode haver um leve movimento de alta, mas nada muito expressivo e significativo.

HN: E quanto ao setor de turismo e viagens, onde estão os principais gargalos e oportunidades:

ON: As oportunidades estão no potencial que o país tem em recursos naturais que poderiam ser explorados de melhor maneira pelo turismo. Contudo, o governo é o maior empecilho, pois não dá atenção ao setor e tampouco está preocupado em atrair o turista estrangeiro ou incentivar o brasileiro a circular pelo território.

No Japão, por exemplo, o governo criou macrorregiões e os produtos desenvolvidos em cada uma não podem circular pelo país todo. Ou seja, o produto X só pode ser encontrado naquela região, o que estimula as viagens. Em Tóquio, é comum encontrarmos marmitas, chamadas de bentô, em algumas estações de trem. Então, muitas famílias viajam para experimentar e, dependendo da atratividade local, passam a noite no destino.

Aqui, o governo deveria estimular e orientar a iniciativa privada em relação à estrutura hoteleira e de viagens.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Insper