Desde 1987 atuando na hotelaria, Maarten Van Sluys tem a hospitalidade como amor antigo. Quando cursava jornalismo, o executivo e consultor hoteleiro já demonstrava paixão pela área. Em busca de um novo desafio profissional, como informa em seu LinkedIn, ele tem passagem de quatro anos pela Nobile Hotéis e também IHG (Intercontinental Hotel Group).

Nascido em Minas Gerais mas criado no Rio de Janeiro, o flamenguista Maarten Van Sluys, que se auto denomina cinéfilo e coleciona discos e CD’s, já morou por sete anos fora do país. Nesse período, passou por Alemanha, Suiça e Holanda, onde tem nacionalidade. Pai de três filhos, casado e fã de todos esportes, o profissional pratica tênis com os amigos em seu tempo livre.

Três perguntas para: Maarten Van Sluys

Hotelier News: A pandemia vem acelerando transformações na hotelaria e abrindo espaço para novos modelos de gestão. Na sua opinião, o que deve vir para ficar na indústria de hospedagem? Por que?

Maarten Van Sluys: Boa parte dos investimentos realizados na hotelaria brasileira nos últimos 30 anos se estabeleceram por meio da condo-hotelaria, na qual a viabilidade do negócio somente ocorreu com a pulverização do capital necessário entre pequenos, médios e grandes investidores. Essa situação exerce pressão adicional ao anseio de um rápido atingimento do ponto de equilíbrio do negócio, sob pena de se depender de aportes monetários. É preciso entender que esses investidores, por sua vez, tiveram sua renda pessoal em grande parte comprometida com a pandemia em seus mais variados negócios ou aplicações. Sustentar, portanto, uma operação deficitária por mais prolongada esteira de tempo se torna inviável, colocando a gestão do hotel em cheque. Neste contexto, é absolutamente previsível que inúmeros hotéis corporativos busquem alternativas imobiliárias de naturezas distintas, aproveitando, conforme cada caso, suas características estruturais para atender a outras demandas como offices, residencial com serviços on demand, melhor idade e assim por diante.

HN: Em termos de desenvolvimento, as conversões seguem como melhor alternativa de expansão para as redes. Agora, pensando na escolha dos hotéis independentes, o que eles devem avaliar para tomar uma decisão neste sentido?

MVS: Estão em curso atualmente fortes movimentações e análises de propostas nas duas vias. Primeiro, hotéis de rede buscando uma operação própria, em certos casos usando uma marca conhecida (soft brand) ou, em outra situação atual, criando sua própria nova identidade. Segundo, independentes, já sem fôlego financeiro, buscando potenciais redes interessadas, tanto as maiores já amplamente conhecidas dispostas a investir algum capital, bem como as médias e ainda as microredes que surgem a cada dia pelas mãos de até então executivos hoteleiros atuantes no mercado que estudam seus marketplaces potenciais e criam estruturas – quase sempre online – baseados em sua vivência hoteleira adquirida. O principal quesito a ser avaliado pelos proprietários deve ser o custo versus benefício da mudança. Avaliar se a nova proposta agregará valor ao ativo imobiliário e a qualidade da gestão, se possível em prazos contratuais curtos renováveis e com portas de saída. Não são somente as taxas menores cobradas que garantirão o êxito da mudança mesmo em tempos de crise.

HN: Para encerrar, é difícil não te perguntar sobre a situação atual da hotelaria em Minas Gerais. Como está tudo agora e quais as expectativas no curto, médio e longo prazo?

MVS: Minas Gerais vive um paradoxo interessante. Os recursos naturais do estado estão perfeitamente alinhados à percepção que temos do novo turismo que ganhará força motriz no pós-pandemia. São diversos os circuitos turísticos de contemplação e natureza, com recursos hídricos e ecológicos em todas as regiões. Nesse contexto, são muitos os estudos em curso para a expansão de parques temáticos aquáticos, melhora de infraestrutura de acessos e investimentos, em especial no conceito de multipropriedade nos destinos de lazer como opção de segunda moradia e possibilidade de rendimentos. De outro lado, temos o cenário das cidades nas quais o demanda é essencialmente corporativa, que apresenta retomada em ritmo lento e, portanto, gerando enormes preocupações. Considerando Belo Horizonte, por exemplo, o desequilíbrio é flagrante. São poucos os eventos, feiras e congressos agendados, muitas empresas reduziram o trabalho presencial de forma definitiva. A cidade precisará se reinventar para buscar novos atrativos até que, em futuro ainda não percebido, voltemos ao ponto de partida pré-pandemia. Hoje, a realidade são 6.6 mil empregos eliminados (55% do total) e operações reduzidas em praticamente todos os hotéis da cidade.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal