Muito além de um job hunter, Márcio Moraes é também engajado em diferentes causas sociais e ambientais. Voluntário em três ONGs voltadas à preservação do meio ambientes, proteção animal, saúde pública e ouvinte de pessoas com necessidade de apoio emocional, o profissional ainda possui um blog que transparece as contas públicas de sua cidade natal, Porto Belo (SC).

Consultor de carreira da QI Profissional, Moraes atuou como professor universitário no Centro Universitário Senac, em Campos do Jordão, UNIP (Universidade Paulista) e UFMU (Universidade das Faculdades Metropolitanas Unidas) em disciplinas de Administração, Liderança e Negociação.

Como job hunter, o profissional assessora pessoas em busca de transição de carreira ou recolocação no mercado de trabalho. Entre suas principais expertises estão marketing, carreira e inventário de competências comportamentais.

“Acredito no crescimento do profissional despertando nele o reconhecimento dos seus talentos naturais e na busca por uma empresa que o valorize e respeite sua essência. Minha percepção é que seremos mais humanos quando aceitarmos as pessoas como elas são, porém o aceitar não significa aprovar. Posso aceitar uma opinião diferente da minha, mesmo que não a aprove”, comenta.

Diante do impacto causado pela pandemia no mercado de trabalho, Márcio Moraes falou sobre as perspectivas de recolocação no setor hoteleiro e áreas em destaque. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Três perguntas para: Márcio Moraes

Hotelier News:Como consultor de carreira, qual o movimento de contratações do mercado atualmente?

Márcio Moraes: É um momento de muitas dúvidas e incertezas, há profissionais em diferentes estágios. Aqueles que estão empregados e se esforçando para entregar resultados e se manter seguros. Outros, disponíveis no mercado, tentando encontrar essa segurança financeira. Hoje encontro muito mais profissionais em busca da recolocação do que de crescimento financeiro ou de cargo. As empresas, muitas com perfis de vagas bastante complexas e com salários bem abaixo do previsto, enfim, procurando o melhor com menor preço. Outras compreendendo que esse é o momento de encontrar os melhores profissionais, já que há muitos qualificados disponíveis no mercado, oferecendo uma cesta de benefícios atraentes, como por exemplo, plano de saúde para a família, ainda mais agora em que tal segurança tornou-se básica. A atratividade também seguirá quanto às condições que permita o crescimento profissional e salarial de acordo com a resposta de demanda para a empresa, no compasso que a companhia melhore suas condições financeiras, o profissional acompanhará em ganhos salariais.

HN: Com a segunda onda de um lado e a vacinação do outro, o que podemos esperar para 2021 do mercado de trabalho?

MM: A palavra é essa: esperar. Porque não está em nossas mãos a solução, se pensarmos no contexto da administração é uma invariável incontrolável. Tanto o problema como a solução estão nas mãos de pessoas que não temos controle diretamente. Essa retomada com abre e fecha nos deixa completamente inseguros, imagina os clientes. E se de um lado as empresas necessitam abrir, do outro os profissionais querem trabalhar. E nessa divisa está o descontrole no Brasil do Covid-19. Em todos os sentidos, a necessidade maior é a segurança. Vejo, que há profissionais muito preocupados com sustento da família, em todos os níveis hierárquicos, independente de padrão de vida, de acordo com a proposta, muitos se lançam a trabalhar, porém encontram ainda ambientes sem ou com pouco atendimento aos protocolos, assim como no relacionamento com clientes ainda despreparados para o atual convívio. O risco de vida existe e somente a vacina poderá nos colocar em plena segurança. Até lá ou após a vacinação, ainda temos como prognóstico a continuidade do aspecto segurança, sairá na frente a empresa que contenha em seu quadro profissionais qualificados quanto a mudança de comportamento.

Sendo assim, os profissionais com o objetivo de rapidamente se recolocar terão a tarefa de se adequar em passo acelerado, o atual momento de parada obrigatório deve servir justamente para também se apropriar dos novos conhecimentos pertinentes ao cargo e a convivência no trabalho. Há anos o mercado de hospitalidade tem no capital humano seu principal diferencial, a tarefa será na formação de cultura organizacional saudável, impactando, mais do que antes, a necessidade de parceria, de colaboração e empatia entre alta administração e demais colaboradores.

Um ponto que se destacará é a abertura de novas frentes de relacionamento. Milhões estão desempregados, muito facilmente o profissional qualificado poderá se esconder nesse número absurdo de pessoas sem emprego. Caberá a cada um aprender a conversar virtualmente com os empregadores, aqui incluo os tomadores de decisão final, não somente os recrutadores. E conversar significa o consentimento do outro em ouvir. Assim, as mensagens encaminhadas inbox, dependendo do contexto, poderão servir mais para incomodar o destinatário do que abrir um espaço apropriado para uma conversa.

Atualmente, os perfis foco, recrutadores e tomadores de decisão final, estão abarrotados de mensagens de pedido de emprego. O ponto principal será na conversa inteligente, abrindo espaços em aberturas feitas pelo perfil foco, como no caso de suas postagens e comentários. A inteligência se traduz com uma contribuição de conteúdo relevante e complementar ao tema principal. O desafio do profissional qualificado, desde já, é projetar uma imagem positiva, de reconhecimento quanto às suas competências. Essa formação de imagem se consegue de forma gradativa, vários comentários, postagens e compartilhamento de conteúdo próprio, ou seja, começa hoje sem prazo de término. A imagem positiva é alimentada constantemente. Sabemos que as melhores oportunidades, na sua maioria, são confidências, diante do número de currículos que um recrutador receberia ao abrir para o mercado uma vaga com salários, benefícios e estrutura de ação altamente vantajosos no atual cenário. Por isso, há preferência, antes de abrir a vaga, em localizar esse perfil singular no meio dessa multidão, os mais conhecidos e os mais próximos levarão vantagem. O profissional que começou desde cedo, saindo da passividade, onde o recrutador vê lá de longe uma grande seta apontando. Essa seta quem constrói é o próprio profissional com a sua rede de relacionamento, igualmente qualificada.

HN: Quais os principais setores da hotelaria com potencial de recontratação em um curto espaço de tempo?

MM: Muito depende do segmento de atuação, complexidade e tamanho do empreendimento. De forma geral, a contratação imediata de profissionais em áreas mais estratégicas de construção de novos produtos e serviços, para agradar um público sedento por novidades, continuando com a equipe que venderá esse novo conteúdo. E pessoas sabedoras de como projetar a empresa que preserva a vida de clientes e colaboradores.
No caso de hotel que atende o público de negócios, na sequência ao dito acima, dará mais importância a cargos de atendimento à distância, com a equipe de reservas, assumindo um outro compromisso de acolhimento, porque parte dos clientes terão muitas dúvidas e desconfianças antes de se hospedarem. Continuando nesse segmento, a base operacional, recepção e governança, assumirão um papel de igual destaque quanto a evidenciar a segurança dos hóspedes, porque serão os primeiros a serem notados. Esses todos os dias embalarão os produtos e serviços para que o cliente perceba as vantagens de comprar na sua empresa.

Aos empreendimentos que atendem o segmento de lazer, além dos estratégicos vistos acima, tudo dependerá do seu conceito, caso seja forte na área de lazer, obviamente esse será o foco maior de investir em profissionais qualificados rapidamente. Os empreendimentos que têm na gastronomia seu chamariz, terão que oferecer essa qualidade com maestria, padrão esse conquistado com profissionais qualificados. A busca será conquistar a confiança dos clientes, por mais que esse sentimento sempre foi importante, agora será régua de escolha já que o grau de exigência dos hóspedes será ainda maior, a partir daí virá a competitividade. Difícil generalizar, porque há ainda as diferenças de hotéis filiados a redes e independentes, cada um desses apresenta cultura organizacional diferente, muito provavelmente tem uma leitura muito particular quanto às prioridades na retomada. Agora, quanto a multifuncionalidade, esse será destaque, colocando a necessidade de contratar esse tipo de profissional para a empresa sobreviver nesses primeiros momentos. Muitas áreas, cabendo a terceirização, serão assim feitas. Como por exemplo, as limpezas, incluindo as camareiras, em que o número de colaboradores dependerá do fluxo de hóspedes, como serão altos e baixos, a contratação intermitente ou de terceiros será uma forma de diminuir a folha de pagamento. As empresas trabalharão com um orçamento muito enxuto, haverá espaços para investimentos considerados essenciais. Acredito que a rotatividade será grande caso as incertezas continuarem, como por parte dos profissionais qualificados que serão assediados positivamente por outras companhias mais preparadas.

Quanto ao profissional, terão que aproveitar as oportunidades, mesmo em pequena escala. E o aproveitar significa aceitar vagas para funções intermitentes também e com isso conseguirem mostrar suas competências na prática e objetivar a conquista de um cargo fixo, se esse for o caminho apresentado pela empresa e o interesse do profissional. Essa função intermitente também poderá proporcionar conquistas e será mais fácil assumir cargos até então pouco explorados pelo profissional, porém essa nova experiência poderá ocasionar uma mudança de área com a descoberta desse colaborador por um novo prazer de trabalhar. Haverão oportunidades que permitirão manter a faixa salarial ou até mesmo aumentar esse valor. Muitas empresas não poderão investir em altos salários, vários profissionais terão que diminuir sua expectativa e outros aproveitarão que tem um salário muito abaixo, porém apresentam competências quase semelhantes para avançar. Há casos em que a redefinição salarial com a diminuição em 30% é mais alta que a remuneração de outros candidatos qualificados para o mesmo cargo. Enfim, todos experimentaremos um novo cenário, aqueles profissionais cientes das suas competências saberão tomar decisões coerentes.

(*) Crédito da foto: arquivo pessoal