O bate-papo durou quase uma hora. E, ao longo da videoconferência, Laurent de Kousemaeker respondeu a inúmeras questões sobre a estratégia de desenvolvimento da Marriott International para o Brasil. Mais ainda, o executivo demonstrou um conhecimento bastante respeitável sobre as características do mercado brasileiro, entres elas a falta de financiamento de prateleira no sistema financeiro, além de apontar possíveis caminhos para acelerar a expansão por aqui.

“Há um cenário econômico desafiador no mundo todo e isso gera um ritmo mais lento de desenvolvimento de novos projetos hoteleiros. Normalmente, quando o panorama é esse, as conversões ganham relevância estratégica. A partir dessa perspectiva, soft brands são hoje foco de todas as cadeias hoteleiras, e para a Marriott não é diferente”, revela Kousemaeker, atual Chief Development Officer da Marriott para América Latina e Caribe.

A conversa completa com o executivo, que atua na rede norte-americana há 16 anos, será publicada ainda esta semana pelo Hotelier News. Segue agora uma pequena parte da entrevista, que rendeu um bom Três perguntas para. Boa leitura!

Três perguntas para: Laurent de Kousemaeker

Hotelier News: Na América do Sul, e no Brasil, Accor está muito bem posicionada. Ao mesmo tempo, a contribuição de receita da região para o faturamento total da companhia é comparativamente pequeno se comparado a outros mercados. Para a Marriott, essa contribuição deve ser ainda menor. Então, o fato da América do Sul ser um mercado relativamente pequeno em nível global é a razão que mantém a empresa longe daqui? Ou o motivo está mais ligado ao bom conhecimento do mercado, dos players existentes e da maneira de se fazer negócios na região, algo que a Accor aparentemente já aprendeu? Ou, mais ainda, são todas essas razões juntas?

Laurent de Kousemaeker: Accor é um empresa muito boa. Agora, se quiser fazer uma distinção entre Marriott e eles, é preciso analisar dois fatores. O primeiro é história. Se não estou engando, a Accor está no Brasil desde os anos 1970 e até questionaria, diante disso, se são de fato consideradas uma multinacional no país ou uma empresa nacional. A Marriott, por exemplo, estreou no país no final dos anos 1990, com o Renaissance São Paulo. Então, tempo é uma questão relevante aqui. Outro ponto importante é que se analisarmos para o grosso da oferta hoteleira no Brasil, cerca de 80% estão nos segmentos econômicos e midscale. A Marriott não opera nesses segmentos. Nossa marca de “entrada” é a Fairfield, que se posiciona um pouco acima do midscale. Não temos, por exemplo, uma badeira comparável a ibis. Se não estou enganado, e olhando números recentes, algo próximo a 70% das unidades da Accor no país são da bandeira ibis e parte significativa do pipeline também é dessa bandeira. Então, em cima disso, pode-se dizer que uma parcela representativa do mercado brasileirto hoteleiro está simplesmente fora do nosso alcance, de acordo com nosso portfólio atual de bandeiras. Normalmente, operamos – e temos maior competitividade – no segmento upscale para cima. Temos dois hotéis nessa segmentação no pipeline do Brasil (W Gramado e W São Paulo) e essa é, de fato, a fatia de mercado no qual atuamos melhor. Então, respondendo à pergunta, chegamos depois e estamos melhor posicionados em segmentos que têm uma representatividade menor do mercado brasileiro.

HN: Em cima do cenário atual de performance com indicações ruins em toda indústria hoteleira, qual a melhor estratégia de expansão no Brasil? Franquias e soft brands?

LK: Antes de responder, é importante das um passos atrás. Há um cenário econômico desafiador no mundo todo e isso gera um ritmo mais lento de desenvolvimento de novos projetos hoteleiros. Normalmente, quando o panorama é esse, as conversões ganham relevância estratégica. A partir dessa perspectiva, soft brands são hoje foco de todas as cadeias hoteleiras, e para a Marriott não é diferente. Mais ainda, penso que estamos bem posicionados nesse segmento, porque nos últimos anos elevamos o número de soft brands no portfólio com a aquisição da Starwood, por exemplo. Temos um bom espectro de marcas para atrair hotéis independentes para nosso ecossistema, casos de Luxury Collection, Autograph Colletcion e Tribute. Temos ainda a Delta Hotels by Marriott, uma bandeira full-service que adquirimos no Canadá, vem crescendo bastante e que ainda não está na nossa região. Então, acho que, diante das características atuais do mercado, soft brands fazem todo sentido, e estamos bem posicionados para atrair empreendimentos e continuar crescendo, ofertando uma relação custo-benefício boa para os proprietários.

HN: Ainda assim, estabelecer parcerias com alguns franqueados é uma possibilidade para o mercado brasileiro? Mais ainda, seria essa a melhor opção para expandir em países com as características do Brasil?

LK: Com certeza estamos abertos a essa possibilidade. Na verdade, isso vale também para contratos de gestão. Somos um pouco agnósticos neste sentido, não temos preferência por algum tipo de modelo específico. São oportunidades distinas, que dependerão sempre de quem é a outra parte envolvida. Se é um investidor institucional, que visa apenas ao retorno do investimento e não tem experiência de administração, naturalmente buscarão um acordo de gestão. Na outra ponta, se for um operador como a Hotéis Deville, que faz a gestão de um dos nossos hotéis no Brasil e administra outras unidades no país, faz sentido franquear. Então, como disse, não temos preferência e podemos crescer com ambos. A questão é mesmo saber quem é a contraparte. Agora, se você está dizendo que franquias é são uma boa forma de expandir, isso estaria intimamente ligado ao crescimento do número de operadoras que usam marcas franqueadas no Brasil. Numa comparação com os Estados Unidos, administrávamos muitos hotéis no passado. No entanto, várias operadoras surgiram no mercado e se tornaram empresas gigantescas, com grande expertise de gestão e, naturalmente, passamos a fazer mais contratos de franquia. Então, diria que está muito mais ligado à maneira como o mercado brasileiro vai se desenvolver do que qualquer outra coisa, mas, sim e respondendo à pergunta, estamos abertos a franquear nossas marcas para múltiplos hotéis no Brasil.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Marriott International