Três perguntas para - Júlio Soares_internaSoares tem 9 anos de hotelaria e ingressou no Les Clefs D’or Bresil em 2018

Em outro momento da vida, Júlio Soares poderia escrever essas palavras. Quis o destino e a indústria de viagens que ele trilhasse outro caminho pessoal e profissional. Formado em Comunicação Social, ele buscou durante quatro anos vagas na área de jornalismo. Mesmo fluente em dois idiomas, acabou indo parar no Porto de Santos (SP), atuando no terminal de passageiros Giusfredo Santini como carregador de bagagens. Começava ali uma jornada que mudaria sua vida e o faria encontrar a profissão perfeita.

“Trabalhei durante cinco temporadas no terminal, quatro como carregador de bagagens e, na última, vendia passeios e serviços de transporte para os aeroportos aos passageiros”, relembra Soares, atualmente concierge do Sofitel Jequitimar, localizado na vizinha Guarujá (SP). Membro do Les Clefs D’or Bresil desde 2018, ele ainda estudou e se dedicou bastante até chegar ao momento profissional atual.

Com Soares, o Hotelier News abre uma pequena (mas justa) homenagem a esses personagens que representam o mais genuíno espírito da hospitalidade nos hotéis mundo afora. Decidimos transformar o Dia do Concierge em uma semana consagrada a eles. Dessa forma, todos os Três perguntas para até sexta-feira (4) serão com profissionais da área. “Tenha muita curiosidade e gosto por história para saber sobre a cidade e região com riqueza de detalhes”, recomenda Soares para quem ainda deseja ingressar na mesma atividade.

Três perguntas para: Júlio Soares

Hotelier News: Com o novo normal, você entende que a função de concierge pode mudar? Se sim, de que maneira?
 
Júlio Soares:
Durante o período de 90 dias de distanciamento social e suspensão das atividades, estamos participando junto a Les Clefs D’Or de vários treinamentos e discussões online. Nessas sessões, recebemos muitos depoimentos de concierges de outras partes do mundo que já estão passando pela reabertura das unidades e nos passaram um pouco do que estão vivenciando. E, de fato, a função de concierge está passando por muitas mudanças.
 
O turismo local, como já havia sido previsto, está mais forte e os concierges estão tendo de lidar com três tipos diferentes de clientes: os que se preocupam em demasia com a pandemia e com o vírus e não permitem, por exemplo, a limpeza do apartamento para que não haja possibilidade de contaminação; os que se preocupam, mas estão um pouco mais tranquilos e acreditam nos protocolos já implantados; e os que não acreditam em nada e se comportam como antes de passarmos pela pandemia.
 
Com essas mudanças de comportamento, as principais demandas no balcão estão sendo, por exemplo, busca por bares e restaurantes que estão funcionando e se há segurança sanitária nesses estabelecimentos. Há também muitas perguntas sobre os protocolos implementados nos hotéis. Diante disso tudo, acredito que o concierge está sendo o porto seguro para o hóspede dentro e fora da propriedade.

HN: Na sua avaliação, qual o tamanho do desafio operacional para a hotelaria no pós-pandemia? O que será mais importante na retomada?

JS: Baseado nos treinamentos mencionados na pergunta anterior, os desafios operacionais são a adequação da tecnologia para mitigar o contato do cliente com superfícies, como, por exemplo, a substituição dos cartões magnéticos ou menus por QR Codes. Outro desafio será o equilíbrio entre a tecnologia e a essência do trabalho da hotelaria, que é o calor humano. Temos que nos preparar para continuar a oferecer a melhor experiência sem nos tornarmos frios. A era do pós-pandemia na hotelaria será marcada por uma hiper personalização, com serviços cada vez mais de acordo com as preferências dos clientes.
 
HN: Para um profissional de hotelaria iniciante interessado em atuar como concierge, o que recomendaria?
 
JS:
Tenha muita curiosidade e gosto por história para saber sobre a cidade e região com riqueza de detalhes. Visitar todos os pontos turísticos, se possível com guias ou monitores dos equipamentos, para aprender sobre o local. Outra recomendação seria também gostar do relacionamento humano, pois, para conseguir realizar suas funções com excelência, o concierge deve ter muitos contatos de fornecedores e prestadores de serviços, e esses contatos devem ser cultivados como amigos. É como diz o ditado: quem tem amigos tem tudo! Por último, um conselho mais voltado para os dias atuais seria o de evitar dar opiniões sem embasamento nas redes sociais. Se você comenta o tempo inteiro nestes canais, acaba virando um hábito que extravasa para o mundo real. Um concierge nunca deve dar opinião ou julgar os pedidos que seus clientes fazem.

(*) Crédito das fotos: Arquivo pessoal